O terror em Gaza e Israel: e assim descaminha a humanidade

10 outubro 2023 às 18h23

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Se levarmos em conta que o Homo sapiens é a única entre todas as espécies capaz de transformar sua própria realidade, de refletir sobre a circunstância em que vive e de entender o sentimento de seu semelhante, toda destruição que ele promova contra si e contra o meio sempre será uma derrota para a humanidade.
O conflito milenar entre árabes e judeus se institucionalizou em um espaço territorial da forma com que se encontra hoje desde a criação do Estado da Palestina pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1947. Foi quando a maioria dos países da entidade recém-criada votou por destinar ao povo judeu uma área – uma faixa de terra no Oriente Médio, na costa do Mar Mediterrâneo – que até então estava sob intervenção britânica. De certa forma cumpria-se a carta-compromisso de 1917 do Reino Unido com o sionismo, conhecida como Declaração Balfour.
Pela razão, era uma decisão sensata: destinar a um povo desterrado pela diáspora um espaço territorial onde seus ancestrais habitavam. Uma questão de justiça.
Pela razão, também e por outro lado, seria prudente que tivessem acordado outra área onde não houvesse risco de conflitos, já que os árabes ficaram ali estabelecidos durante todo o Império Otomano.
Os países árabes foram voto vencido na Assembleia da ONU e a Partição da Palestina foi efetivada dividindo à com o Estado de Israel.
Civilização não é sinônimo de civilidade
A razão diz que caberiam ali os dois povos. Também pela razão, ambos poderiam conviver, ainda que com suas diferenças, como brasileiros e argentinos, franceses e alemães, ingleses e escoceses, nordestinos e sulistas etc., que têm sua própria cultura, mas se admiram – ou, no mínimo, se toleram.
Mas civilização não é sinônimo de civilidade. Estágio tecnológico não diz respeito a estágio civilizatório. Todas as modernidades estariam a serviço do homem para lhe fornecer conforto, conhecimento e progresso, mas no mundo de hoje são usadas com formas novíssimas de estabelecer conflitos, físicos ou virtuais.
E chegamos ao novo milênio com conflitos de milênios atrás, mas inovações no modo de matar. Reinventamos a guerra, cada vez letal e “cirúrgica, mas com a mesma barbárie que desafia a razão.
O que o Hamas no sábado, 7, fez aos judeus desafia o senso de humanidade. Assim como o revide de Israel, ainda que com o discurso oficial de combater os terroristas, desumaniza os palestinos.
De ambos os lados, perderam já o entendimento de que do outro lado há humanos, o que fica terrivelmente explícito no ataque a uma rave, uma festa do lado judeu cujos participantes, em sua maioria, certamente desejariam um acordo para o fim do conflito, se questionados fossem.
Não existe paz onde não existe razão. E, onde existe razão, não existe paz onde a razão é vista como propriedade de uma parte apenas.