COMPARTILHAR

O Mapa da Capitania de Goyaz, analisado por Isa Adonias em 1963 como feito por Tossi Colombina e discutido por Paulo Bertran e outros, como sendo de autoria de Ângelo dos Santos Cardoso, constitui-se num exemplar manuscrito aquarelado, que consta nos arquivos da Diretoria do Serviço Geográfico do Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro, com destaque também para um outro provável exemplar, pertencente ao arquivo público do Estado de Minas Gerais. É um documento de valor imensurável para a Geografia de Goiás e merece análise acurada pelos pontos marcantes que descreveu nos distantes anos dos setecentos.

O Mapa abrange, com detalhes, o curso do Amazonas desde a Ilha de Joannes, até o rio Madeira que a limita a oeste. Já a oriente, acompanha todo o curso do Rio Tocantins, ali apresentado como muito desviado para o leste, principalmente no curso superior. Mostra toda a Bacia do rio Paraná, desde 25° de latitude S. até a costa da cidade de Santos, no Estado de São Paulo. Ao sul e ao oeste, mostra o curso superior do Paraguai, até as suas conexões com o rio Guaporé, conforme destacou Isa Adonias.

O Mapa apresenta, com riqueza de detalhes, a rede hidrográfica, com minuciosas nomenclaturas que atestam a preocupação do seu autor em mostrar todas as particularidades do território recém- ocupado. Já em traços mais marcantes, aparecem as divisas da Capitania de Goiás, que, imediatamente, o Conde dos Arcos buscou fazer valer, evitando rixas de jurisdição com as Capitanias vizinhas.

A partir do Mapa, não havia mais pontos obscuros no largo território goiano, ao se colocar em evidência as suas divisas ao sul com o Rio Grande, da parte leste, o local onde partiam os governos de São Paulo e Minas; na parte Norte, onde partiam os governos de São Paulo com os de Pernambuco e Maranhão, tal divisão foi reafirmada pela Provisão de 02 de agosto de 1848.

A única divisa mais obscura foi com o Estado de Mato Grosso, que seguia pelo Rio das Mortes, confluente do Rio Araguaia, por uma linha tirada das suas cabeceiras até o Rio Taquari e, por ele abaixo, até a barra do Coxim e este acima, até Camapuã, e dali atravessando o vadadouro até as cabeceiras do rio Pardo e, por este, até a foz do Rio Grande. Alencastre e Augusto Levergger, a seu tempo, destacaram na tentativa de se encontrar uma medida definitiva, o que levou muitas décadas e discussões.

No referido Mapa de 1751, a Capitania de Goyaz se limita, em detalhes ao norte com o salto de Itaboca, rio Tocantins, seguindo para leste, pela serra dos Gerais, nesta, contornando a parte oriental da Bacia do Tocantins, até ir de encontro ao Rio Grande. Por este último, descia à sua confluência com o Pardo; ao sul, subindo por este até as nascentes e daí em diante pelo divisor de águas. A oeste seguia pelo Rio das Mortes, subindo até as cabeceiras, indo ao encontro do Rio Jangada e por este, águas abaixo, até sua confluência com o Bacairi, prosseguindo até o rio Itacaiunas e deste até a barra do Tocantins, deste até o salto de Itaboca.

No referido Mapa, aparece uma legenda detalhada em que o seu autor se dirige ao Conde dos Arcos explicando detalhadamente todos os percalços pelos quais passou na execução da difícil tarefa que lhe fora confiada. Destaca o cartógrafo que a intenção do Mapa era tornar visível, ao menos o mais próximo da verdade, toda a extensão do grande sertão indevassável a que se conhecia apenas por lendas ou por narrativas de cunho fantástico.

Explicou também que os pontinhos vermelhos eram representativos da rota, seguindo do Porto de Santos até Vila Boa de Goyaz e desta sede da Capitania até a vila de Natividade. Os pontinhos amarelos do Mapa representavam a volta de Natividade até Villa Boa de Goyaz; os pontinhos pretos representavam a distância e as rotas de Vila Boa de Goyaz até Cuiabá. Outros pontinhos pretos aleatórios no Mapa representavam as distâncias de uma vila ou arraial até o outro. Os pontinhos vermelhos a partir de Cuiabá representavam a rota seguida, adrede, por João de Souza de Azevedo, que, pelo curso de rios chegou até a Capitania do Pará. Havia pontos amarelos que marcavam as viagens e outros caminhos feitos pela população de Natividade, no sentido de se alcançar a Capitania do Pará.

Também aparecem descrições de possíveis rotas fluviais para se alcançar a Capitania do Pará, seguindo logo após o Povoado de Anta, no Rio Vermelho e a passagem para o Rio Grande do caminho de Cuiabá, que, com o nome de Araguaia entrava no Tocantins, caminho feito pelo sertanista Antonio Pires de Campos, na luta contra os Bororos.

A sombra amarela no mapa denotava a Capitania de Goyaz. rios, serras, vales, eram apontados só quando tinham grandes proporções. No Mapa ainda apareceram 49 povoações como Santos, São Vicente, Fortaleza da Barra de Santos, Forte de Bertioga, Conceição, Yaguapy, Cananeia, São Paulo, Parnaíba, Ytu, Araraytaguara, Sorocaba, Jundiahy, Mogy Pequeno, Mogy Grande, Arrayal dos Bororos, Santa Cruz de Goyaz, Santa Luzia, Meya Ponte, Jaraguá, Ouro Fino, Ferreiro, Cambayuba, Vila Boa, Barra, Anta, Pioens, Crixá, Guarinos, Pilar ou Papoan, Morrinhos ou Amaro leite, Coriola, lagoa Quente, Trayras, SãoJosé, Chapada,São Gonçalo, Santa Rita, Moquem, São Félix, Cavalcante, Parannã, Arrayas, Barra da Palma, Natividade, Pontal e Descuberto do Carmo. Muitos desses nomes de localidades, hoje, estão modificados.

O Mapa assinalou onze caminhos, dos quais oito eram por via fluvial. Por ele se percebe a busca de uma soberania por meio da comunicação, do intercâmbio, da formação territorial nos grandes rios. Na análise de especialistas como Jaime Cortesão, nos anos de 1940, o grande equívoco desse primeiro Mapa da Capitania de Goyaz foi a questão da Geografia matemática. Suas longitudes e latitudes apresentam grandes discrepâncias; o que prova o seu caráter ainda de aprendiz, sem constar a lógica geográfica que deve permear qualquer produção de tal envergadura.

Dessa forma, na apresentação do Mapa da Capitania de Goyaz de 1751 é importante destacar, com ênfase, o seu profundo valor histórico. É uma obra de cunho geográfico de inestimável riqueza para se compreender o pedaço do Brasil que ainda era invisível à Coroa Portuguesa, mas que já povoava o imaginário no sentido de estabelecer uma rota do caminho do ouro, das riquezas produzidas e das barreiras fiscais. 

Por meio do Mapa de 1751, conhecemos a grande extensão que tinha Goyaz em sua origem e que hoje está reduzido a menos da metade. O saber geográfico nos instiga a conhecer, divulgar, compilar, discutir a gênese da Geografia em Goiás como busca de sentido e de significado para a própria terra, sua gente e seus costumes. Por tais pesquisas vemos que “Goyaz é bom demais da conta”!