Tá calor em Goiânia? Então corta mais árvore!

21 novembro 2023 às 15h44

COMPARTILHAR
Observações paradoxais em meio ao calorão de novembro: no Setor Aeroporto, apenas no trajeto a pé de duas ou três centenas de metros que faço entre o lugar onde estaciono o carro e a entrada do colégio de meu filho, vejo, em menos de duas semanas, duas árvores cortadas no cepo. No pedaço que sobrou, nada que indique alguma doença aparente.
No começo da tarde do domingo, 19, numa esquina próxima ao Hospital Anis Rassi, no Setor Oeste, homens trabalham para cortar outra árvore frondosa. Como diz o meme que está rodando: “Ah, tá calor? Corta mais uma árvore!”. Parece que quem vê o meme o tem entendido como solicitação, não como ironia.
O plano do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) era, um ano atrás, transformar Goiânia na cidade mais arborizada do mundo. A declaração foi dada durante evento em que houve o plantio de 50 mil mudas de árvores nativas em apenas 30 minutos, em um evento chamado ArborizaGyn 2.0, no Setor Grajaú, região sudoeste da capital.
Entre a expectativa e a realidade, parece que a distância está considerável. Há muito o que se fazer e não adianta apenas plantar e fazer o manejo correto de novas mudas (para que sobrevivam): é preciso também conservar todas que forem passíveis de serem salvas do corte.
Na contramão do projeto, no entanto, o que mais se vê são tocos de troncos espalhados pela cidade. É justa a preocupação com a queda de árvores, principalmente por causa de ventanias cada vez mais intensas, mas mais justa ainda é outra preocupação: a de que frondosas gameleiras, sibipirunas e outras provedoras de sombra e frescor sejam sumariamente eliminadas sem a busca de solução alternativa.
Não por acaso, as zonas mais quentes do perímetro goianiense são Campinas, a região da Rua 44 (Setor Norte Ferroviário) e o Centro de Goiânia. Nelas, o porcentual de árvores nas calçadas e áreas públicas é ínfimo.
Não é possível que se passem mandatos inteiros sem que haja um projeto de reurbanização e reflorestamento de pedaços tão estratégicos e até históricos de Goiânia. É sinal de descaso com a causa, apesar do discurso bonitinho emitido por Rogério Cruz e tantos outros que o antecederam no cargo. Afinal, quando vão levar a sério a questão ambiental?
O “problema” de Goiânia, no entanto e infelizmente, não é exceção das gestões municipais. A maior parte dos prefeitos e suas equipes se mostram totalmente despreparados para encarar o quadro de mudanças climáticas. Não parecem convencidos de que tal demanda chegou para ficar, não é só uma marolinha ou uma “tempestade de verão”, para usar outra figura de linguagem – e nem no verão estamos ainda, para bater os 40 graus com tanta facilidade.
Se não dá para consertar o mundo, é preciso cuidar de nosso quintal. Então, afinal: quem cuida de Goiânia?