Brasileiros precisam ter clareza sobre autores do 8/1

08 janeiro 2024 às 16h00

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Fabrício Vera e Italo Wolff
Nesta segunda-feira, 8, a Operação Lesa Pátria cumpriu diversos mandatos de busca e apreensão, além de um mandato de prisão preventiva. A mais nova fase da operação é realizada, simbolicamente, no aniversário de 1 ano dos ataques em Brasília. A responsabilização está longe de acabar e diversas pessoas envolvidas ainda precisam passar pelo devido processo legal.
Entretanto, os meros civis, que foram agitados e manipulados para invadir os prédios da Sede dos Três Poderes, não podem ser os únicos responsabilizados. Ainda é necessário identificar e punir a alta cúpula que financiou, manipulou e coordenou o caos na Capital. Em especial, os políticos que usaram seus mandatos para articular a invasão.
Enquanto o alto escalão não for exemplarmente punido, o risco de novos atos bárbaros nunca poderá ser descartado. Independentemente da força que o movimento golpista apresenta hoje, haverá a possibilidade de outro ataque à democracia. Mesmo que esteja em crise e perdendo espaços dentro da sociedade agora, este não necessariamente será o caso no futuro.
Segundo pesquisa Quaest publicada neste domingo, 7, a porção da sociedade brasileira que reprova os atos golpistas de 8 de janeiro é de 89% — uma proporção menor do que reprovava no ano passado, quando 94% condenavam os ataque. A taxa de repúdio permanece alta, mas há um imenso problema ignorado na sociedade: a influência de Bolsonaro na organização dos atos golpistas.
O tema divide os entrevistados: 47% acreditam que o ex-presidente teve alguma influência e 43% que pensam o contrário. A maioria (51%) dos entrevistados acredita que os participantes da invasão são radicais e não representam os eleitores de Jair Bolsonaro.
Sem consenso claro sobre a motivação do episódio, é impossível responsabilizar culpados e evitar o problema no futuro. Por isso, é fundamental que, as digitais dos autores sejam expostas — não importa quão alto na hierarquia política e militar sejam os donos das digitais.
Neste momento, conciliar significa aceitar a semente do golpismo. Confundir o público quanto a autoria dos ataques significa dizer que futuros rompimentos com as instituições poderão passar impunes. Obviamente, a responsabilização precisa ser mantida para o baixo clero. A tolerância com violações cada vez mais graves foi um dos fatores que levou à última tentativa de violação da democracia. Mas, punir os pequenos sem que se diga claramente quem são os grandes que tentaram dar um golpe — isto em si faz a tentativa de golpe valer à pena.