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As pessoas querem um mundo melhor já, e não no futuro, que, aliás, pode ser pior — dada a ingente questão climática. A possibilidade de um apocalipse não é mais do terreno religioso, e sim um fenômeno da natureza, mas provocado pelos seres humanos, com suas tecnologias poluentes e ocupação massiva dos espaços na Terra.

Há discussões que nem são levadas em conta, mas deveriam, como a quantidade de seres humanos na Terra. Como reduzir o desmatamento com a exigência por mais alimentos e produtos para garantir o conforto dos 8 bilhões de indivíduos que vestem roupas, calçam sapatos, se locomovem em automóveis e comem várias vezes ao dia? Muito difícil.

O cientista brasileiro Carlos Nobre tem dito, com frequência, que não basta mais parar o desmatamento da Amazônia. É preciso iniciar — ou aumentar — o plantio de árvores com urgência. É possível? Se o paulistano Hélio da Silva plantou mais de 41 mil árvores, em duas décadas e com escassos recursos, por que as potências globais, com recursos infinitos, não podem reerguer a Amazônia em 20 ou 30 anos? Certo, não é fácil. Mas não é impossível.

1 bilhão de euros para florestas tropicais

Embora tenha criticado Belém, gerando polêmica tão desmedida quanto inútil, o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, fez a sua parte. O país de Goethe — que tinha interesse no Brasil — decidiu aportar 1 bilhão de euros para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre.

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Friedrich Merz: criticou Belém e ofertou dinheiro para preservar a Amazônia | Foto: Reprodução

Remunerar a manutenção das florestas de pé é um dos caminhos para preservá-las e, portanto, reduzir o impacto da crise climática.

O Fundo Florestas Tropicais para Sempre tende a receber mais de 6,5 bilhões de dólares. O objetivo é mais amplo. O que se quer é captar 25 bilhões de dólares do setor público, o que, junto com o investimento privado, resultaria em 125 bilhões de dólares para serem utilizados na preservação das matas.

A respeito da 30ª Conferência das Partes da ONU sobre mudança climática, realizada em Belém, há entusiastas e pessimistas. Mas já é um grande avanço o fato de vários países enviarem seus representantes para discutir as questões da adaptação climática, transição justa e o desenvolvimento de um mapa do caminho para reduzir o consumo de combustíveis fósseis.

Já desenvolvida, e seguindo novos caminhos, a Europa pressiona fortemente pela redução (e, a longo prazo, paralisação) do uso de combustíveis fósseis. Mas outros países, como os árabes —grandes produtores de petróleo — e a Índia, são contrários. Porque, de alguma maneira, “quebrariam” suas economias.

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Ma Jun, ativista chinês: é preciso apostar nas energias renováveis | Foto: Divulgação

Mas os árabes, como os sauditas, podem, por outro lado, investir mais dinheiro na recuperação das florestas. Porque, apesar das pressões globais, não vão deixar de extrair e vender petróleo por muito anos.

O que os países contrários ao uso de petróleo, ao menos de maneira massiva, devem fazer? Deixar de comprá-lo, substituindo-o por novas fontes enérgicas. Trata-se da melhor forma de pressionar árabes, venezuelanos, americanos do norte, russos e, sim, brasileiros — grandes produtores de petróleo.

O presidente Lula da Silva, que pressiona pela redução dos combustíveis fósseis, incentiva, neste momento, a produção de mais petróleo no Brasil. Não se trata de nenhum dragão da maldade, de ser antiambientalista. Na verdade, realista, o petista-chefe segue a lógica do mercado. Petróleo é um dos produtos mais rentáveis da economia global e não vai deixar de ser por vários anos. É o que move o mundo.

Usar energia renovável é uma forma de pressão

O repórter Marcelo Ninio, de “O Globo”, publicou na sexta-feira, 21, uma interessante entrevista com o ativista ambiental chinês Ma Jun, criador do Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais, em Pequim.

Faltou à COP30, de acordo com Ma Jun, uma discussão mais ampla sobre o uso de energias renováveis.

Para o chinês, a COP30 não foi um fracasso. Porque escancarou ao mundo o que é a Amazônia — agora vista de perto (meio assustadora para o chanceler alemão) com suas virtudes e problemas. Trata-se, enfatiza, “da floresta com a maior biodiversidade do mundo”.

Carlos Nobre, cientista: não basta parar o desmatamento; é preciso reflorestar | Foto: Reprodução

Ma Jun lamenta a resistência de alguns países “em aprovar o plano de ‘phase out’, a eliminação gradual do uso de combustíveis fósseis”. Mas insiste que é preciso avançar no debate do desenvolvimento de energias alternativas. A pauta negativa pode empurrar adiante a positiva.

O ar de Pequim era um dos piores do mundo. Em dez anos, com adoção de veículos elétricos, o quadro melhorou de maneira ampla.

“O uso de combustíveis fósseis é um problema não apenas pelas emissões de carbono, mas também pela poluição do ar. Mas é preciso alinhar isso com outras ações climáticas, com a expansão de energia verde e o desenvolvimento socioeconômico de alta qualidade”, sugere Ma Jun.

A COP de Belém poderia ter discutido, de maneira mais acentuada, as saídas positivas, que já estão em prática, para tentar reduzir o impacto da crise climática. A rigor, para reduzir os problemas climáticos. As energias alternativas não são propostas “cosméticas” e, a médio e longo prazo, podem pressionar os produtores de petróleo.

A indústria automobilística dos Estados Unidos, largamente ancorada no petróleo, já sentiu o impacto da superprodução de veículos elétricos fabricados pela China. A pressão é tanto indireta quanto direta na questão do uso de energia renovável. Por isso os americanos, para se manterem competitivos, também estão fabricando veículos elétricos e híbridos.

A China é um país altamente poluente, assim como os Estados Unidos, pois são duas nações com grandes parques industriais. Mas, sublinha Ma Jun, há dados positivos na China. “Nenhum país chega sequer perto da escala com que o país investe, produz e instala fontes de energia renovável. Em 2024, o volume de instalações de energia eólica e solar em construção foi duas vezes maior que o do resto do mundo, levando o país a uma capacidade instalada de 1.200 GW, seis anos antes da meta estabelecida pelo governo. A penetração da energia renovável na China está ocorrendo ‘numa escala sem precedentes’.”

Ao contrário da Alemanha e de outros países, como Noruega, a China decidiu não investir no Fundo de Florestas Tropicais para Sempre. Ma Jun acredita que, no futuro, a China possivelmente irá contribuir. Por outro lado, a China, frisa o ativista ambiental, “concedeu bilhões em financiamento para ajudar a transição energética e a descarbonização em países em desenvolvimento”.

O fato é que se quer resolver problemas graves, expandidos durante séculos, com uma tacada salvadora. O que não vai ocorrer. Mas a COP30, como outros eventos, mostra que há muita gente — dos países ricos aos pobres — preocupada em resolvê-los. O mundo vai ficar mais quente, já está ficando, e, assim, homens e mulheres, dos poderosos aos humildes, terão que tomar suas decisões.

As ações para melhorar o mundo devem ser feitas pelas autoridades globais. Mas cada humano, com sua cota de “sacrifício” — como a compostagem de seu lixo doméstico ou o plantio de árvores em seus lotes —, pode ajudar o mundo a se tornar menos ruim.