Entenda por que Lisboa, capital de Portugal, é uma das cidades mais belas do mundo

04 outubro 2025 às 21h00

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“Que amor é este que faz ir e voltar, Lisboa?” — Fernando Pessoa
A multicolorida capital portuguesa — afável, capitosa, musical, saborosa e histórica — é a única capital europeia que margeia o Atlântico. E que contempla ao mesmo tempo um belo estuário — o do Rio Tejo. É uma cidade inegavelmente atrativa, o que se comprova pelos números, deixando de lado a emoção que desperta em quem a visita.
Com seus 600 mil habitantes, Lisboa recebeu em 2024 cerca de 8 milhões de turistas. Para que comparemos, a bela Rio de Janeiro, com seus 6 milhões de habitantes, recebeu, no ano passado, 1,5 milhão de turistas. Ou, em outras palavras, resumindo e comparando, Lisboa é 50 vezes mais atrativa do que a cidade carioca, outrora principal polo turístico do Brasil.
Qual a origem — poder-se-ia perguntar — dessa cidade tão magnética, postada ali no extremo ocidental do continente europeu?
Na verdade, não sabe ninguém, pois Lisboa é mais velha que os mais antigos cronistas conhecidos. O pouco que se sabe vem de vestígios arqueológicos e dos mais primordiais registros históricos, quando a cidade já existia como burgo importante.

Presume-se que tribos pré-celtas se estabeleceram no monte e nas colinas por onde hoje se espraia a cidade. Existem monumentos arqueológicos do período neolítico na região lisboeta, indicando habitação alguns milhares de anos antes de Cristo. Há uma lenda, segundo a qual a cidade teria sido fundada por Ulisses, pois quando de volta a Ítaca teria aportado na foz do Tejo e se encantado com a região, fundando ali uma cidade chamada Ulisseia (nome, por sinal, de uma editora portuguesa).
Diz Camões: “Ulisses é, o que faz a santa casa/ À deusa que lhe dá língua facunda;/ Que se lá na Ásia Troia insigne brasa,/ Cá na Europa Lisboa ingente funda” — “Lusíadas” (Canto VIII, estância 5).
Achados arqueológicos mostram traços da presença fenícia no local em época próxima à viagem de Ulisses, contada por Homero na Odisseia, ou seja, perto de 1.200 a.C. Por certo, barcos fenícios atracavam no cais da cidade e mercadejavam nessa época com os locais. Isto faz de Lisboa uma das cidades mais antigas do mundo.
Registros históricos confiáveis começaram a aparecer com a chegada dos romanos à Península Ibérica (ou Hispânia, como a denominavam), após a queda de Cartago (146 A.C.).
Lisboa teria sido tomada pelo general romano Decimo Júnio Bruto Galaico alguns anos depois. No fim do século IV da era cristã, os germânicos visigodos, com o enfraquecimento do Império Romano, tomaram a cidade, onde permaneceram por séculos, sendo expulsos pelos muçulmanos em 711 de nossa era.

O domínio mouro duraria perto de 400 anos, até 1147, quando D. Afonso Henriques, o primeiro rei português, conquistaria em definitivo a cidade, que seria desde 1255 a capital do reino de Portugal.
Nos oito séculos que se seguiram, a história de Lisboa teria registros abundantes, o que por si só daria muitos relatos… Pudera: a cidade viveu ou deu origem aos mais importantes acontecimentos mundiais, proporcionou navegações e descobrimentos, passou pelas maiores adversidades de guerras, sismos e epidemias e deu ao mundo além de história, novos horizontes e poesia. Lisboa não é uma cidade qualquer, e por isso atrai tanto.
A origem do nome Lisboa
E de onde vem esse nome: Lisboa? Há tantas histórias…
Em fenício, porto seguro é “Allis Ubbo”, e há teorias não comprovadas de que viria daí, e devido aos ancoradouros do Tejo usados pelos fenícios antes da era cristã, o nome da cidade.
Talvez por uma corruptela, os romanos que se apossaram da cidade e a chamavam Felicitas Julia, acrescentavam Olissipo ao nome.
Expulsos os romanos, a cidade passou, com os visigodos, a ser chamada pelo germanizado Ulishbon. Que os árabes, quando donos do terreiro, pronunciavam al-Ushbuna ou Ashbouna.
Com os portugueses, prevaleceram os romanizados nomes de Lissabona ou Lisbona, que redundam no moderno Lisboa, embora em alguns países europeus ainda existam variações mantendo a consoante n: Lisbonne (francês), Lisbon (inglês), Lisbona (italiano), e Lisabona (romeno).
A história da moderna Lisboa, da Lisboa portuguesa, começa também com a história de Portugal e com seu primeiro rei, D. Afonso Henriques, que a cobiçava, no início do século XII.
Atrás das muralhas da cidade estão os mouros; e de fora, apertando o cerco, o Rei, que os árabes conhecem e temem, e chamam Ibn-Errik.
Os mouros estão bem murados e são experimentados em enfrentar os cercos.
Afonso II, das Astúrias havia cercado Lisboa, em fins do século VIII; e Ordonho III, de Leão, no final do século X. Sem sucesso, ambos.
O último cerco, dos vikings da Noruega chefiados por Sigur, data de 1.108. Que também não teve êxito.
D. Afonso Henriques vai contar, porém, com um reforço importante na sua luta para expulsar a mourama da cidade. Uma expedição de cavaleiros templários ingleses, francos e normandos que se dirige à Terra Santa acaba de atracar seus navios no Porto. E seus cavaleiros são instados pelo bispo local a se juntar ao rei Afonso Henriques na conquista da cidade de Ashbouna para a cristandade.
O apelo aos seus brios religiosos faz com que aproem suas embarcações para o Tejo, onde vão se entender com o próprio Rei, que termina por convencê-los e cujas fileiras acabam por engrossar.
Corre o mês de junho de 1174, e começa o assédio, que só vai terminar com a superação das fortificações, a exaustão dos mouros e a vitória de Afonso Henriques, em 20 de outubro. A importante Lisboa é agora portuguesa; importante por sua posição portuária e estratégica. Mas a capital de Portugal ainda é Coimbra. Lisboa só vai ser capital quase um século depois.