Christopher Lee era o Marlon Brando dos filmes de vampiro. É uma lenda do terror

11 junho 2015 às 11h07
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O ator britânico se tornou mais conhecido, nos últimos anos, devido à franquia “O Senhor dos Anéis”. Fez um vilão excepcional lutando contra James Bond
Filme de vampiro sem sir Christopher Lee é como retirar Marlon Brando e Al Pacino da película “O Poderoso Chefão”. Ele brilhou — sim, brilhou, pois era bom ator, apesar da cara de canastrão — nas fitas “Vampiro da Noite” (interpretou o Conde Drácula, contracenando com seu amigo Peter Cushing), “Drácula, o Vampiro do Sexo” (1963), “Drácula, o Príncipe das Trevas” (1966), “Drácula, o Perfil do Diabo” (1968) e “Drácula, Pai e Filho” (1976). Drácula, responsável por seu imenso sucesso, se tornou sua segunda pele. Mas Lee queria se livrar da imagem de sr. Drácula, que, de certo modo, havia se apossado de sua “alma” de ator. Numa entrevista ao “Telegraph”, em 2011, vociferou: “Por favor, não me descreva como uma ‘lenda do terror’. Já passei dessa fase”. Passou mesmo, é certo, dados outros filmes de outro naipe. Mas vai ficar mesmo é como uma “lenda do terror” e o melhor Drácula da história do cinema. Lee morreu no domingo, 7, em decorrência de problemas respiratórios e insuficiência cardíaca, aos 93 anos, em Londres.
Nos últimos anos, ao menos para o público mais jovem, Lee se tornou mais conhecido pela franquia arrasa-quarteirão “O Senhor dos Anéis”, na qual faz o mago-vilão Saruman, enfrentando o ex-parceiro Gandalf. Em “007 Contra o Homem Com a Pistola de Ouro”, de 1974, fez Scaramanga, um vilão convincente, à altura do personagem principal. Como Conde Dookan, é um dos astros de “Star Wars: Episódio II — Ataque dos Clones” e “Star Wars: Episódio III — A Vingança dos Sith”.
No romance “Homem Comum”, o escritor americano Philip Roth sugere que “a velhice é um massacre”. Dói aqui, dói acolá, dói em todo lugar — eis uma síntese, com versos ruins, do que é o encanecimento de um homem. Pois Lee pensava diferente, não se acomodava e nunca se aposentou. “Eu odeio ficar ocioso. Como meu querido Boris [Karloff] costumava dizer, quando eu morrer, quero morrer com minhas botas”, disse ao receber uma homenagem.
Fã ardoroso de heavy metal (se é que dá para entender o que é heavy metal), lançou o EP “Metal Knight”, com a banda italiana Rhapsody of Fire”, para comemorar seus 92 anos. Gravou “My Way”, obra-prima na voz do cantor americano Frank Sinatra, como metaleiro (https://www.youtube.com/watch?v=305viYB-G1U). Lee gravou quatro álbuns e três EPs. Tinha uma voz bonita, mais próxima dos cantores líricos do que das estrelas do heavy metal. A música — o estilo pesadão —, feita ao lado de jovens, certamente o remoçava.
O olhar sexy
Comentário do jornalista e crítico de música Welliton Carlos: “Lee tirou de Bela Lugosi seu estilo. Introduziu o olhar sexy. Lugosi tinha um olhar de psicopata. E depois de Lee o vampiro era algo realmente sobrenatural. Em Murnau era monstro e feio. Lee o oposto. Os que vieram depois não conseguem superá-lo”.