É lamentável o fato de o Brasil, com toda a sua potencialidade, permanecer uma nação subdesenvolvida, incapaz de proporcionar a seu povo, que é trabalhador e de boa índole, um mínimo de cuidados básicos, seja na infraestrutura, seja na segurança, seja na saúde, seja na educação.

Em todos esses itens nos envergonhamos, até perante países muito menos dotados, quando entramos em uma comparação global. Não foram capazes nossos governantes, com raríssimas exceções, de apontar um caminho mais risonho para o brasileiro comum, que permanece pobre e desassistido.

Nem mesmo conseguem copiar um bom caminho, que outros países trilharam no desenvolvimento. Absurdamente, pregam como exemplo, muitas vezes, fórmulas fracassadas e países naufragados.

Estamos sendo governados, de há muito, pela ignorância. Peço ao leitor que acompanhe, no quadro e gráfico abaixo, as comparações que fazemos. Recorremos aos números, que são importantes quando estudamos fenômenos naturais e sociais.

É o que dizem os maiores pensadores. Pitágoras (570 a.C. – 495 a.C.) dizia: “Tudo são números, na natureza”. Lorde Kelvin (1824-1907) afirmava: “Não se pode melhorar o que não se pode medir”. Max Planck (1858-1947), o professor de Einstein e tido como o maior físico que já existiu, falava: “Só se conhece realmente aquele fenômeno que se pode medir”. 

Vejamos o que os números dizem, comparativamente, do desenvolvimento de alguns países, o nosso inclusive, em 60 anos recentes.

Gráfico Irapuan Costa Júnior 2222

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A Austrália já era um país desenvolvido em 1960. Estava muito à frente dos outros do quadro comparativo. Continuou a crescer e, embora tenha sido ultrapassada por Singapura em PIB per capita, mantém ainda o maior IDH.

2

Singapura é um fenômeno de crescimento que precisaria ser estudado pelas lideranças brasileiras. Há 60 anos, tinha um PIB per capita da mesma ordem de grandeza de Chile, Brasil e Coréia do Sul (que eram pequenos), e apenas 20% do PIB per capita australiano. Multiplicou por 15 sua renda por habitante, superou neste item a Austrália e hoje em IDH está muito próximo desta.

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Desenvolvimento de Singapura influenciou a China, o segundo país mais rico do mundo | Foto: Divulgação

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O Chile, em 1960, detinha um PIB per capita equivalente ao de Singapura, 20% superior ao do Brasil e igual a três vezes o da Coreia do Sul. Manteve um crescimento discreto, ampliou sua diferença sobre o Brasil (em 2020 era 50% maior), mas ficou muito atrás de Coreia do Sul e Singapura na corrida pelo desenvolvimento. Seu PIB per capita era agora duas vezes e meia menor que o da Coreia e apenas 20% do de Singapura. E seu IDH só superava, em 2020, o do Brasil, entre os cinco comparados.

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O Brasil tinha, em 1960, o penúltimo PIB per capita dos cinco países mostrados. Superava apenas a Coreia do Sul (e superava em duas vezes e meia).

Já em 1980, tínhamos dado um salto em nosso desenvolvimento e tínhamos um índice 40% maior que o do Chile e 60% maior que o da Coreia do Sul.  Nossa velocidade de crescimento tinha sido quase três vezes a do Chile e quase quatro vezes a da Austrália. Vivíamos o reflexo positivo do plano de metas de Juscelino Kubitschek, dos anos 1950 e do “milagre brasileiro” dos anos 1970. 

Mas durou pouco essa alegria. Nos 40 anos seguintes, o Chile voltaria a nos superar (teria um PIB per capita 50% maior que o nosso, em 2020), e Coreia do Sul e Singapura disparariam em seu crescimento. Seu PIB per capita era agora, respectivamente, quatro vezes maior que o nosso (Coreia) e sete vezes (Singapura).

Os números mostram, com clareza, que os caminhos a que fomos levados pelos governos de esquerda, desde Fernando Henrique Cardoso, travaram nosso crescimento e que deveríamos estudar Singapura e Coreia do Sul, para aprender algo com eles (entre 1980 e 2020 nossa economia praticamente se estagnou e cresceu apenas 30% em 40 anos). Mas a ignorância econômica, histórica e até moral de nossos dirigentes vendou suas vistas, exceto para o interesse pessoal, como a manutenção do poder. E nosso IDH é hoje o menor do conjunto.

Violência no Rio de Janeiro Foto Agência Brasil
Violência no Rio de Janeiro: polícia contra traficantes | Foto: Reprodução de imagem da TV Globo

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A Coreia do Sul é outro exemplo de desenvolvimento que merece estudo. Tinha um PIB per capita irrisório em 1960, duas vezes e meia abaixo do nosso, e, 60 anos depois, tinha esse índice igual a quatro vezes o nosso. Multiplicou por 30 sua renda pessoal nesse período, enquanto não conseguimos nem 10% dessa proeza. Tem um IDH em 2020 próximo daqueles de Austrália e Singapura, bem acima do que ostentam Chile e Brasil.

O que explica o salto dado por Coreia do Sul e Singapura, menos dotados que o Brasil? Por que não crescemos como eles? É a pergunta que nossos líderes políticos deveriam fazer. Mas, ao que me consta, nem de longe algum deles tem essa preocupação.

Explicar as vitórias de Coreia do Sul e Singapura (chamados Tigres Asiáticos, juntamente com Hong Kong e Taiwan) demandaria outro artigo, mas algumas razões para seu sucesso podem ser vislumbradas: planejamento governamental; investimento em educação (principalmente) e em capital humano; incentivo à industrialização e à exportação; busca de tecnologia e de investimento estrangeiro; estabilidade fiscal, política e jurídica; pouca presença do Estado na economia.

Esses fatores, todos eles, estão muito longe das mentes pobres dos presidentes que tivemos ultimamente. Não se planejou, exceto no governo Juscelino e alguns governos do regime militar.

Nossa educação segue os caminhos da ideologia e se situa entre as piores do mundo, isso nos três níveis, como mostram todas as comparações internacionais. Não há uma valorização do capital humano, do professor principalmente, mas apenas do “companheirismo”.

Somos um país instável, sob todo ponto de vista institucional e suportamos um Estado mastodonte, ineficiente e corrupto. Como desenvolver com velocidade, arrastando todo esse peso? E o pior: nossos dirigentes nem por um momento se preocupam. Só pensam no poder.