Traficantes são algozes dos usuários de drogas e operam negócios bilionários; não são “vítimas”
08 novembro 2025 às 21h00

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O presidente Lula da Silva, em mais uma de suas falas inconsequentes, fruto de sua incontinência verbal, e mais que isso, de seu desconhecimento histórico e social — pois ele mesmo afirma que não é dado à leitura — afirmou, até com certa solenidade, e em território estrangeiro, o que é mais constrangedor: “Toda vez que a gente fala de combater as drogas, possivelmente, fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente, os usuários. Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”. Isso em Jacarta, capital da Indonésia, no dia 24 deste mês, onde se encontrava em mais um de seus frequentes périplos mundiais, que pouco ou nada trazem de útil para a sociedade brasileira.
A fala presidencial — e nem poderia ser diferente — repercutiu pessimamente não só perante os estrangeiros em cuja presença foi dita, mas também no Brasil, em que pese a pouca ressonância na chamada “grande imprensa”, mais preocupada em esconder os erros governamentais do que noticiar os fatos em si. Natural. Afinal, ganha para isso.
Mas não duvidem: a fala lulista no exterior, contribui, e muito, para a deterioração da imagem do Brasil, que deveria ser a de um país mais civilizado. A prova disso está no artigo que reproduzimos abaixo. Saiu no “Diário de Notícias”, de Lisboa, talvez o diário mais lido em Portugal. Foi escrito por uma professora universitária portuguesa que se escandalizou com os conceitos lulistas, e fez questão de expressar sua indignação em letra de forma. Julgue o leitor por si mesmo.
Opinião
O traficante de droga, essa “vítima”
Aline Hall de Beuvink
Na semana passada, numa conferência de imprensa em Jacarta, ao falar sobre o combate ao tráfico de droga, o presidente da República Federativa do Brasil, Lula da Silva, disse o impensável: “Toda vez que a gente fala de combater as drogas, possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente. Os usuários são responsáveis pelos traficantes que são vítimas dos usuários também”. Em português de Portugal, “usuários” são os consumidores de droga. Logo, o que o presidente do Brasil disse foi que os traficantes de droga são vítimas dos consumidores. Vejamos a definição de “vítima” no dicionário de Língua Portuguesa Houaiss: “1.ª ser humano ou animal morto em sacrifício a uma divindade ou na execução de algum rito sagrado; 2.ª pessoa ferida, violentada, torturada, assassinada ou executada por outra; 3.ª p.ext. ser vivo, mais freq. pessoa, que morre ou é afetado de modo traumático por acidente, desastre, calamidade, epidemia, guerra etc.; 4.ª pessoa que é sujeita a opressão, maus-tratos, arbitrariedades; 5.ª pessoa que sofre por sucumbir a vício ou sentimento próprio ou de outrem; 6.ª fig. qualquer ser ou coisa que sofre algum dano ou prejuízo ; 7.ª jur. sujeito passivo de ilícito penal; 8.ª jur. pessoa contra quem se comete qualquer crime ou contravenção”.

A minha pergunta é: em qual destas acepções o presidente brasileiro estava a pensar quando achou, verdadeiramente, que um traficante é uma vítima? Subsequentes questões: será a 4.ª, tendo em vista as péssimas condições de vida que ele não conseguiu ainda erradicar do seu país, levando as pessoas ao desespero? Ou a 5.ª, os traficantes serem vítimas do vício dos consumidores? Talvez a 6.ª, em que os traficantes sofrem danos ou prejuízos quando os correios de droga morrem por intoxicação ou são presos? Ainda há as acepções jurídicas, 7.ª e 8.ª, o que leva a ponderar se os traficantes, quando presos, são vítimas do sistema jurídico ou penal? Entretanto, devido ao impacto negativo das suas palavras na mídia, já se retratou, dizendo, na rede social X, “fiz uma frase mal colocada nesta quinta e quero dizer que meu posicionamento é muito claro contra os traficantes e o crime organizado”. Nem foi uma frase mal colocada, nem foi um posicionamento claro: foi uma declaração impensável e um posicionamento dúbio. Foi uma afronta e um desrespeito às verdadeiras vítimas do flagelo que é o tráfico de droga. E é uma pena que o Brasil, já há pelo menos duas décadas, não tenha um presidente digno dos destinos e à altura deste grande país.
Aline Hall de Beuvink é professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do Cidehus). Cidehus é a sigla para o Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades, uma unidade de investigação da Universidade de Évora, em Portugal. O artigo foi publicado em 28 de outubro de 2025, no “Diário de Notícias”.
Máfias tropicais: PCC e CV
Indiscutivelmente, não fica bem o Brasil com uma fala desse teor pelo dirigente primeiro da nação. PCC e CV comandam negócios bilionárias. São máfias tropicais.
Portanto, o crime organizado deve ser tratado com o máximo de rigor e não com palavreado ambíguo.
