Raiz da violência de gênero está nas relações de poder entre homens e mulheres

25 novembro 2023 às 17h04

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“Homens que não conseguem resolver suas relações, que não conseguem resolver suas frustrações, não sabem o que é a questão da masculinidade tóxica, que é tão dita hoje, evidenciada aí pelas redes sociais também. E infelizmente eles acabam descontando tudo isso nas suas parceiras, ex-parceiras, ex-mulheres, ex-namorados, irmãs, mães, enfim, as mulheres que os rodeiam. Aí a gente acaba tendo esse reflexo na estatística e nas ocorrências, mas é um machismo estrutural.”
Delegada Ana Elisa Gomes, titular da Delegacia Estadual de Atendimento Especializado à Mulher (Deaem) em Goiás.
Essa semana, o prefeito de Iporá, Naçoitan Leite, escancarando o machismo de grande parcela da população goiana masculina, não aceitou o término de seu relacionamento e foi violento com a ex-mulher. Invadiu sua casa de madrugada e atirou mais de 15 vezes contra a mulher e o atual namorado dela. Dias depois, foi preso por tentativa de homicídio. Não se sabe quantos dias ficará preso, mas provavelmente poucos. Segundo a delegada Ana Elisa, 98% dos homens presos por agredirem ou matarem mulheres são soltos em audiência de custódia.
Nem todos os casos de violência contra a mulher são investigados pela Polícia Civil de Goiás. Os dados apresentados pela Secretaria de Segurança Pública de Goiás, que são altos, devem ser subnotificados e são poucas as mulheres que procuram a polícia em caso de violência. Porque, muitas vezes, o agressor pode não chegar a efetivar a agressão física. Quando os são apurados e vão a julgamento, os duros esforços investigativos parecem ser anulados com a ineficiência do judiciário brasileiro. As medidas de combate a violência doméstica não devem ser somente civis, legislativas e executivas, mas precisam ser judiciárias. Os crimes de feminicídio só aumentam e os agressores ainda seguem passando impunes.
Lenore E. Walker, psicóloga norte-americana, foi a primeira a identificar e compreender o padrão de comportamento nos agressores de casos de violência doméstica. Na década de 1970, após entrevistar mais de 1.500 vítimas, ela delineou o “Ciclo da Violência”, dividindo-o em três fases:
- Construção das tensões: ocorrem o controle do comportamento, o isolamento da mulher, ofensas verbais e humilhações
- Explosão da violência: há agressão física, violência patrimonial, violência moral, violência sexual ou violência psicológica
- Lua de mel: o homem pede perdão, enche a mulher de promessas de mudança, há reconciliação e reconstrução do vínculo
Apesar das diferentes manifestações, a violência de gênero está arraigada na sociedade sempre esteve. Por mais velado que seja, o assédio continua roubando a autoestima e confiança das mulheres brasileiras, que ainda se vêem presas em relacionamentos abusivos. A violência, seja física, verbal, sexual ou psicológica, destrói a dignidade humana e deve ser combatida em todas as suas formas.
Caso esteja sofrendo qualquer tipo de violência psicológica ou moral, procure uma rede de apoio feminina e busque ajuda profissional psicológica. Em caso de violência física, você pode acionar o Batalhão Maria da Penha da Polícia Militar por meio do número (62) 9 9930-9778