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A JBS S.A. saiu de um frigorífico de interior para se tornar a maior processadora de carnes do planeta. Mas a empresa que vem dando orgulho para o Brasil também vem protagonizando, aos olhos dos americanos, uma história hipócrita. Enquanto o Brasil se apresenta como guardião da Amazônia, a JBS é um colosso que sufoca pecuaristas americanos e vende um ambientalismo de vitrine.

Para os fazendeiros dos Estados Unidos, entre as quatro companhias que controlam entre 80% e 90% do mercado de carne bovina nos Estados Unidos — Tyson Foods, Cargill, National Beef e a brasileira JBS — essa última é a que mais incomoda. Com aquisições agressivas desde os anos 2000, como a compra da Swift & Company e da Pilgrim’s Pride, a JBS fincou bandeira em solo americano somente para ditar preço e diminuir margens de lucro para pequenos e médios criadores de gado (segundo a Reuters, 2021). Muitos fazendeiros relatam que, hoje, só têm duas alternativas: aceitar as condições impostas pelas “big four” ou fechar as porteiras.

O compromisso ambiental baseado em marketing

Em 2021, a JBS anunciou ao mundo que se tornaria “net zero” até 2040 e que acabaria com o desmatamento ilegal na cadeia de fornecimento até 2025 (JBS Foods Group). Parecia um passo ousado para quem carrega histórico de passivos ambientais. Mas logo ficou claro que era apenas peça de relações públicas. Em janeiro de 2025, a própria companhia admitiu que a meta de 2025 “nunca foi promessa firme” e que “net zero” era “aspiracional” (Reuters, 2025).

Não por acaso, o Estado de Nova York entrou com ação judicial acusando a empresa de “greenwashing” — propaganda enganosa de sustentabilidade — ao prometer o que não tinha qualquer plano sério de cumprir (Earth.org, 2024). Documentos internos mostraram que enquanto a comunicação pintava um futuro limpo, os executivos projetavam crescimento acelerado de produção sem redução significativa de emissões.

Esse “estelionato verde” gerou revolta fora do Brasil. Em 2025, ativistas do Greenpeace e outros grupos ambientais interromperam a assembleia de acionistas da JBS nos EUA, denunciando a desconexão entre discurso e prática (Greenpeace, 2025). Não é só “turma radical”: investidores, consumidores e governos locais começam a exigir responsabilidade climática real.

Enquanto isso, no Brasil, silêncio conveniente. A JBS segue com crédito abundante do BNDES, lobby forte e proximidade com o governo Lula, que insiste em vendê-la como orgulho nacional — embora a própria empresa seja acusada de exportar carne oriunda de áreas de proteção na Amazônia.

Perspectiva dos produtores rurais americanos

O resultado dessa concentração são margens esmagadas, contratos leoninos e insegurança econômica para famílias rurais nos EUA. Quando quatro empresas controlam cerca de 85 % do abate de gado, o “mercado livre” vira um oligopólio que impõe preço de compra e limita opções de venda (Minnesota Reformer, 2022). A JBS ajudou a consolidar exatamente esse cenário, replicando nos EUA a cartilha de concentração que dominou no Brasil: integração vertical, lobby e poder de barganha que esmaga o pequeno.

No fundo, o caso JBS é um espelho do Brasil que o governo Lula projeta: país que fala em clima mas patrocina quem desmonta qualquer meta séria; que fala em “economia justa” mas concentra renda em conglomerados; que fala em proteger a Amazônia mas normaliza desmate e gado de áreas embargadas. Não há nada de heroico nisso. É apenas pragmatismo de palanque e política de bastidores. E é esse modelo que hoje exportamos com orgulho — inclusive para dentro do coração econômico americano.

Enquanto Lula se vende como defensor da Amazônia e ecoa nos fóruns globais uma imagem verde, a “queridinha” JBS reina sobre bois que pastam em áreas ilegais, emite gases em volumes que derrubam qualquer meta climática séria e manipula mercados até no quintal dos EUA. Pequenos pecuaristas americanos que antes olhavam para o Brasil com desconfiança agora veem seus próprios rebanhos esmagados por uma empresa que Brasília acalenta e financia.

Chamam isso de inserção internacional. Na prática, é o Brasil exportando hipocrisia, concentração e destruição — com selo oficial de orgulho nacional.

Antônio Caiado | Foto: Acervo Pessoal

*Antônio Caiado nasceu em Mossâmedes, interior de Goiás, e é cidadão dos Estados Unidos desde 2005, quando deixou o Brasil e se mudou para Norwood, no estado de Massachusetts. Atuou como policial, participou de guerras, incluindo a do Afeganistão, serviu no Exército dos Estados Unidos no Oriente Médio, em países como Jordânia e Kuwait, tornou-se mestre em Engenharia de Segurança pela Southern Methodist University, trabalhou como examinador de patentes no United States Patent and Trademark Office e, atualmente, é primeiro-sargento na Texas Army National Guard. Hoje, vive em Dallas, no Texas.