3 livros chaves pra entender a Rota da Seda, a Nova Rota da Seda, a força da China e a ira de Trump

16 julho 2025 às 13h02

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A Rota da Seda é uma conexão tanto econômica quanto cultural. De antes do nascimento de Jesus Cristo. E ela está de volta, agora chamada de Nova Rota da Seda. A rigor, favorece vários países. Porém, na visão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fortalece sobretudo a China — daí a guerra do tarifaço, que é não particular, e sim de um império, o americano, contra os aliados do país de Xi Jinping.
A Nova Rota da Seda não exclui os Estados Unidos, porque isto não é possível, mas pode colaborar para, a curto ou médio prazo, reduzir a força econômica do país gerido por Donald Trump. Os Estados Unidos acordaram para a questão. Daí o tarifaço e outras ameaças.
Pode-se falar em eterno retorno em termos de história? No caso da Nova Rota da Seda, talvez sim.
1
O Coração do Mundo — Peter Frankopan
O título completo do livro é “O Coração do Mundo — Uma Nova História Universal a Partir da Rota da Seda: O Encontro do Oriente com o Ocidente” (Crítica, 687 páginas, tradução de Luis Reys Gil), de Peter Frankopan, professor de Oxford.
A obra de Peter Frankopan é excelente. Uma bíblia a respeito do assunto e a mais alentada em português.
O nome Rota da Seda foi dado pelo geólogo alemão Ferdinand von Richthofen.
O autor mostra como foi criada a Rota da Seda. É uma história extraordinária. Porque o mundo antigo — antiquíssimo — era rico e de cultura refinada. O que, mais tarde, o Ocidente procurou apagar, para se tornar o “melhor” lugar do mundo. O berço da civilização está no Oriente, ou melhor, na Ásia e na África.
2
A Sombra da Rota da Seda — Colin Thubron
O autor conta, com mestria literária e rigor histórico, a história do maior eixo comercial do Mundo Antigo. Tal eixo conectava o Oriente à Europa. “De ônibus, caminhão, carro, carroça e camelo, Thubrom cruzou mais de 11 mil quilômetros do coração da China — iniciando seu trajeto na cidade de Xian, região tida como o berço da seda — até as montanhas da Ásia Central, passando pelo norte do Afeganistão e pelas planícies do Irã até chegar à Turquia, por esta que foi a maior série de rotas percorridas pelo homem.”
“Percorrer a Rota da Seda é traçar um mapa não só econômico, que mostra a ascensão da China como única produtora e fornecedora de seda, mas também um mapa cultural, que reflete a história dos povos que habitavam esses territórios. Além de mercadorias como tecidos, papel e especiarias, as caravanas que percorriam a Rota transportavam ideias e conhecimento. Foi essa miscelânea entre Ocidente e Oriente que possibilitou que invenções como a impressão e a pólvora percorressem o mundo.”
O livro foi publicado pela Editora L&PM, traduzido por Otávio Albuquerque e conta com 407 páginas.
3
Rota da Seda — Otávio Luiz Pinto
O livro “Rota da Seda” (Contexto, 126 páginas), do historiador brasileiro Otávio Luiz Pinto, não é alentado. Ainda assim, é uma obra esclarecedora a respeito do assunto. Vale, ao interessado pelo assunto, começar por este livrinho que, finda a leitura, se revela um livrão.
Otávio Luiz assinala: “Há mais de 2 mil anos, a China deu início a um movimento de integração regional que culminaria em um amplo sistema econômico, cultural e histórico envolvendo a Ásia, a Europa e a África conhecido como Rota da Seda”.
“A Rota da Seda” é “um conjunto de estradas e trajetos comerciais abertos pela China entre o leste asiático e o mar Meditterâneo, e que, entre os séculos III a. C. e XVI d. C. , atravessava oásis, desertos e montanhas para que produtos exóticos e bens de luxo pudessem chegar a grandes cidades, como Chang’an, Bagdá, Alexandria ou Roma”, assinala Otávio Luiz.
Houve outras rotas? Sim. Mas Otávio Luiz frisa que a Rota da Seda “foi talvez a mais significativa justamente por sua capacidade de integração cultural”.
Otávio Luiz comenta também a respeito da Nova Rota da Seda (ou Iniciativa Cinturão e Rota), “um projeto desvelado pelo presidente chinês Xi Jinping em 2013 que consiste em um massivo investimento em integração econômica e infraestrutura, o qual, desde 2018, compreende também a América Latina: a ‘Nova Rota da Seda’ é, acima de tudo, o estabelecimento de uma grande zona de influência mundial e envolve diretamente o Brasil”.
Otávio Luiz Pinto é professor de História da África no Departamento de História da Universidade Federal do Paraná, com doutorado pela Universidade de Leeds, na Inglaterra