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Silas Malafaia é o retrato perfeito do oportunista religioso que transforma o púlpito em palanque político e, ao longo do tempo, mostra com clareza que seus interesses convergem menos com a fé e mais com o favor político — sem causa fixa, além da própria ambição.

Em 2002 e 2006, Malafaia chegou a apoiar Lula. Mas 20 anos depois, ele defende fervorosamente Jair Bolsonaro, e sem nenhum constrangimento. Essa flexibilidade ideológica — ou cinismo político — remover qualquer aura de autenticidade de sua pregação.

Silas Malafaia encarna uma fração preocupante do evangelicalismo brasileiro: aquele em que a fé serve a um projeto político, em vez de trazer transformação. Suas bandeiras mudam conforme o conveniência partidária, a um palanque com “Deus” estampado na frente.

Apesar de viver repetindo que é “aliado, não alienado”, ele se ajoelha para onde o vento político sopra. Durante as campanhas eleitorais, montou eventos em homenagem a Bolsonaro e foi incluído como conselheiro fiel numa denúncia da CPI da Covid.

Falsa indignação e teatrinho midiático

Malafaia ofendeu público e imprensa várias vezes. Chamou a jornalista Eliane Brum de “vagabunda” durante entrevista ao New York Times. Um “mal-entendido”, segundo sua retratação. Em 2011, um vereador que o chamou de homofóbico virou alvo de ataques: “vagabundo”, “bandido”, “idiota” — e o edil teve a homenagem de cidadão arquivada com um repúdio.

E quando um político que ele apoiou começou a agir de forma contraditória, não hesitou em chamá-lo de “porcaria de líder”, “covarde” e “omisso” — mas só depois que sua conveniência política foi afetada.

Teologia da prosperidade e enriquecimento questionável

Não se engane: o “Pastor da Prosperidade” depende menos de Deus e mais do bolso fiel. Comprou um jatinho de $12 milhões — a desculpa: seria uma “galinha morta”. Um avião redundante. A Forbes o listou entre os pastores mais ricos do país, com patrimônio estimado em US$ 150 milhões. Malafaia contestou e apresentou dados oficiais sugerindo menos. Mas a contradição já diz tudo.

E, claro, temas polêmicos lhe rendem atenção: com discursos enfáticos contra o aborto e a homossexualidade, ele se torna celebridade midiática — mesmo que tudo pareça obra de marketing premeditado.

O que sobra é articulação. Em 2024, criticou Bolsonaro por ser instável politicamente — mas não demorou para estar novamente ao seu lado. Sua pressão sobre políticos, sua presença em atos evangélicos e atenção midiática indicam que Malafaia é muito mais um maquiador político do que um porta-voz da fé.

Quando Lula disse que “seu Deus não é o mesmo de Malafaia”, ele fez o alerta: o pastor defende interesses, não valores espirituais ou coletivos.

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