Não é Caio Coppolla que derruba seus oponentes. Eles é que, na verdade, não entendem que o jornalismo se tornou espetáculo

A CNN Brasil nasceu para competir com a GloboNews, do Grupo Globo. Mas, muito nova no mercado, ainda não compete com o jornalismo experimentado da Globo. Entretanto, aqui e ali, consegue furar a concorrente gigante. Trata-se de uma rede bolsonarista? Talvez não. As redes de televisão no Brasil, inclusive a Globo, sempre foram o sorriso do governo e a cárie da sociedade. O fato é que, sem resistência (ou com menos resistência) no governo de Jair Bolsonaro, os jornalistas da CNN Brasil têm mais acesso a ministros e, portanto, a informações exclusivas.

Marcelo Feller. e Caio Coppolla: jornalismo como espetáculo | Foto: Reprodução

Um dos programas de sucesso da CNN Brasil é “O Grande Debate”. O público parece apreciar as discussões, às vezes exacerbadas, que, de alguma maneira, transformam jornalismo em espetáculo. O principal protagonista é Caio Coppolla, que a esquerda odeia e a direita ama. Ele é criticado por ser posicionado, por não ficar em cima do muro, afetando uma isenção que, no fundo, ninguém tem. Fala-se que leva um “banho” dos parceiros, adversários, por ter menos conhecimento de Direito. O público talvez tenha uma opinião diferente. Pelo menos parte do público.

De fato, os especialistas que participam ou participaram do programa têm, no geral, mais conhecimento que Caio Coppolla. Mas mesmo especialistas numa área podem apresentar ideias insuficientes — e até equivocadas — em outras áreas. O que cobram do jovem debatedor é que “pense à esquerda”, e não “à direita”, como prefere.

“O Grande Debate” faz parte da onda que caracteriza o jornalismo como “espetáculo”, como “entretenimento”. O que se aprecia aí é o bate-boca pelo bate-boca, a lavagem de roupa suja — de tudo e de todos — em público. Os participantes do programa devem entender que estão participando de um show. Sério? Por vezes, mas sempre um show.

Bruno Salles, Monalisa Perrone e Caio Coppolla | Foto: Reprodução

Gabriela Prioli e Augusto de Arruda Botelho nada têm de ingênuos e, por isso, sabiam que, apresentados como competidores de Caio Coppolla, estavam ali para um show, para entreter. Não para refinados debates intelectuais, para defesas de dissertações de mestrado e teses de doutorado. Mas não há a menor dúvida de que, mais do que os dois, Caio Coppolla percebe, com nitidez, qual é a sua parte no espetáculo. É um ator, como a dupla que saiu. Gabriela Prioli participará de um programa com Leandro Karnal, o filósofo-historiador-guru — uma espécie de intelectual-show.

Agora, caiu mais um dos debatedores de “O Grande Debate”, o advogado Marcelo Feller. Assume seu lugar Bruno Salles, mestre em Direito pela Universidade de São Paulo. Se não entender a “graça” do show, que é debater ideias contrárias sem muita profundidade, será o próximo a cair. Por sinal, até as quedas, supostas “grandes crises”, fazem parte do espetáculo, pois ganham, inclusive, espaço destacado na imprensa — atraindo mais atenção tanto para programa quanto para a CNN Brasil.

Não é Caio Coppolla que derruba seus oponentes. Eles, na verdade, caem sozinhos. O motivo é o mais prosaico do mundo: entram num jogo sem entendê-lo direito.