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Perdoe o leitor minha insistência sobre o assunto: o regime cubano, que próceres da esquerda brasileira sonham copiar aqui. E não apenas sonham, mas avançam nesse sentido, algo inaceitável, como é fácil demonstrar.

Cuba permanece, há mais de seis décadas, sob o que podemos denominar regime comunista nos moldes soviéticos, uma tirania com graves retrocessos econômicos e sociais — inclusive fome —, sufocamento de liberdades, êxodo populacional, encarceramentos arbitrários, torturas, mortes. Enfim, todas as distorções de uma ditadura sem limites.

A despeito disso, o regime encontra na imprensa mundial uma acolhida descabida, com uma total desinformação sobre o que se passa na ilha.

Pudera: o comunismo não é apenas um regime. É uma religião, uma promessa de paraíso, com seus dogmas que não aceitam discussões, a despeito dos fracassos em todas as ocasiões em que foi experimentado, nas mais variadas regiões do Globo e em etnias as mais diversificadas.

Miguel Díaz-Canel e Raúl Castro: “saiu” um Castro e a ditadura continua | Foto: Reprodução

É insano o vigor com que lideranças políticas brasileiras defendem os regimes comunistas, apesar de todos os seus horrores. Só mesmo uma atitude religiosa para negar com tal determinação uma realidade provada e comprovada. Essa atitude perturba a percepção e o entendimento e faz com que o militante não queira ver o que está claro à sua frente, aceitando como verdades mentiras evidentes e comprovadas.

Listemos alguns exemplos de mentiras contadas sobre Cuba, que esquerdas, socialistas, “progressistas” ou qualquer denominação que se dê a estes cegos, aceitam sem discutir — e defendem como se verdades fossem.

1

Cuba era um país atrasado social e economicamente, e a revolução de Fidel Castro, em 1959, veio para resgatá-lo dessa situação aflitiva.

Nada mais falso.  Richard Gott, jornalista e historiador britânico (Universidade de Londres), especialista em América Latina, mostra que Cuba, em 1958, apresentava o segundo PIB per capita da região, abaixo apenas da Venezuela, que à época explorava com eficácia sua enorme riqueza petrolífera. As taxas cubanas de analfabetismo e mortalidade infantil eram baixas, comparáveis às dos países europeus.

2

Fidel dinamizou a economia cubana, e manteve alta a produção de açúcar, principal produto da ilha.

Grossa mentira. Stephen Geldart, um especialista londrino em commodities, demonstra que Cuba era o maior exportador mundial de açúcar em 1958 (8 milhões de toneladas).

Fidel Castro resolveu tomar o açúcar como exemplo de eficiência do regime, prometendo ao mundo uma produção de 10 milhões de toneladas, em 1969.

Era a época da Guerra Fria, em que a União Soviética gastava bilhões para apoiar Cuba, ali junto dos EUA, seu inimigo de morte.

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Homem examina lixeira em Cuba | Foto: Adalberto Roque/AFP

A campanha de Fidel de Castro mobilizou, além da URSS, comunistas de todo o mundo. Até de Goiás correram voluntários para o corte de cana em Cuba.

O regime não conseguiu passar dos 8 milhões de toneladas, apesar do esforço e de toda a propaganda. E quando, em 1991, cessou a esmola soviética, com o fracasso da URSS, a produção de açúcar cubano despencou.

Hoje, menor que 1 milhão de toneladas, não dá para o consumo interno. Além disso, como mostra o internacionalmente premiado economista cubano Carmelo Mesa-Lago, “de um total de doze produtos agrícolas, oito estavam em 2007 muito abaixo do que se produzia em 1957”.

3     

Cuba era um país dominado economicamente pelo EUA, explorado nos cassinos e na prostituição.

Não é verdade. Os americanos estavam presentes na economia cubana, mas apenas complementarmente, em alguns setores, como na hotelaria.

O jornalista e escritor cubano Carlos Alberto Montaner, que se exilou na Espanha, mostra que no setor economicamente mais estratégico, a produção de açúcar, existiam na ilha 161 usinas, das quais 121 eram de cubanos.

Se Fidel prometeu acabar com a prostituição (como prometeu acabar com a homossexualidade), não conseguiu. A prostituição em Havana continua. Se antes era por desvio de conduta, hoje é por necessidade.

Mas, como disse o pretenso Frei Betto, admirador do comunismo, “as prostitutas cubanas de hoje discutem Marx”.

4

Os EUA protegiam o ditador Fulgêncio Batista, e não queriam sua queda.

Na verdade, os Estados Unidos ajudaram na queda de Fulgencio Batista, pois desejavam na ilha um governo democrático, e não uma ditadura.

