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Há cerca de duas décadas, publiquei alguns artigos denunciando o descaso com nossa soberania e o abandono a que os governos de esquerda relevavam nossas Forças Armadas, desde que se aboletaram no governo, na década de 1980. Neste momento, quando surge um embate com os Estados Unidos e o governo de Lula da Silva fala em ataque à nossa soberania (e não aos direitos humanos aqui dentro e aos direitos econômicos lá fora), é bom lembrar que essa defesa de nossa soberania, o cuidado com o patrimônio nacional e a preservação da defesa nacional nunca foram uma preocupação visível dos governos de esquerda que vimos suportando.

Lembro que dependemos do Ocidente para nossos equipamentos de defesa, dos Estados Unidos principalmente. Sem parceria com eles, sem a transferência equipamentos e peças, de eletrônicos e seus softwares ficaremos cada vez mais desarmados. E a proposta do governo não é de aproximação, mas de confronto com os EUA. Esse confronto, esse distanciamento, concomitante com a aproximação com governos antidemocráticos e anti-EUA, é programado, não ocasional.

Lula da Silva declarou, dias atrás, que vai se tornar “cada vez mais socialista, mais esquerdista”. Para que o leitor se certifique de que esses males não são de hoje, e obedecem a um método, reproduzo um artigo de maio de 2006.

Soberania e realidade

Não há como negar que o Brasil possui características naturais raras no conjunto das nações: extensão territorial, recursos abundantes, população compatível com o território e ausência de rigores meteorológicos. Conseguiu, além disso, graças a alguns poucos governos eficientes, avançar na proteção ao trabalhador (Leis Trabalhistas de Getulio), interiorizar sua civilização (Brasília, com Juscelino) e organizar uma infraestrutura regular de desenvolvimento (Energia Elétrica, Combustíveis, Siderurgia, Comunicações e Rodovias, principalmente nos Governos Militares). Quando os governos não atrapalham, o empresariado avança nos serviços, na industrialização, na agricultura e na mineração. Quando os governos não prejudicam, o País se desenvolve. A economia já cresceu às maiores taxas mundiais (décadas de 1960 e 1970), e na média, desde a Segunda Guerra Mundial, cresceu como ninguém.

É justo e é lícito, pois, que nós, brasileiros, possamos aspirar um País desenvolvido tecnologicamente, avançado socialmente, onde saúde, educação e emprego não representem problemas, e muito menos as calamidades atuais. Um País forte, respeitado internacionalmente, o que, veremos adiante, é de muita importância.

Apesar de todos os fatores favoráveis, o Brasil vive em crise há vinte anos. Não proporciona emprego aos seus jovens, que desesperançados, tentam a aventura da imigração ilegal, e às vezes até da prostituição. O Estado é caro, corrupto e falho. Segurança Pública, Saúde e Educação, em que pese a maior carga tributária do Planeta, são o caos. O Congresso vive para si mesmo – e como vive! Nossa política externa, outrora eficiente e altaneira, hoje coleciona fracassos, inclusive perante a inexpressiva Bolívia. E aqui, quero me deter um pouco.

Poder de dissuasão e diplomacia, nessa ordem, sempre foram os instrumentos das nações no trato com as demais. “O relacionamento entre países não se pauta pela solidariedade, mas pela força”, dizia Bismarck. “Os Estados Unidos não têm amigos. Têm interesses”, dizia Foster Dulles. O Brasil vem abrindo mão de seu poder de dissuasão e falhando em sua diplomacia, desde que as esquerdas assumiram o Governo, com Fernando Henrique e depois com Lula.

Nossa diplomacia tem uma tradição de conquistas pacíficas, mas também de firmeza. Desde que o Barão do Rio Branco fixou todas nossas fronteiras sem guerras com os vizinhos, até construirmos Itaipu em parceria e harmonia com nossos ex-inimigos paraguaios, foi assim. Em nossa tumultuada relação com os argentinos, sempre nos conflitamos no supérfluo, mas nos respeitamos no essencial, e, como na Guerra das Malvinas, prevaleceu a solidariedade subcontinental.

Somos pacíficos, mas não nos curvamos, nunca, em nossa história, perante a prepotência. A Guerra do Paraguai foi um exemplo. Não atacamos, mas respondemos de imediato, até as últimas consequências, quando atacados pelo tirano Lopez. Na Segunda Guerra Mundial, fomos os únicos na América do Sul, a enviar tropas para a Europa, de onde nossos pracinhas voltaram respeitados. Mas só o fizemos depois de atacados, em nossos navios, pelos submarinos de Hitler.

Agora tudo muda. Nossa diplomacia tem como metas principais conquistar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, tão pomposa quanto inútil, e tentar liderar o Terceiro Mundo perdoando dívidas de ditadores africanos e cortejando governantes de esquerda que pouco fazem dessas investidas, como a China embargando nossa soja logo após a subserviente visita de Lula a Beijing e o cocaleiro Evo Morales nacionalizando os bens da Petrobrás na Bolívia e aumentando brutalmente o preço do gás que compramos, após Lula ter sido seu cabo eleitoral. E observe-se que tomou, “manu militari” nossas refinarias naquele País e expulsou nossos investidores privados. Sob a complacência, e quase sob os aplausos da claque de esquerda do Itamaraty e do Presidente da República, declarando um e outros “reconhecer o direito da Bolívia sobre seus recursos naturais”. Isto é fugir do assunto. É fugir da responsabilidade. É não defender, como juraram, nossa Constituição, nossos direitos e bens públicos. Não se trata do direito boliviano. Este cabe a eles defenderem, e o estão fazendo muito bem. Trata-se de nosso direito. Temos um contrato internacional discutido durante décadas até ser assinado. Temos o fornecimento de um produto popular, consumido nos lares e veículos, que certamente será majorado – e bem. O Governo, em sua irresponsabilidade pré-eleitoral, já declarou que a Petrobrás não repassará o aumento. Como não? Suas ações são negociadas nas bolsas estrangeiras e isso seria um golpe em seus acionistas. Que acabaria por ser um golpe na própria Empresa.

A verdade é que não temos mais projeção internacional de poder.

A Industria Bélica Nacional foi quase toda liquidada, restando apenas a de armas leves e uma única fábrica de munições, que interesses estrangeiros vêm tentando, usando maus brasileiros, extirpar. Só não o conseguiram pela reação popular no Referendo do Desarmamento. Nossas Forças Armadas, que representariam o poder nacional de dissuasão, não são levadas em conta. Experimentam o revanchismo das esquerdas que tomaram o Governo. São atacadas de todos os lados, acusadas de todos os crimes reais e imaginários, depreciadas nos seus soldos, sucateadas em seu equipamento, ignoradas em sua importância.

Não têm como reagir, e se tivessem não reagiriam, pois suas lideranças estão caladas, ou submetidas a outras, como o sinistro Ministro da Justiça, que se mete constantemente, sem o menor pejo, nos assuntos do Ministério da Defesa.

Não nos espantemos, pois, quando até um chefe de Estado com a estatura moral minúscula como Evo Morales, manipulado por Fidel Castro e Hugo Chávez, tripudia sobre nós. Golpeia a economia popular brasileira. Faz de nós escada para consolidar sua liderança populista sobre a Bolívia. Não temos poder de dissuasão. Não temos diplomacia digna desse nome. Já tivemos. Mas voltaremos a ter, qualquer dia destes, se Deus quiser. Pois embora digam que cada povo tem o governo que merece, os fatos desmentem o ditado. Nenhum povo merece um governo como este.