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A decisão do presidente Donald Trump de propor tarifas que podem chegar a 50% sobre importações brasileiras reacendeu alertas diplomáticos e econômicos no Brasil e em várias partes do mundo. No centro dessa política protecionista está uma disputa geopolítica menos visível, porém estratégica: o acesso a matérias-primas críticas, como os minerais de terras raras. É justamente nesse ponto que o Brasil se vê, mais uma vez, como uma peça valiosa no tabuleiro global.

O mundo vive um redesenho das cadeias produtivas, com os Estados Unidos e a Europa buscando reduzir a dependência da China, que domina cerca de 85% do refino global de terras raras. Nesse contexto, o Brasil não precisa correr para se tornar uma potência industrial nem se lançar em uma cruzada nacionalista para explorar tudo sozinho. Em vez disso, pode atuar como um fornecedor estratégico, com voz ativa em acordos bilaterais e multilaterais.

A geopolítica moderna é, cada vez mais, uma diplomacia de insumos. Países que detêm acesso seguro a certos recursos passam a influenciar decisões econômicas, comerciais e até ambientais. Para o Brasil, esta pode ser a hora de construir alianças baseadas em interesses concretos: acesso a mercados, transferência de tecnologia, acordos comerciais vantajosos e maior presença nas cadeias globais de valor.

No entanto, é necessário estabelecer critérios claros e pensar em parcerias estratégicas, que podem ser mais lucrativas e estáveis do que a simples venda de commodities. O Brasil tem potencial para atrair países interessados em diversificar seus fornecedores, não apenas os EUA e os países europeus, mas também Japão e Coreia do Sul.

Com os EUA adotando medidas protecionistas, o Brasil deve evitar respostas impulsivas ou reativas. Em vez disso, pode posicionar suas reservas minerais como contrapartida em negociações comerciais, exigindo condições justas em temas como propriedade intelectual, compras públicas e exportações agrícolas. Se é verdade que os minerais críticos são o novo petróleo, o Brasil não deve vendê-los como areia.

Enquanto países como União Europeia, Japão e até mesmo a China firmaram acordos com os Estados Unidos para escapar das novas tarifas, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), representando o Governo Federal, afirma que a soberania nacional é “inegociável” e que pretende buscar o diálogo sem “contaminação política ou ideológica”, postura correta e necessária.

No entanto, a cinco dias do prazo final estipulado pela Casa Branca, com a entrada em vigor do “tarifaço” marcada para 1º de agosto, o Brasil ainda não avançou em nenhuma negociação concreta com Washington, o que aumenta o risco de ser penalizado em cheio pelas medidas protecionistas.

Mais do que protagonismo industrial, o que o país precisa agora é protagonismo estratégico. Isso significa saber quando, como e com quem negociar. Explorar essas riquezas sem estratégia seria desperdiçar uma oportunidade histórica de reposicionar o Brasil em um mundo cada vez mais multipolar.