Há apoio e clamor social pelo enfrentamento do crime; como momento se tornará ação é questão política

16 setembro 2025 às 11h54

COMPARTILHAR
A segurança pública é a maior preocupação dos brasileiros e deveria ser a prioridade número um do poder público. O fato de que não há concordância sobre essa questão básica revela, primeiro, a distância entre o violento cotidiano da maioria e a distinta realidade dos tomadores de decisão. Não é questão de opinião: pesquisa Quaest de abril deste ano apontou que as maiores preocupações do brasileiro são violência (29%); desigualdade social (23%); economia (19%); saúde (12%); corrupção (10%) e educação (7%).
Alguns estados (como Goiás) tomaram ações efetivas para combater as facções, mas não se pode dizer que há dedicação total de todos os governos no mesmo sentido para lidar com o crime organizado. A percepção de que, em alguns estados, o crime já entrou no próprio governo e as autoridades podem fazer apenas um “teatro” do combate às facções — tudo isso revela que parte do país esperava poder tolerar a máfia entremeada no poder. De tempos em tempos, entretanto, mesmo o mais distante dos ministros é forçado a se confrontar com a barbárie do dia-a-dia brasileiro.
A operação Carbono Oculto, da Receita Federal e Ministério Público de São Paulo, mostrou como o PCC já se integrou ao mercado financeiro e às atividades lícitas, como os postos de combustível. Nos Estados Unidos, em meados do século passado, as máfias que haviam começaram com atividades criminosas, também avançaram para atividades lícitas e aos poucos legitimaram o patrimônio até se tornarem indistinguíveis e entremeadas no empresariado e governo.
O fluxo de dinheiro vai abrindo portas, permitindo que mafiosos conheçam empresários e políticos, dando projeção social, até quando chega um ponto em que as máfias podem abrir mão das atividades mais arriscadas como tráfico de drogas e possam se sustentar com rendimento apenas com atividades lícitas. Esse parece ter sido o caminho pretendido por parte dos políticos (se não por cumplicidade, por medo de enfrentar as brutais facções).
Na noite desta segunda-feira, 15, Ruy Ferraz Fontes foi executado em São Paulo. Ele estava jurado de morte pelo PCC desde 2019, quando era delegado-geral da Polícia Civil e transferiu e isolou o líder máximo da facção, Marco Willians Herbas Camacho, Marcola, na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Antes disso, em 2006, ele fora o responsável por indiciar toda a cúpula da organização. A execução em via pública de um representante da lei mostra o poder e ousadia do grupo, e envia um recado aos próximos delegados-gerais.
O país atravessa um momento de virada de postura em relação ao crime. Começa a ficar para trás a ideia de que seria possível reformar organizações criminosas com gradualismo, no “deixa disso”. Levantamentos como a Pesquisa Social Brasileira (PESB) mostram que anos de exposição à violência fizeram o brasileiro pedir mais lei e ordem. Hoje, as pessoas querem punições mais duras e dizem confiar mais na polícia do que há 20 anos. O momento para confrontar o crime existe. Há clamor social por mais segurança. Como as autoridades vão aproveitar a janela de oportunidade é outra história, que dependerá de contingências políticas.