O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem adotado uma postura inédita: buscar aproximação com líderes e fiéis evangélicos, um segmento historicamente ignorado pelo partido. A mudança de estratégia chama atenção justamente pelo oportunismo evidente, já que o PT nunca demonstrou interesse significativo nas pautas e necessidades dessa parcela da população.

A iniciativa política surge em um contexto de disputa eleitoral e de busca por ampliamento de base de apoio. No entanto, o que deveria ser uma ação pautada em diálogo e entendimento histórico, se revela, na prática, como manobra tática. Para muitos analistas, trata-se de uma tentativa de conquistar votos e influência em regiões onde o voto evangélico se mostra decisivo, mais do que de construir políticas públicas genuínas voltadas para essa comunidade.

Historicamente, o PT e seus líderes sempre mantiveram uma relação distante com segmento evangélico, privilegiando movimentos sociais, sindicatos e organizações populares. A aproximação recente, portanto, surge como uma ruptura com a trajetória ideológica do partido, provocando críticas de antigos apoiadores que veem o movimento como uma traição aos princípios de luta e coerência política.

O contraste com as bases ideológicas do socialismo marxista não poderia ser mais evidente. Karl Marx, teórico fundamental para a esquerda, foi contundente ao criticar a religião como instrumento de alienação das classes trabalhadoras. Para Marx, Deus era uma “utopia” e a religião funcionava como um mecanismo que desviava o povo da luta real por direitos e emancipação social. A nova postura do PT parece ignorar completamente essa tradição crítica, aproximando-se de um segmento que Marx consideraria parte do aparato de manutenção da ordem estabelecida.

A crítica não é apenas filosófica, mas prática. Ao buscar se alinhar com grupos evangélicos sem histórico de diálogo, o PT corre o risco de reforçar a percepção de oportunismo político.

Além disso, a estratégia abre espaço para tensões internas no próprio partido. Militantes que sempre defenderam a manutenção da coerência ideológica veem a aproximação como contraditória, e até mesmo como uma forma de “neoliberalizar” a narrativa petista, ao buscar aprovação de setores que historicamente apoiaram políticas conservadoras e contrárias aos direitos civis defendidos pela esquerda.

A crítica também se estende à retórica presidencial. Discursos de conciliação e diálogo com líderes religiosos, embora apresentados como gesto de inclusão, contrastam com décadas de políticas públicas que ignoraram as demandas evangélicas em áreas como educação, saúde e direitos sociais. A estratégia, portanto, parece menos preocupada com políticas efetivas e mais com a construção de imagem política.

Em suma, a aproximação do PT e de Lula com os evangélicos expõe uma mudança de rumo marcada pelo pragmatismo político e pelo oportunismo eleitoral, em claro contraste com princípios históricos do partido e da tradição marxista. Ao tentar conquistar uma base que nunca integrou suas pautas centrais, o partido corre o risco de perder legitimidade entre seus apoiadores tradicionais, enquanto questiona o próprio compromisso com a coerência ideológica que sempre alegou defender.

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