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Nesta terça-feira, 2, a Quaest publicou uma pesquisa acerca da opinião dos brasileiros sobre o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) pela tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O levantamento revelou que a maioria (52%) considera que Jair Bolsonaro participou do plano que tentou o golpe de Estado, e que 36% não acredita que o ex-presidente tentou abolir o estado democrático de direito.  

Mais de metade (55%) apoia a medida de impor a Bolsonaro a prisão domiciliar por conta do inquérito que analisa a atuação de seu filho, Eduardo, nos Estados Unidos. Os que consideram a medida injusta são 39%. A pesquisa não questionou, mas seria interessante saber qual porção dos brasileiros acredita que o julgamento será conduzido dentro da normalidade; e quantos acreditam que, contra o autoritarismo de Bolsonaro, vale o autoritarismo de Moraes. 

A situação lembra a Lava Jato, quando o país (em especial a imprensa) embarcou em um momento de euforia, acreditando que exceções eram necessárias para as punições quase inéditas da corrupção. Anos depois, a anulação das ações da Lava Jato subsidiou a apresentação de uma versão alternativa à que dominou os noticiários de 2014 à 2021 — a de que o grupo acusado teria sido politicamente perseguido. 

Para que não fique dúvidas: ao que indicam os interrogatórios, inquérito e processo conduzido pelo STF, o núcleo da trama golpista de fato girava em torno de Jair Bolsonaro. Seu governo foi marcado pelo conflito, primeiro contra o Congresso, que estaria o impedindo de agir. As pazes com o parlamento foram feitas por meio de Arthur Lira (PP-AL) e seu orçamento secreto, que transferiu a tinta da caneta do Executivo para o Legislativo e deixou bolsonaro livre para mover mais manifestações antidemocráticas — contra o STF, e por fim, contra as eleições. O legado de Bolsonaro é a institucionalização da violência na Presidência e, por isso, deve ser punido. 

Moraes tem o dever de responsabilizar os culpados. Mas o precedente foi aberto: no futuro, se Bolsonaro surgir novamente como iminência política, os excessos de seu julgamento podem ser razão para alegar perseguição política, motivando anulações. Em outras palavras, é justamente pela gravidade das acusações contra Bolsonaro que se deve insistir para que seu julgamento seja rigoroso.