Do assassinato de Kirk aos extremos no Brasil: a democracia em risco

13 setembro 2025 às 14h00

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A democracia se sustenta, acima de tudo, na convivência civilizada de ideias divergentes. O debate público, o respeito à liberdade de expressão e a capacidade de discordar sem recorrer à violência são pilares essenciais de qualquer sociedade plural. No entanto, a tragédia recente nos Estados Unidos evidencia que esses fundamentos podem ser corroídos quando a polarização se transforma em ódio e agressão.
Na última quarta-feira, 10, o influenciador conservador Charlie Kirk foi assassinado durante um debate universitário em Utah. Defensor de ideias polêmicas e até radicais —como o direito irrestrito às armas e a crítica à chamada “ideologia de gênero”— Kirk exercia sua liberdade de expressão protegida pela Primeira Emenda. Nada, porém, justifica que divergências políticas se convertam em tiros. O episódio evidencia a escalada da violência política nos EUA, país que se apresenta como berço da democracia moderna, mas que hoje convive com atentados, invasões ao Capitólio e ameaças constantes contra opositores ideológicos.
O assassinato de Kirk não é um caso isolado: ele reflete um ambiente em que lideranças políticas, como Donald Trump, contribuem para inflamar ânimos e legitimar extremismos. Comentários sobre “grupos lunáticos da esquerda radical” e a linguagem de “vingança” e “guerra civil” alimentam um ciclo perigoso de intolerância e ódio. A democracia americana, apesar de sólida em sua tradição institucional, mostra sinais claros de fragilidade diante da radicalização.
O Brasil, embora com contextos diferentes, não está imune a esse alerta. Nossa política se encontra em extremos que se tornam cada vez mais hostis: de um lado, setores ultraconservadores que defendem discursos excludentes e radicalizados; do outro, movimentos de esquerda igualmente intolerantes, que rejeitam qualquer diálogo com adversários. Esse cenário cria um terreno fértil para a violência, a desinformação e o desprezo às instituições democráticas —exatamente o que tem ocorrido nos EUA.
O episódio de Kirk deveria servir como advertência: a democracia não pode sobreviver sem respeito às diferenças. Precisamos reforçar no Brasil a cultura do debate civilizado, da tolerância política e da responsabilização de quem incita ou pratica violência. Ignorar os sinais que vêm de fora e dos próprios extremos nacionais seria arriscar que nossa sociedade siga um caminho já trilhado pelo exemplo negativo americano: polarização que mata e destrói o espaço público do diálogo.
O contraponto ao radicalismo não é a censura, mas o fortalecimento da democracia em sua essência: liberdade com responsabilidade, diversidade de ideias e compromisso com a paz civil. Sem isso, o futuro político do país corre o risco de ser marcado mais por tragédias do que por debates.
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