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Hugo Armando Carvajal, que foi protegido de Hugo Chávez, se for extraditado para os EUA, pode ampliar suas revelações

O leitor possivelmente não saberá de quem se trata se ouvir mencionado o nome de Hugo Armando Carvajal, apelidado “El Pollo”. Embora seja notícia — e muita notícia — pelo mundo afora, pouco sai na imprensa brasileira sobre ele, como pouco saía a respeito do Foro de São Paulo, com quem aliás suas ligações são grandes.

À imprensa de esquerda não interessa que o leitor fique sabendo de algumas coisas, por mais importantes que sejam, e uma caricata CPI da pandemia, por incrível que pareça, rende muito mais páginas de jornais e minutos de televisão. El Pollo (O Frango) é um general venezuelano.

Hugo Armando Carvajal, El Pollo, com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, nos “bons tempos” | Foto: Reprodução

No governo Hugo Chávez foi uma das personalidades mais importantes do regime, o dito “socialismo bolivariano”, e isso por décadas. Comandado de Chávez no Exército, foi por ele levado ao governo e era homem de sua mais estreita confiança. Foi o chefe da inteligência da Venezuela, e diretor da polícia política do país. Mantinha estreito contato com a inteligência cubana e organizava o tráfico de cocaína da Venezuela (que se originava na Colômbia) para os Estados Unidos e Europa, sob cobertura do governo Chávez.

El Pollo protegia as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), e era com seu apoio logístico que elas enviavam suas toneladas de cocaína para os EUA. Fornecia a elas armas e documentos venezuelanos falsos, para que seus “soldados” pudessem transitar pelo exterior, ou receber os resgates pelos sequestros de ricaços colombianos, outra de suas fontes de financiamento. Por isso mesmo, El Pollo tinha a cabeça a prêmio nos EUA, desde 2008, que pagavam 10 milhões de dólares por informação que levasse à sua prisão e extradição para julgamento. Teve um vacilo quando Guaidó foi eleito na Venezuela, ao acenar apoio a ele, mas, com o golpe de Maduro, caiu em desgraça e fugiu para a Espanha, onde, como veremos, tem “amigos”. Fez operações plásticas, usava barba e bigode postiços, e vivia na clandestinidade. Façamos uma pausa.

A despeito de ser incontroversa a união entre a droga e o crime em geral, a ligação dos políticos latino-americanos de esquerda com o narcotráfico já é sabida há muito. Raúl Castro, certamente com o apoio do irmão e chefe, Fidel Castro, tinha com Pablo Escobar, do cartel de Medellín, um acerto para o envio de cocaína para a Flórida, nos Estados Unidos, através de Cuba.

Havia duplo objetivo nas operações, feitas nos anos 1980: obter divisas — cada vez mais escassas com a perda do apoio da União Soviética, que tinha seus próprios problemas a resolver, na época da Perestroika — e enfraquecer o “império dos EUA”, ajudando a corromper sua juventude, com o uso de drogas.

Descoberto e denunciado esse acordo pelo governo dos EUA, Fidel, em 1989, fez o que se chamou o último processo stalinista da História: lançou a culpa das operações sobre o herói da revolução cubana, o popular general Arnaldo Ochoa. Num rápido processo, fez com que o militar e outros oficiais cubanos a ele ligados fossem fuzilados. Também aí o objetivo foi duplo: conseguiu-se um bode expiatório para o tráfico e livrou-se Fidel de uma liderança interna importante, até ameaçadora.

Noutro exemplo, o presidente marxista do Equador, Rafael Correa abrigava na zona fronteiriça com a Colômbia, já em território equatoriano, os narcoguerrilheiros colombianos das Farc, para que escapassem da perseguição do exército de seu país, o que ocasionou crise diplomática com o presidente colombiano Álvaro Uribe, em 2008.

Hugo Armando Carvajal, El Pollo: denúncias envolvem a Espanha, a Argentina e o Brasil | Foto: Reprodução

É sabido que o presidente também marxista da Bolívia, Evo Morales, não só acobertava o tráfico, como chegou a promover oficialmente o plantio de coca junto à fronteira brasileira, facilitando a tarefa dos traficantes. E apenas mais um exemplo, embora outros existam: as Farc, apesar de reconhecidamente criminosas, e não apenas um movimento político, foram recebidas de braços abertos no Foro de São Paulo por figurões latino-americanos, como Lula e Fidel Castro. São fatos hoje inegáveis, mas de que pouco se soube, escamoteados pela imprensa majoritariamente de esquerda, que, zelosa, os escondia. Voltemos a El Pollo.

Ele se encontrava foragido desde 2019, em território espanhol. Em 2014 havia sido preso em Aruba, e estava prestes a ser extraditado par os EUA, mas livrou-se com um passaporte diplomático e um cargo fajuto de cônsul dados pelo então ainda amigo Maduro.

Desta vez, preso há um mês, teve sua extradição para os EUA concedida pela justiça espanhola, mas suspensa na última hora pela mesma. Talvez uma última tentativa de evitar sua extradição por parte de poderosos espanhóis que financiou com dinheiro do tráfico.

A espada, contudo, ainda está suspensa sobre sua cabeça, e ele começa a falar parte do que sabe, mandando recados numa tentativa de escapar à extradição. Por exemplo: afirmou que o dinheiro do tráfico de cocaína foi fundamental na criação do partido espanhol Podemos, aliado atual do governo.

El Pollo citou as autoridades que receberam os recursos e apresentou documentos ao juiz espanhol. Deu detalhes de outras doações de dinheiro sujo, para líderes sul-americanos, como Néstor e Cristina Kirchner, Evo Morales e Lula da Silva.

Partes vasadas de seu depoimento detalham os meios de envio do dinheiro, pelas malas diplomáticas das embaixadas cubanas, que não são abertas pelas alfândegas, algo que de há muito já se suspeitava no Brasil.

Para Cristina Kirchner vencer as eleições de 2007 foi enviada uma ajuda de 21 milhões de dólares, em parcelas de 1 milhão, em voos particulares de Caracas para Buenos Aires, com a cumplicidade de funcionários da alfândega argentina. Uma das remessas, contudo, chegou a ser apreendida por uma funcionária alfandegária desavisada, o que foi muito noticiado à época. O portador, o empresário venezuelano Guido Antonini Wilson acabou por confessar o destino da bolada, mas, com a vitória de Cristina, o caso foi abafado na Argentina.

Carvajal em seu depoimento na Espanha também revelou, como dissemos, doações de dinheiro do tráfico a Lula e ao PT, embora até agora não tenham vasados maiores detalhes, como montantes doados. A imprensa internacional noticiou amplamente o fato, mas, como o leitor deve ter observado, esta notícia, apesar de bombástica, foi praticamente escondida pela imprensa brasileira. Como pode-se deduzir, uma extradição de Carvajal para os EUA pode trazer à tona muita coisa mais, além de detalhes passíveis de provocar sanções a figurões dos partidos de esquerda do Brasil e dos países vizinhos, pois nos EUA a justiça não trata bandidos a pão-de-ló.

De fato, El Pollo carrega consigo uma carga explosiva considerável. Verdadeiro frango bomba.