A exclusão durante a velhice já se tornou um padrão brasileiro, mas isso pode ser ainda mais sentido por pessoas que viveram uma vida inteira à margem da sociedade e sem apoio familiar. Mesmo no mês do orgulho LGBT+, estabeleço uma crítica à própria comunidade. Por que abandonamos os velhos LGBT+? A quem interessa a velhice LGBT+ senão à própria comunidade? 

Ao produzir a reportagem ‘Envelhecimento LGBT+ em Goiânia: comunidade mais velha relata isolamento e exclusão’, demorei alguns dias para encontrar possíveis entrevistados. O problema não era se eles iriam aceitar ou não participar, era localizar idosos LGBT+ em Goiânia. Por fim, precisei reduzir a idade limite – que primeiramente era 60+ – para mais de 50 anos. Onde estão os idosos gays de Goiânia?

Enquanto tentava encontrá-los, perguntei por eles a amigos, militantes e líderes de movimentos LGBT+ na capital goiana. A resposta refletiu a própria pauta quando a maioria também esbarrou na dificuldade de localizá-los e recebi: não convivo, não vejo, não sei. Ouvi de um líder que tentou reunir idosos LGBT+ em um evento e precisou cancelar, porque simplesmente não os achava. Me disse que são poucos e que não se sabe onde estão. 

Foi também durante a produção da reportagem que entendi: eles foram abandonados pela própria comunidade. Os relatos são crueis. Gays mais velhos sendo humilhados em aplicativos de relacionamento, ridicularizados nas baladas, e reduzidos a dinheiro quando buscam sexo. A palavra usada por um dos entrevistados para descrever como era tratado por gays mais novos foi ‘repulsa’. Eles se sentem rejeitados, repugnados, negados. 

Enquanto idosos heteronormativos são invisibilizados socialmente, idosos LGBT+ são ridicularizados pelos seus. De gay para gay. Parece que a tratativa é ainda mais violenta. É violento que, além de passar pela dificuldade sociais da 3ª idade, ainda sejam desprezados pela própria comunidade. Como escarramos os velhos do movimento se é o lugar deles que vamos tomar em alguns anos? Como um movimento social não respeita a luta e trabalho dos mais velhos para o construído hoje?

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