Conheço os fatos por experiência, e assim os transmito aos leitores, que deles sabem apenas por notícias de jornais. Muitos eram de pouca idade, outros não nascidos ainda, quando eles ocorreram. Falo de Carlos Marighella, a propósito de um filme recente (de 2019) de Wagner Moura, procurando conferir valores a quem roubou, sequestrou e matou inocentes em nome de uma “ditadura do proletariado”, que pretendia ver florescer por aqui. E de recentíssima substituição de atestados de óbito de mortos durante o regime militar, o de Marighella entre eles.

Durante o regime militar, que hoje é chamado, por praticamente toda a imprensa — que, como sabemos, é de esquerda — de “ditadura”, era apodada, até por amigos meus da esquerda, de “ditabranda”, pois admitia partido de oposição, fazia eleições para prefeituras e câmaras municipais, governos e assembleias estaduais, Câmara dos Deputados e Senado, e exercia um controle sobre a imprensa menor do que o de hoje, em que se usam e justiça as verbas públicas.

Coisas impensáveis em ditaduras de verdade, como a de Cuba (que, por sinal, estes meus amigos de esquerda admiravam).

Extremistas armados, treinados e financiados principalmente por Cuba e China, na esmagadora maioria jovens influenciados por chefes que não se expunham, embarcaram na aventura armada de tentar derrubar o governo militar e implantar uma ditadura comunista por aqui. Não conseguiram, como era de se prever, alguns morreram, outros foram presos, outros se exilaram e voltaram com a anistia. Podiam ser iludidos, mas nunca foram santos. Guerra é algo sujo, em que ambos os lados costumam acumular culpas.

Lucas Ferraz capa do livro Injustiçados
Este livro conta a história de alguns guerrilheiros que foram justiçados pela esquerda | Foto: Jornal Opção

Mas, ao fim do regime militar, as esquerdas inventaram as “Comissões da Verdade”, compostas apenas por elas mesmas, e atribuíram a si mesmas gordas indenizações, pagas com o dinheiro dos impostos recolhidos com sacrifício pelos trabalhadores brasileiros. Se autonomearam perseguidos políticos. São bilhões de reais já pagos, inclusive a figurões ligados aos governos petistas, como a ex-presidente Dilma Rousseff e outros.

Mas vamos a Carlos Marighella, que morreu em um confronto com policiais chefiados pelo famoso delegado Sergio Fleury, em 1969.

A certidão de óbito agora emitida fala de “morte não natural, violenta, causada pela perseguição política do Estado”. O Estado não perseguiu Marighella. Enfrentou-o numa guerra que ele declarou, e com seus companheiros, começou.

Como eu disse, guerra é coisa suja, onde excessos estão presentes, dos dois lados. Mas até a guerra costuma ter suas regras, como a de não a estender a quem não tem a ver com ela, poupar o inimigo que se rende, tratar com humanidade os prisioneiros etc.

Marighella, com seu grupo terrorista Ação Libertadora Nacional (ALN), foi um partícipe muito ativo nessa guerra que a esquerda internacional (Cuba e China à frente) moveu contra o regime militar, visando implantar uma ditadura nos moldes soviéticos aqui. Mais de um protagonista de esquerda já confessou isso publicamente.

Carlos Marighella preso 2
Carlos Marighella: líder da esquerda guerrilheira na década de 1960 | Foto: Reprodução

Mas Marighella não era um guerreiro convencional. Era um terrorista, que julgava válidos os meios mais abjetos para atingir seus objetivos. Sequestrar diplomatas de países neutros era válido. Matar inocentes era válido. Matar pessoas humildes, que nada tinham com a guerra, como simples funcionários dos bancos que assaltava, era válido. Achava válido executar prisioneiros rendidos, como achava válido executar seus próprios companheiros suspeitos de traição. Militares estrangeiros que faziam seus estudos no Brasil foram sumariamente assassinados, pelo menos um em frente à família, apenas por serem estrangeiros ou apenas suspeitos de serem inimigos. Jovens soldados, que estavam de sentinela, nos quarteis morreram apenas por usar farda.

