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O regime militar, que governou o Brasil por duas décadas, é martelado, desde a volta dos civis ao poder, como “ditadura”. Não vamos discutir essa concepção.

A esquerda tem melhor desempenho na guerra da informação, e a direita perde longe nessa disputa. É do jogo democrático.

Está em pauta, nestas linhas, algo mais pontual, uma comparação entre duas figuras presidenciais, entre duas posturas, duas formações, duas concepções de Estado. Uma do regime militar, outra da atualidade. Com fatos – só fatos.

De um lado, um militar que governou por quatro anos, forçou a saída dos colegas fardados do poder, onde ficariam, se quisessem e sem grande esforço por mais um bom tempo. De outro, um civil que domina o governo desde 2003 (salvo o pequeno intervalo do governo Bolsonaro), que se aferra ao poder com todas as suas forças e tudo faz para mantê-lo nas eleições vindouras.

Ernesto Beckmann Geisel

Ernesto Beckmann Geisel (1907-1996), filho de imigrantes alemães, nasceu em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.

Geisel veio de uma infância pobre, teve uma vida de estudos e trabalho, como militar principalmente, obteve sólida formação intelectual e chegou à Presidência da República após uma experiência administrativa bem expressiva (militar, secretário da Fazenda na Paraíba, presidente da Petrobrás e ministro do Superior Tribunal Militar).

O ambiente infantil pobre foi amenizado pela educação exigente dos pais, que tinham uma boa formação colegial e estabilidade familiar sólida.

Luiz Inácio Lula da Silva

Luiz Inácio Lula da Silva (1945-), filho de trabalhadores rurais nordestinos, nasceu em Garanhuns (em Caetés, então distrito de Garanhuns), em Pernambuco.

Ao ambiente infantil paupérrimo, somaram-se, no ambiente familiar, o analfabetismo e o desequilíbrio conjugal, com consequências negativas na carreira futura, como sindicalista ou como político.

Teve experiência limitada como operário fabril, projetou-se como líder sindical e guindou-se a político. Chegou ao cargo máximo do Executivo federal sem nenhuma experiência administrativa.

O leitor pode constatar nas famílias suas conhecidas a importância do ambiente familiar estável na infância, negada pela esquerda. Ela aqui se manifesta: Geisel foi criado em família equilibrada, na qual a pobreza foi em boa parte compensada pela orientação caseira rigorosa, dirigida a valores a serem cultivados ao longo da vida.

Lula teve sua infância marcada pela dissociação familiar e pela falta de orientação paterna.

Além disso, existia (e existe) no Nordeste uma cultura assistencialista que Lula absorveu e que se reflete em suas ações, de maneira negativa.

Embora não haja um determinismo histórico (famílias bem estruturadas podem gerar rebentos dedicados à bandidagem, como de famílias desfeitas podem advir grandes homens), o ambiente familiar sadio é responsável, na maioria dos casos, pelos indivíduos ajuizados e honestos.

Comparemos, levando isto em conta, as duas personalidades quando investidas na Presidência da República.

1

Geisel governou com 17 ministérios, praticamente os mesmos do governo anterior. Os ministros foram criteriosamente escolhidos entre os especialistas mais renomados em suas profissões.

Um exemplo: Alysson Paulinelli foi trazido da carreira de professor e pesquisador para o Ministério da Agricultura. Revolucionou a produção do cerrado brasileiro, usando a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), e hoje somos o maior exportador mundial de alimentos.

Lula da Silva, neste mandato, tem 39 ministérios, ocupados, na sua maioria, por correligionários sem qualificação, apenas cabides de emprego, enquanto Educação, Saúde e Segurança pioram.

2

Geisel, ao longo do mandato, fez 10 viagens ao exterior, todas de justificado interesse nacional e com reduzida comitiva.

Exemplos: na primeira acertou com o presidente boliviano Hugo Banzer fornecimento de gás para o Brasil, e na última, consolidou o acordo nuclear com a Alemanha.

A primeira-dama, Lucy, só acompanhou o presidente em algumas dessas viagens, sempre com muita discrição, e sem registros na mídia. Apenas no primeiro ano de seu primeiro mandato, Lula da Silva fez 33 viagens ao exterior. E, nos quatro anos, 98 viagens, sempre acompanhado de muitos “companheiros”, por vezes deslumbrados que nunca haviam saído do Brasil.

No atual mandato, Lula da Silva já foi ao exterior 53 vezes. Suas comitivas são enormes, hospedadas em hotéis luxuosos, com aluguéis de viaturas caríssimos. E em tudo está presente a primeira-dama, Janja, mostrando inusual deslumbramento.