Em 1958, o governo de Eisenhower impôs um embargo de armas a Cuba. E durante a revolução de Fidel, a CIA chegou a financiar o movimento 26 de julho, segundo o jornalista Tad Szulc, do New York Times.

5

Com Fidel Castro na Presidência de Cuba, a saúde e a educação públicas vieram a alcançar níveis de excelência, onde permanecem.

Muitas inverdades em poucas frases: Fidel Castro nunca foi “presidente”. Foi ditador por meio século. A saúde pública de Cuba é sofrível, com médicos de formação deficiente e mal pagos, hospitais paupérrimos, falta de equipamentos e de aparelhos modernos, falta generalizada de medicamentos e etc. A pesquisa científica séria aproxima-se de zero em Cuba.

Médicos brasileiros que visitaram a ilha e conseguiram sair dos roteiros turísticos pré-montados são unanimes nessa constatação. E Cuba não se submete a nenhuma avaliação internacional em Educação, pois não se arrisca a revelar o baixo nível educacional a que está submetida a ilha, pela falta de bons professores, métodos modernos de ensino e tecnologia atualizada.

6

Fidel e seus “revolucionários” foram sempre queridos por todas as camadas mais humildes da população, de que cuidavam bem, pois representavam uma antítese da exploração promovida pelos ricos e poderosos.

Se tal afirmativa foi verdadeira nos primeiros dias após a queda de Fulgencio Batista, seria desmentida pelos fatos subsequentes, por demais conhecidos.

A — Os fuzilamentos sumários promovidos logo após a vitória, por Raúl Castro e Che Guevara, sem processo legal, o “paredón”, que matou membros do governo Batista, militares e policiais tidos como repressores, com excessos que chocaram o mundo.

B — A reforma agrária radical, que também atingiu pequenos e médios produtores, forçou migrações em massa e acabou por provocar uma revolta no campo contra Fidel, reprimida com toda crueldade.

Quem conta é um ex-companheiro de Fidel, Huber Matos, em seu livro “Como Llegó la Noche”.

Na serra de Escambray, onde os camponeses se revoltaram contra as reformas comunistas no início da década de 1960, houve repressão violenta do exército cubano. Não faltaram fuzilamentos em massa.

C) Nada mais representativo da insatisfação popular do que a fuga da ilha, muitas vezes com alto risco de vida, para um destino incerto. Muitos se arriscaram, muitas mortes resultaram dessas fugas em embarcações improvisadas que demandavam os Estados Unidos, nos anos 1960 e 1970.

Em 1980, uma surpreendente revolta com milhares de cubanos se abrigando no perímetro da embaixada peruana em Havana, fez com que a ditadura castrista permitisse a saída dos dissidentes da ilha.

Cerca de 125.000 cubanos partiram do porto de Mariel, principalmente para os EUA. Em 1994, após as agruras provocadas pela suspensão da ajuda soviética, na “crise dos balseiros”, milhares tentaram fugir para os EUA nas mais improvisadas embarcações. Em menos de cinco anos, desde 2020, cerca de 1 milhão de cubanos (ou 10% da população total da ilha) fugiu de Cuba, principalmente via Nicarágua, para os EUA.

7     

O atraso de Cuba deve-se ao “bloqueio” promovido pelos Estados Unidos.

Nunca houve bloqueio, exceto na crise dos mísseis soviéticos, em 1962, por poucos dias.

Há um embargo promovido pelo governo dos EUA, visando evitar que suas empresas se envolvam com o governo cubano, que expropriou, sem qualquer pagamento, os bens que os americanos tinham em Cuba em 1959.

Esse embargo nunca prejudicou as relações que Cuba mantém com mais de uma centena de países. Nunca atrapalhou a ajuda maciça que a ilha recebeu, primeiramente da URSS, e quando esta quebrou, da Venezuela. Na verdade, o que falta a Cuba é dinheiro para comprar, inclusive comida, no mercado global.

O próprio Brasil sempre ajudou Cuba, desde o governo Fernando Henrique, e no governo Dilma Rousseff transferiu bilhões de dólares do trabalhador brasileiro para a ditadura cubana, seja por meio do BNDES financiando (na verdade, doando) as obras do Porto de Mariel ou do Programa Mais Médicos, quando a ditadura dos Castro confiscava cerca de 80% do salário dos profissionais cubanos que trabalhavam no Brasil.

Essas e muitas outras mentiras, difundidas mundo a fora, estão inclusive nos livros didáticos oficialmente adotados pelo governo brasileiro. Um absurdo.