Nada abala a insaciável cúpula da pior política brasileira

10 setembro 2016 às 10h59
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Existem dois tipos opostos de coragem: a altruísta, a coragem que constrói, que beneficia a sociedade, como aquela do presidente Juscelino Kubitschek quando enfrentou pessoas, fatos e notícias para construir Brasília; como a que impulsionou o marechal Rondon a desbravar o interior brasileiro e estender as linhas do telégrafo até o norte intocado do Brasil; como a do presidente Ernesto Geisel para fazer a Abertura que os radicais de esquerda e de direita abominavam, cada um querendo viver seu modelo de ditadura; como a coragem dos policiais que enfrentam bandidos muito mais bem pagos e armados que eles. Essa, a coragem admirável.
Mas há outra coragem, abominável. É a coragem egoísta, a que só beneficia o corajoso ou os que lhe são próximos, ainda que em prejuízo de muitas pessoas em seu ambiente social. É a coragem dos assaltantes, por exemplo. Ou dos que, não assaltando, fisicamente, armam os desvios, as corrupções, os benefícios que, mesmo não sendo para si, são para protegidos que os não merecem, enquanto os merecimentos são esquecidos.
É preciso, por exemplo, muita coragem para roubar de um médico cubano e entregar o ganho de seu trabalho à ditadura de seu país. Para montar um Mensalão ou um Petrolão, e fazê-los funcionar. Para gatunar um fundo de pensão ou um empréstimo consignado, sabendo que esses recursos faltarão na mesa de um velho aposentado. E assim por diante. Quanta coragem vimos naquela votação “fatiada” do impeachment da presidente. Foi de fato necessário reunir muita coragem para montar uma tal fraude contra o povo e a Constituição brasileira.
A matéria é de tal maneira clara que não inspira dúvidas, mesmo no mais humilde rábula ou no mais inexperiente estudante de Direito. Como poderia abalar o presidente da Suprema Corte do país? E de seu parceiro no julgamento, o presidente do Senado? E também houve grande coragem de uma parte do PMDB no Senado — dizem que a parte mais imprestável dele —, embora na relação dos que votaram a favor da fraude esteja o senador Raimundo Lira, que conheci como pessoa séria e correta.
A despeito de grandes empresários presos, de tesoureiros petistas engaiolados, de bens de ex-diretores da Petrobrás e de fundos de pensão indisponíveis, de multas bilionárias, de sentenças lavradas atribuindo muitos anos de prisão a figurões, de inúmeros processos correndo em Curitiba, essas figuras graúdas da política brasileira ostentam muita coragem quando combinam, executam e não escondem um golpe como esse, que zombou da Constituição, para permitir à ex-presidente manter seus direitos políticos. É claro que a impunidade estimula. Os políticos de cúpula, na maioria, mesmo há anos processados no Supremo, não são incomodados. Por vezes são soltos logo após uma prisão. Não são objeto de uma cobrança mais enérgica por parte da Procuradoria Geral da União. Haja má coragem. Mas ainda há bastante também — consolemo-nos — da boa coragem. Por exemplo, nas atitudes do juiz Sergio Moro, em Curitiba.