Por qual motivo políticos brasileiros não discutem educação, saúde e segurança?

26 fevereiro 2023 às 00h00

COMPARTILHAR
As discussões políticas brasileiras andam acirradas, o que não é novidade. Mais acirradas neste início de governo, em que, como no ditado da casa em que falta pão, “todos falam e todos têm razão”. Nem todos, vá lá.
Mas pergunto ao leitor: se não falta tratar de alguma coisa, nessas muitas discussões, em que se fala de quase tudo, em que discursos de todos os matizes e dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) se digladiam?
Fala-se na Lei Rouanet, que dá dinheiro público para artistas que não precisam; fala-se na ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro, que continua nos Estados Unidos; fala-se nos “golpistas e terroristas”, que não deram golpe nenhum e estão presos enquanto ladrões conhecidos do Erário e traficantes de drogas estão flanando por aí; fala-se das Forças Armadas; fala-se nos pobres yanomamis desnutridos; fala-se da independência do Banco Central; fala-se em emprestar dinheiro do BNDES para uma Argentina quebrada e adotar uma moeda comum com ela; fala-se de quem votou em Rodrigo Pacheco, para presidente do Senado; fala-se de Alexandre de Morais, e tanta coisa mais.
Não falta nada, leitor? Não faltam os grandes problemas nacionais, que os políticos deveriam estar discutindo até a exaustão? Não é sobre Educação, Saúde e Segurança que todos deveriam estar debatendo? Ou tudo anda às mil maravilhas no que é de responsabilidade do governo? Complemento a pergunta: algum político, a começar pelo presidente da República falou uma palavra sobre Educação nestes dias? Alguém se lembrou da Saúde ou da Segurança no Senado, na Câmara ou no Supremo? Nossas elites, com as raras exceções de sempre, definitivamente nos deixam descrentes.
Uma palavrinha sobre Educação, para que o leitor saiba que as coisas não andam bem e para que fique bem-informado, coisa que nossa “grande imprensa” parece não querer que aconteça. Noutra coluna, discuti o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). É um teste de avaliação internacional de aproveitamento educacional, desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. A OCDE é uma organização intergovernamental, com 38 países membros e alguns (Brasil inclusive) negociando sua adesão. São os membros atuais países de apreciável desenvolvimento e superior qualidade de vida. A Organização foi criada com o objetivo de buscar o desenvolvimento econômico e o progresso mundial.
O Pisa testa alunos não só dos países da OCDE, mas também de países convidados, e o Brasil é um deles. Os testes se aplicam a alunos com 15 anos de idade (idade em que teoricamente termina o ensino médio), a cada três anos, desde 2000 (o de 2021 foi cancelado devido à pandemia).
São três modalidades de testes: ciência, literatura e matemática. Fazem uma avaliação comparativa entre os alunos dos diversos países, e medem seu aproveitamento escolar e sua preparação para enfrentar os desafios sociais, profissionais e de aprendizado superior. Fornecem a seus países informações sobre políticas para aprimoramento da sua educação. Os testes visam conferir se o aluno aprendeu para a vida prática. O teste de leitura, por exemplo, avalia não só o aluno sabe ler, mas se ele sabe interpretar o que lê. Se interpreta perfeitamente uma bula de remédio para tomá-lo com segurança, por exemplo. Ou se entende as cláusulas de um contrato.
O teste de matemática avalia se o conhecimento adquirido não foi apenas decorado, e se permite que o aluno administre, por exemplo, suas despesas de acordo com sua mesada, ou se percebe algo das finanças públicas. E o teste de ciências avalia se ele está apto a aplicar o que aprendeu no cuidar da saúde, nas comunicações, nas questões ambientais. A educação é um meio para se chegar à cidadania, à civilização. Se for deficiente, não atingirá esse objetivo, e de pouco ou nada servirá.
Os pontos atribuídos em cada avaliação podem chegar a 800, nível excepcionalmente alto, que só alunos de extrema dotação podem atingir. O mais comum, mesmo nos países mais adiantados, são as notas entre 500 e 600, caindo para 400 (número mínimo aceitável, segundo o Pisa) ou menos, nos países de ensino mais deficiente. A média nos países da OCDE no Pisa de 2018, estava próxima dos 500, para as três modalidades de teste. O quadro a seguir permite uma avaliação do desempenho brasileiro ao longo do tempo.
Desempenho brasileiro nos testes do Pisa-OCDE

Algumas observações são óbvias, quando se olha o quadro acima, e não são nada confortáveis:
1 — No primeiro teste, em 2000, o Brasil ficou em último lugar, entre os países participantes.
2 — No segundo teste, em 2003, ficou em penúltimo lugar, entre 41 países.
3 — Nos demais testes ficou sempre entre os piores, no último quartil.
4 — O desempenho brasileiro crescia um pouco — muito pouco — desde 2000. Mas caiu no governo Dilma. E cresceu um pouco — também muito pouco — no governo Michel Temer.
5 — O aluno brasileiro está atrasado, segundo os critérios do Pisa, pelo menos dois anos em relação a um aluno médio dos países da OCDE, embora tenha frequentado a escola por igual período. E está muito mal avaliado, com nota em torno de 400 ou abaixo, um nível considerado mínimo aceitável pelo programa. Em matemática, ficou sempre abaixo do mínimo desejável. Portugal, para se ter uma comparação, ficou sempre próximo de 500 pontos, acima da média da OCDE.
A conclusão é tão indiscutível quanto triste: o nosso método de ensino, adotado pelos governos de esquerda, desde Fernando Henrique Cardoso, não ensina e nem educa, apenas forma analfabetos funcionais. Os métodos da “Educação Paulo Freire” são um horrível fracasso, que tira dos nossos jovens a oportunidade de uma vida mais produtiva, mais abrangente e de melhor qualidade. E os impede de fazer bem suas escolhas, inclusive no voto. E não é uma questão de gastos. O Brasil gasta 6% do seu PIB com educação para ter uma classificação igual ou inferior a 400 no Pisa. Os países da OCDE gastam em média 5% (20% a menos) e têm uma classificação média próxima de 500, 25% maior. E voltam as perguntas:
Por que os políticos nada fazem, sequer discutem essa deprimente situação? Por que nenhum plano existe para combater este descalabro? Por que ninguém debate o problema, um dos mais urgentes, até porque está na raiz de vários outros? Esse alheamento deve-se à ignorância ou à conveniência?
E a “grande imprensa”, que se acha sempre com direito de opinião, por que se cala? Também conivente? Onde estão os colunistas que dão palpites sobre toda e qualquer coisa?
Até agora, leitor, não conheço respostas.