Para informação do leitor: em viagem de Lula da Silva à China em 2023, a comitiva beirava as 80 pessoas. Na ONU, em 2024, o presidente levou uma delegação próxima de 100 pessoas, tudo financiado com o dinheiro dos brasileiros trabalhadores.

Sabe o leitor apontar as vantagens de tantas viagens? Nem eu.

Pelo contrário, o Brasil diplomaticamente está desacreditado no mundo ocidental, próximo das ditaduras latino-americanas e orientais, afastado dos EUA e da Argentina, nossos maiores parceiros nas vizinhanças.

Dispersou dinheiro do trabalhador brasileiro em obras não ressarcidas, feitas por empreiteiras como a Odebrecht em Cuba, na Venezuela ou em Moçambique, para citar algumas. Cedeu a parceiros ideológicos que nos prejudicaram, como Evo Morales, que encampou as instalações da Petrobrás na Bolívia e Fernando Lugo, que obteve vantagens indevidas em Itaipú.

3

Geisel enfrentou a crise mundial dos Choques do Petróleo, quando os árabes quadruplicaram o preço do óleo no mercado internacional.

O Brasil importava metade do petróleo que consumia e viu sua balança comercial totalmente desequilibrada. Reagiu imediatamente, criou o Proálcool e o Programa de Substituição de Importações.

Em menos de dois anos, reequilibrou a balança comercial.

Lula da Silva está em uma enorme dificuldade com as contas públicas devido aos gastos exagerados de seu governo. Aumentou os impostos (já elevados) mas não consegue equilibrar o Orçamento, pois se recusa a cortar gastos.

4

Geisel enfrentou uma epidemia de meningite meningocócica em seu governo. Reagiu de imediato, comprando milhões de vacinas na França, ao mesmo tempo em que abria uma fábrica de vacinas. Usou métodos modernos de vacinação e debelou a epidemia.

Lula da Silva não consegue vencer uma epidemia de dengue, que nos assola.

5

Geisel, quando eleito, tinha uma filha, Amalia Lucy, funcionária do Ministério da Educação. Discreta ao extremo, demitiu-se, auxiliou o pai no expediente do Palacio da Alvorada e nunca se aproveitou de qualquer mordomia ou da influência paterna.

Lula da Silva tem cinco filhos, citados na mídia, e nunca por ações edificantes. Fala-se em enormes fortunas de pelo menos dois deles, algo que a imprensa, em parte comprada e em parte ideologicamente amestrada, não se interessa em investigar.

6

 Geisel tinha sólida cultura e era um constante leitor. Citava Euclides da Cunha de memória. Lula da Silva gaba-se de nunca ter lido um livro, como se a ignorância fosse uma vantagem, e não um prejuízo, principalmente num presidente.

7

Geisel sempre manteve uma postura irrepreensível em público. Falava pouco, mas quando falava, dizia coisas consistentes e importantes.

Lula da Silva fala muito, diz palavrões, impropriedades e mentiras (admite isso). Nas viagens ao exterior teve a fala suspensa (na ONU) por se prolongar além do permitido, interrompeu o primeiro-ministro canadense (na reunião do G-7 no Canadá), que falava, porque não ouvia a tradução, e até deitou-se no chão (em Paris), para imitar um acrobata, entre outros despropósitos.

8

Nunca pesou sobre Geisel suspeita de corrupção.

Lula da Silva passou 580 dias preso por corrupção e lavagem de dinheiro, foi condenado por nove juízes insuspeitos, em três instancias. Foi descondenado por um ministro do Supremo nomeado por seu governo (ou governo Dilma Rousseff, que dá no mesmo).

Além disso, exportou a modalidade corruptiva usada por aqui (obras superfaturadas por empreiteiras amigas pagando propina) para outros países, onde autoridades se viram envolvidas em processos semelhantes ao nosso Lava-Jato.

Num desses casos – o do Peru – deu asilo à primeira-dama condenada por corrupção (Nadine Heredia) enquanto o marido cumpre prisão por receber propina da Odebrecht, e mandou um avião da nossa FAB buscá-la. Visitou na Argentina outra primeira-dama, presa por corrupção (Cristina Kirchner).

Tudo isso sem falar do tratamento que cada um deu às Forças Armadas e à Indústria de Defesa, assunto para um todo um artigo.

Duas posturas bem diferentes, o leitor há de convir.