Demitido da Jovem Pan, o ex-BBB garante que não é pró-nazista, e talvez não seja mesmo. Mas não se perdoa quem flerta com o monstro gestado por Hitler

O nazismo de Adolf Hitler, líder da Alemanha entre 1933 e 1945, lutou, com unhas, dentes, armas e preconceitos (arma de destruição das mais perigosas), para cancelar a democracia na Europa. De 1939 a 1945, depois de várias batalhas, o saldo foram 50 milhões de mortes (há quem postule que a estatística pode ser maior — até 80 milhões). Nos seus campos de extermínio — vale ressaltar que se matava também nos campos de concentração —, milhões assassinados, entre eles 6 milhões de judeus (frise-se: vários reagiram, bravamente, e foram massacrados). Nazistas mataram ciganos, homossexuais e testemunhas de Jeová (eram resistentes bravios). Nazistas mataram democratas, comunistas e milhares que nem estavam envolvidos diretamente na guerra. Nas frentes de batalha, eram cruéis com os soldados capturados.

Adrilles Jorge: demitido da Jovem Pan por “brincar” com inominável | Foto: Reprodução

O nazismo, que gerou a maior batalha do século 20, não tem perdão (e, como seus cerca de 100 milhões de mortos, o comunismo da União Soviética, da China e do Camboja não tem perdão. Porém, sem o apoio da URSS de Stálin, os Aliados poderiam ter vencido os soldados de Hitler? Sim, mas com mais perdas humanas). Os nazistas, portanto, não têm legitimidade para constituírem um partido (ao contrário do que sugere Bruno “Monark” Aiub). Porque, se os neonazistas não refutam as ideias de Hitler — pelo contrário, acham-nas positivas —, é óbvio que, se tiveram espaço no sistema político democrático, vão tentar readotá-las, ou seja, vão, mais uma vez, tentar cancelar a democracia.

Sobreviventes de Auschwitz, um dos mais letais campos de extermínio dos nazistas  | Foto: Reprodução

Liberais verdadeiros — e mesmo conservadores pró-civilização (da estirpe de Winston Churchill e Franklin D. Roosevelt) — não flertam com o nazismo. Nem por entusiasmo, nem por brincadeira. Na Alemanha, ao flertar com o nazismo, alguns políticos, do nível de Paul von Hindemburgo, acabaram por lhe “entregar” (sim, não houve golpe de Estado) o poder de mão-beijada. Logo em seguida, o cabo da Primeira Guerra Mundial, com seu discurso melífluo mas letal, instaurou uma ditadura cruenta, perseguindo (e matando) todos aqueles que se colocavam em seu caminho.

Quem brinca com o nazismo, relativizando seus malfeitos, acaba por, direta ou indiretamente, endossar o totalitarismo

No Brasil, onde até Lula da Silva já disse “admirar” Hitler — o que não significa que defenda ideias nazistas (o petista-chefe é um socialdemocrata, de esquerda, mas não comunista) —, há uma direita não liberal, quiçá de extrema-direita, que está se tornando apologista de Hitler. Porque quem brinca com o nazismo, relativizando seus malfeitos — e comparando-os com os dos comunistas —, acaba por, direta ou indiretamente, endossar o totalitarismo.

Benito Mussolini e Adolf Hitler: os ditadores que promoveram a Segunda Guerra Mundial | Foto: Reprodução

O flerte com o nazismo, enfatizo, nunca acaba bem e é altamente contaminante. Depois do flerte, não adianta pedir desculpas.

Na quarta-feira, 9, a Jovem Pan, emissora conservadora, porém não nazista, demitiu Adrilles Jorge. Porque, ao terminar o programa “Opinião” na terça-feira, 8, fez uma saudação apontada como nazista. Adrilles Jorge nega que seja nazista, pró-nazista, e é provável que não seja mesmo. Mas, com o gesto, aparentemente flertou com o nazismo.

Adrilles Jorge está se explicando nas redes sociais, assim como Bruno “Monark” Aiub, mas conseguirá convencer alguém de que não fez um gesto nazista? Provavelmente não. A democracia não perdoa os que flertam com o nazismo — nem que seja por brincadeira ou infantilismo ideológico.