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As relações entre os Estados Unidos e os cartéis latino-americanos chegaram a um ponto de ruptura em 2025. O governo Trump rompeu protocolos e inaugurou um caminho arriscado: pela primeira vez, tropas americanas foram liberadas para agir diretamente contra organizações criminosas acusadas de infiltrar-se tanto além das fronteiras quanto dentro delas.

O estopim veio com uma revelação publicada pelo New York Times: uma diretiva secreta assinada por Trump concedeu ao Pentágono poder para conduzir operações militares contra cartéis agora classificados como “terroristas”. Não era apenas uma mudança de nomenclatura, mas a reconfiguração do próprio conceito de ameaça à segurança nacional. Entre os grupos citados estavam o cartel de Sinaloa, o Tren de Aragua da Venezuela, a MS-13 e outros — todos formalmente inscritos na lista de Foreign Terrorist Organizations (FTOs), o que abre caminho legal para ataques militares diretos, sempre que surgirem condições políticas e estratégicas para isso.

As autoridades dos EUA também começaram a mobilizar forças aéreas e navais no Caribe Sul, com o objetivo de combater os grupos de narcotráfico que operam naquela região. Os cartéis Sinaloa e Tren de Aragua foram citados como alvos principais desta operação emergencial  .

Para reforçar esse esforço, o Departamento do Tesouro, por meio da OFAC, impôs sanções a organizações como Carteles Unidos e Los Viagras, vinculadas ao tráfico de opioides, extorsão rural e violência extrema  . Essas medidas representam uma abordagem multissetorial: militar, econômica e diplomática.

Porém, o anúncio provocou forte reação na região, especialmente no México. A presidente Claudia Sheinbaum foi enfática ao afirmar que “não haverá invasão dos Estados Unidos em solo mexicano” — ressaltando a inviolabilidade da soberania do país  . Mesmo diante da pressão americana, o governo mexicano optou por colaborar através de extradições — entregando, por exemplo, 26 figurões dos cartéis ao sistema judiciário dos EUA, em troca de garantias como o não pedido da pena de morte  .

Analistas como os da organização WOLA alertam para o risco de seguidores políticos e violações de normas internacionais. Usar o aparato militar contra organizações criminosas, sem autorização clara e sem aval do país anfitrião, pode ser interpretado como ato de agressão e ferir a Lei de Intervenção da OEA e a Carta da ONU. Além disso, a abordagem militar apresenta eficácia limitada, já que o combate sem desmantelar redes estruturadas tende a gerar apenas um vácuo que facilita o surgimento de novos grupos criminosos  .

Presentes em todo continente, organizações como o Tren de Aragua reforçam a amplitude desse desafio. Originário da Venezuela, o grupo trafica drogas, pratica extorsão e crimes múltiplos em diversos países da América Latina e até nos EUA  .

Em síntese, a nova política americana representa uma virada da estratégia de segurança hemisférica. De programas cooperativos como Iniciativas Mérida ou do Caribe, feitos para capacitar e apoiar forças locais, passamos a uma postura mais agressiva, com foco em operações militares e designação terrorista  .

A autorização do uso de tropas americanas contra cartéis latino-americanos traz à tona questões sensíveis de soberania, eficácia e legalidade. Embora represente um esforço audacioso para conter o fluxo de drogas e proteger os EUA, a medida enfrenta forte resistência diplomática e suscita dúvidas sobre seus impactos reais. Sob o manto da guerra antinarcóticos, os EUA parecem adotar um papel expansionista, o que pode reverter décadas de cooperação regional em segurança.

Antônio Caiado | Foto: Acervo Pessoal

Antônio Caiado é brasileiro e atua nas forças armadas dos Estados Unidos desde 2009. Atualmente serve no 136º Maneuver Enhancement Brigade (MEB) senior advisor, analisando informações para proteger tropas americanas em solo estrangeiro.