Marina Silva: tão atacada quanto o meio ambiente

02 julho 2025 às 19h20

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Marina Silva é uma das principais vozes do ambientalismo brasileiro. Filha de seringueiros, nasceu na floresta amazônica e enfrentou desde cedo as adversidades da vida no campo. Sua trajetória política é marcada pela defesa da sustentabilidade e dos direitos dos povos da floresta. Portanto, ela construiu uma carreira pautada na coerência e no compromisso ambiental. No entanto, nos últimos meses, Marina tem enfrentado um cenário político adverso que ameaça não apenas sua atuação, mas o futuro das políticas ambientais no Brasil.
Em 27 de maio de 2025, Marina participou de uma audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado. A discussão girava em torno da rodovia BR-319, obra que depende de licenciamento ambiental. Durante o debate, a ministra foi alvo de ataques machistas e desrespeitosos. O senador Plínio Valério chegou a dizer que “a mulher merece respeito, a ministra não”. Esse episódio expôs o machismo estrutural ainda presente na política brasileira. Além disso, revelou a fragilidade da ministra diante da bancada ruralista, que pressiona por flexibilizações ambientais.
Depois desse episódio, Marina deixou a audiência, sinalizando sua insatisfação com o ambiente hostil. A reação da sociedade civil foi imediata. O Conselho Nacional de Saúde, por exemplo, publicou nota repudiando o tratamento recebido pela ministra. Ainda assim, o Palácio do Planalto permaneceu em silêncio. Esse silêncio foi interpretado por muitos como omissão diante do ataque a uma integrante do próprio governo. Enquanto isso, Marina continuou sua luta em meio a um isolamento institucional crescente.
Problema contínuo
Nas semanas seguintes, a ministra enfrentou nova ofensiva na Câmara dos Deputados. Em 2 de julho, durante audiência na Comissão de Agricultura, ela foi novamente atacada por parlamentares ligados ao agronegócio. Um deputado chegou a chamá-la de “adestrada” e questionou sua experiência no setor. No entanto, Marina apresentou dados que indicam a queda do desmatamento na Amazônia e o aumento do orçamento para fiscalização ambiental. Ela defendeu que o Brasil recuperou seu papel de potência ambiental no cenário internacional.
Entretanto, o Congresso avançava com o PL 2159/2021, conhecido como “PL da Devastação”. Esse projeto reduz exigências para licenciamento ambiental, instituindo a Licença por Adesão e Compromisso, que permite a autodeclaração de impacto ambiental. Para Marina e especialistas, essa flexibilização representa um risco para os biomas brasileiros e para a segurança das comunidades. Por isso, a ministra tem buscado apoio no Supremo Tribunal Federal para contestar a aprovação do projeto.
Além da pressão política, Marina também tem apostado na mobilização da sociedade civil e na divulgação de dados que comprovam avanços ambientais recentes. O Brasil, sob sua gestão, teve uma redução significativa no desmatamento, segundo órgãos oficiais como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Contudo, a bancada ruralista insiste em desmontar regras ambientais sob o argumento do desenvolvimento econômico.
É importante destacar que Marina Silva está sendo tão atacada quanto a natureza brasileira que tanto defende. Os ataques pessoais, muitas vezes de cunho machista e desqualificador, refletem uma tentativa de enfraquecer não apenas sua figura, mas toda a agenda ambiental que ela representa. Isso demonstra o quanto a luta pela preservação do meio ambiente ainda enfrenta resistência feroz dentro dos corredores do poder.
O que significa?
A situação de Marina evidencia uma crise maior: a dificuldade do país em conciliar crescimento econômico e proteção ambiental. Por um lado, setores econômicos pressionam por regras mais flexíveis. Por outro, especialistas alertam para os impactos irreversíveis da destruição da floresta. No meio desse conflito, Marina Silva representa uma postura ética que resiste ao pragmatismo político. Ainda assim, sua atuação depende do apoio do governo federal e da sociedade para se sustentar.
Portanto, o episódio recente no Senado e os ataques subsequentes não são isolados. Eles refletem uma tensão estrutural entre diferentes visões de Brasil. De um lado, um modelo baseado na exploração rápida dos recursos naturais. De outro, uma visão que defende a sustentabilidade e a proteção dos ecossistemas. Marina Silva está no centro desse embate, carregando o peso de ser uma das poucas lideranças que mantém a coerência e a luta pela preservação ambiental.
Sobre Marina Silva
Finalmente, cabe destacar que o papel de Marina ultrapassa a política doméstica. O Brasil está prestes a sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém, capital do Pará. Nesse cenário, a imagem do país como potência ambiental será testada internacionalmente. O enfraquecimento das políticas ambientais, por meio da aprovação de leis que facilitam a devastação, pode comprometer a credibilidade brasileira. Marina, como ministra, tornou-se símbolo dessa credibilidade e da resistência necessária para defendê-la.
Assim, defender Marina Silva não significa apenas apoiar uma figura política. Significa defender a luta por um futuro sustentável, onde o desenvolvimento não aniquile o meio ambiente. Significa reconhecer que a proteção da floresta é um compromisso com a vida, o clima e as próximas gerações. Por isso, mesmo diante dos ataques e do isolamento, sua resistência permanece fundamental para o Brasil.
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