Fundo Florestas Tropicais Para Sempre: o Brasil assume a liderança que o mundo evita
07 novembro 2025 às 14h41

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O lançamento do Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF), na última quinta-feira, 6, durante a Cúpula do Clima de Belém, representa uma nova abordagem na preservação ambiental. Diferentemente dos modelos tradicionais, que financiam projetos de manutenção de florestas, o TFFF propõe pagar por resultados concretos — recompensando países que consigam manter suas florestas em pé e reduzir o desmatamento, medido por imagens de satélite.
A iniciativa, anunciada pelo presidente Lula na COP28, em Dubai, surge como a grande bandeira ambiental do atual governo brasileiro. O fundo pretende captar recursos no mercado financeiro internacional para remunerar países com florestas úmidas, como Brasil, Colômbia, Peru, Indonésia, República Democrática do Congo e Gana. Trata-se de um modelo inovador, que combina investimento público e privado e estabelece critérios claros para o repasse dos recursos, garantindo que o benefício da floresta em pé seja valorizado globalmente.
No entanto, a cúpula de Belém também evidenciou o contraste entre intenção e realidade política. Países que lideram as emissões globais de gases do efeito estufa demonstraram baixo engajamento. A China enviou apenas seu vice-primeiro-ministro, enquanto os Estados Unidos, que já se retiraram do Acordo de Paris durante a gestão Trump, não enviaram representantes. A Índia optou por um ministro do Meio Ambiente, reforçando a postura ambígua de Nova Délhi, que defende responsabilidades diferenciadas, mas resiste a compromissos mais ambiciosos de redução de emissões.
Enquanto isso, outros países com florestas tropicais reafirmaram seus compromissos. A Noruega prometeu US$ 3 bilhões para a próxima década, a França indicou até US$ 577 milhões até 2030, Brasil e Indonésia garantiram US$ 1 bilhão cada, e Portugal anunciou um aporte de US$ 1 milhão. Ao todo, 34 países com florestas tropicais endossaram a declaração do TFFF, cobrindo quase 90% das florestas tropicais em países em desenvolvimento.

O TFFF é, portanto, uma aposta ousada do Brasil: criar um mecanismo financeiro que não apenas valorize a preservação ambiental, mas também pressione os grandes poluidores a assumirem suas responsabilidades. Resta a dúvida, porém, se países que não mantêm suas florestas vão, de fato, contribuir para o financiamento global. E mais: será que o modelo será capaz de enfrentar a lógica do lucro rápido e do desmatamento ilegal, tão presentes em escala global?
Ainda assim, o lançamento do fundo é um passo simbólico e prático em direção a uma nova visão de política climática. Ele mostra que o Brasil não apenas participa das discussões globais, mas propõe soluções estruturadas e verificáveis — um sinal de que a preservação ambiental pode, sim, se transformar em política de Estado, com retorno financeiro e responsabilidade coletiva.
O TFFF nos lembra que a proteção das florestas tropicais não é um luxo ambiental: é uma necessidade global, cujos benefícios se estendem a todos os países e gerações. Agora, o desafio é traduzir essa ambição em resultados concretos, provando que é possível manter as florestas de pé e, ao mesmo tempo, transformar isso em valor tangível para quem preserva.
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