Lula não cedeu à pressão de Trump e conquistou o diálogo; momento é positivo para governo

07 outubro 2025 às 13h24

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Próximo ao final do terceiro ano, o governo de Lula da Silva (PT) atravessa sua melhor fase. Não sem razão, o governo federal foi criticado por prescindir de uma marca. Seu maior projeto é a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil — pauta justíssima, mas executada ao modo “puxadinho”. Agora, em parte por mérito próprio e em parte pelas continências apertadas nos Estados Unidos, o governo ganha um mote.
Nesta segunda-feira, 6, a conversa por telefone entre Lula e Donald Trump na marcou o ponto alto na aproximação ensaiada entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos desde a assembleia geral das Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, há duas semanas. No dia 23 de setembro, Trump disse que teve “uma excelente química” com o brasileiro e que os dois se reuniriam em breve. Hoje, é difícil lembrar que Lula disse à imprensa americana que Trump quer ser o “imperador do mundo”.
Por esse tipo de declaração, o New York Times afirmou em editorial que “Ninguém desafia Trump como o presidente do Brasil”. Trump parece respeitar quem tem coragem de peitá-lo, e parece menosprezar quem se curva na primeira adversidade. Talvez seja sua formação empresarial. Não atrapalha o fato de que as tarifas americanas de 50% elevaram a inflação nos EUA em 13% sobre bens como o café e alimentos enlatados importados do Brasil. Nesta semana, em referência ao cenário econômico e às política anti-imigrantes, celebridades que ajudaram Trump a se eleger declararam que não votaram pelo projeto em curso.
O governo brasileiro agora desenha uma resposta à maior crítica que sofria: a de ser taxador. Se a taxa das blusinhas, o Taxad, o monitoramento das transferências Pix acima de R$ 5 mil, os novos tributos — se tudo isso colou em Lula a pecha de tributar, agora há contra-argumentos. Somado à isenção do IR, o diálogo pela redução dos tributos sobre exportadores constituem uma resposta para questões econômicas em 2026. E tudo isso acontece enquanto a direita está ocupada debatendo a anistia a Bolsonaro.
Se Lula foi hábil ou se deu sorte, não importa — o importante neste momento é que um acordo tarifário mais favorável para produtores brasileiros se desenha. A oposição bolsonarista perde a exclusividade sobre os ouvidos de Marco Rubio. Se não havia conversa, agora há. Mais importante ainda: o governo conquistou o diálogo sem ceder a um suposto projeto do “imperialismo yankee”, mantendo o texto da “soberania”. O governo federal, que era reativo, agora pauta o debate. Se o leitor vê com ceticismo ou com nacionalismo o discurso de soberania, é outra história, mas o momento é de crescente inegável para Lula.