Dupla discriminação: homens brancos ganham o dobro que as mulheres negras em Goiás
05 dezembro 2025 às 13h16

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O recebimento médio das mulheres brasileiras no último ano foi de 22% menor do que o de homens, com uma diferença de R$ 762 por mês. No caso das mulheres negras, na comparação com os homens brancos, a discrepância é ainda maior. As negras ganham 53,49% a menos que os brancos.
O último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fazendo a relação sexo com a cor ou raça, se mostra perceptível a dupla desigualdade. Em Goiás, no ano de 2024, os homens brancos (R$ 4.524) apresentaram rendimento médio 2,1 vezes maior (108,6%) que as mulheres pretas ou pardas (R$ 2.169). Embora ainda seja alarmante, a desigualdade era maior em 2023, com a diferença entre os números chegando a 124,0%.

De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em cargos de gerência, as mulheres negras recebem até 73% menos que homens brancos. Isso é um dado que não dá para mascarar e demostra o quanto no Brasil há diferentes formas de discriminação. Duas das mais marcantes são as de sexo e de cor/raça. De um lado, as mulheres negras carregam os dois tipos de discriminação e, do outro, os homens brancos – ainda que de maneira heterogênea – não passam pelos mesmos processos discriminatórios.
As mulheres, em geral, enfrentam mais dificuldades de inserção ocupacional. As negras mais ainda. Há mais mulheres negras fora do mercado de trabalho do que em ocupação. Embora a quantidade de mulheres negras trabalhando seja semelhante a de homens brancos, o número de negras fora da força de trabalho é mais do que o dobro de homens não negros. No segundo trimestre de 2025, havia 23,9 milhões de mulheres negras totalmente fora do mercado de trabalho e 2 milhões de desocupadas, ou seja, que estavam sem trabalhar, mas procurando emprego.
As tarefas de trabalho não remunerado, como afazeres domésticos e cuidados com as crianças, idosos, doentes e pessoas com deficiência, são delegadas muito mais frequentemente às mulheres. Por ano, elas gastam 21 dias a mais do que os homens nessas atividades, o que faz com que fiquem sobrecarregadas e torna muito mais difícil para elas o acesso e a permanência em trabalhos remunerados.
A situação é agravada pela ausência de políticas públicas de compartilhamento dessas responsabilidades. A insuficiência de creches e equipamentos públicos de cuidado, a precariedade dos serviços de saúde e as dificuldades de mobilidade urbana tornam o cotidiano das mulheres, sobretudo das negras e pobres, ainda mais exaustivo.
A taxa de desocupação entre as mulheres negras é o dobro em relação a de homens brancos: 8,0% contra 4,1%. Quando ambos são chefes de domicílio, a diferença é ainda maior.

Ainda de acordo com dados do Dieese, uma em cada seis mulheres negras em 2024 estava ocupada no trabalho doméstico ou na limpeza de edifícios. O rendimento médio das trabalhadoras domésticas era R$ 324 menor do que o valor do salário mínimo vigente (R$ 1.518).
Das 10 ocupações mais comuns entre mulheres negras, seis podem ser classificadas como atividades da economia do cuidado, que vão desde serviços domésticos em geral aos de enfermagem de nível médio.
Todos esses dados, números e estatísticas demostram o quão é desigual a relação homem e mulher no mercado de trabalho. No caso das autodeclaradas pretas e pardas, o problema se intensifica e evidencia a necessidade de políticas públicas voltadas para a equiparação salarial. Ou, no mínimo, uma maior conscientização de quem emprega! Pois, comprovadamente, as mulheres têm obtido maior nível de instrução do que os homens.
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