Um levantamento feito pelo jornal O Globo mostrou que das 75 proposições apresentadas pelo governo federal no Congresso neste primeiro ano do terceiro mandato de Lula, apenas 18 foram aprovadas. Conforme o jornal, trata-se do pior resultado em mais de 30 anos, incluindo os dois mandatos anteriores do petista. Mas mais preocupante para o governo do que a baixíssima taxa de aprovação das propostas do Planalto é justamente o esforço tremendo feito para ampliar a quantidade de votantes com o governo – esforço esse que parece ter resultado em uma base infiel e que joga conforme a maré.

A dança das cadeiras do governo foi grande e contínua, desde o início do ano, para acomodar as dezenas de indicações partidárias como condição dessas siglas para compor a base governista. Uma das últimas – e mais emblemáticas – foi a demissão de Ana Moser do Ministério dos Esportes para acomodar um indicado do pP, André Fufuca, e o remanejamento de Márcio França para acomodar Silvio Costa Filho na pasta de Portos e Aeroportos e, assim, sanar a sede do Republicanos.

Com a chegada do pP e Republicanos, o governo passou a contar, em tese, com cerca de 370 votos na Câmara (número não muito distante dos longínquos 2010, ano em que Lula fechou o segundo mandato com pouco mais de 380 votos). E mesmo assim, o governo parece ter receio da não aprovação das propostas mais simples.

O que Lula dá sinais de não entender – nem mesmo com o baixo índice de aprovação de matérias palacianas – é que o Congresso de hoje não é mais o mesmo de quase 15 anos atrás. Ao tratar como fidelizados os votos de partidos do Centrão angariados com a acomodação de indicados, Lula parece entrar na ilusão de estar, ainda, em 2010 quando sua taxa de aprovação beirava os 90% e o Parlamento dançava conforme a música tocada pelo Planalto.

Até no quintal petista as cismas e desconfianças parecem dar flores. Não nos esqueçamos do líder governista, Jacquer Wagner, que contrariando frontalmente a orientação do partido e do Palácio, votou a favor da PEC que proíbe decisões individuais do Supremo Tribunal Federal (STF).

O presidente lida hoje com um Congresso que vigia de perto cada passo, cada mínimo respiro que ele dá, e se o presidencialismo brasileiro é, em sua essência, refém eterno do Congresso, com Lula o cativeiro é mais embaixo.

Ou Lula se atenta para dar foco e forma para sua base, começando por definir um líder que, no mínimo, seja fiel ao governo no que se espera que seja, ou que se prepare para terminar o mandato com popularidade abaixo de zero ou, pior – nem terminá-lo.

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