Marighella escreveu, em 1969, um “Mini Manual do Guerrilheiro Urbano”, impresso em Cuba (pelo Instituto Cubano del Libro) e distribuído no Brasil para seus “companheiros”, no qual se pode ler coisas assim: “O terrorismo é uma arma a que jamais o revolucionário pode renunciar”, “Ser assaltante ou terrorista é uma condição que enobrece a qualquer homem honrado.” Ou “Sendo o nosso caminho o da violência, do radicalismo e do terrorismo (as únicas armas que podem ser antepostas com eficiência à violência inominável da ditadura) os que afluem a nossa organização não virão enganados, e sim, atraídos pela violência que nos caracteriza.”

Lembro-me bem de um amigo de infância, encantado com a esquerda, mas felizmente apenas no campo político, pois nunca participou de movimentos armados, e que foi a Cuba participar dos cortes voluntários de cana, promovidos por Fidel Castro, em fins da década de 1960. Trouxe-me um exemplar do “Mini Manual”, e dizia (embora nunca tenha sido violento), com admiração, que Marighella se inspirava em Che Guevara, que afirmava: “O revolucionário deve ser uma fria máquina de matar”.

Por conta dessa viagem, teve que prestar depoimento na Justiça Militar, em Juiz de Fora, e por isso, quando constituída a “Comissão da Verdade”, alegou ter sido perseguido pela “ditadura” e, parece, conseguiu uma generosa pensão paga pelo Estado até o fim de seus dias, embora pertencesse a uma família de posses.

Voltando a Marighella e sua ALN: assassinaram dezenas de inocentes, em seus assaltos a bancos, sequestros de diplomatas ou atentados a quartéis, embora a “grande imprensa”, hoje dominada pela esquerda, não toque jamais nesse assunto. Alguns exemplos mais expressivos, para que o leitor se vacine:

1

Em novembro de 1964, terroristas de esquerda colocaram uma bomba no Cine Bruni, no Flamengo, Rio de Janeiro, que poderia ter provocado uma enorme tragédia. Era um protesto contra a Lei Suplicy, que extinguia a União Nacional dos Estudantes (UNE). Matou um humilde vigia (Paulo Macena) do cinema, que a descobriu, e feriu outras pessoas.

2

Em julho de 1968, outra bomba, colocada no aeroporto de Guararapes, em Recife, que visava atingir o presidente Costa e Silva, explodiu antes da hora, matou um jornalista (Edson de Carvalho) e um almirante reformado (Nelson Fernandes). E fez um pobre vigia (Tomaz de Aquino) perder uma perna.

3

Em dezembro de 1967, o bancário Osires Marcondes, gerente do Banco Mercantil, em São Paulo, foi abatido com um tiro por um terrorista que assaltou o banco.

4

Em julho de 1968, o major alemão Edward von Westernhagen, que fazia um curso no Rio de Janeiro, e nada tinha a ver com a nossa disputa interna, foi assassinado friamente por um grupo terrorista. Pensavam que ele era um militar boliviano envolvido na morte de Che Guevara, e o executaram sem verificar.

 5

Em outubro de 1968, o capitão do Exército dos EUA, Charles Rodney Chandler, que fazia um curso numa universidade civil, em São Paulo, foi executado na frente da esposa e dos três filhos, quando saía de casa. Seu crime: ter nascido nos EUA, e por isso ser representante do “Império” norte-americano.

6

Também em outubro de 1968, Wenceslau Leite foi morto em Vila Isabel, no Rio, por terroristas de esquerda para tomarem seu carro, de que precisavam. Não tinha qualquer envolvimento político.

7

Em novembro de 1968, terroristas mataram Estanislau Correia, em São Paulo, apenas para roubar seu carro. Outro civil inocente, sem qualquer participação pública.

8

Em janeiro de 1969, terroristas resolveram explodir uma viatura policial em frente à 9ª Delegacia de Polícia, no Rio. Mataram a jovem Alzira de Almeida, de 18 anos, que passava pelo local.

9

Em setembro de 1969, o cobrador de ônibus Samuel Pires foi abatido por terroristas que assaltaram a empresa onde trabalhava. Pessoa humilde, apolítico, se assustou com o assalto e foi morto sem mais aquela.

Poderíamos citar dezenas de casos semelhantes, em que inocentes foram executados pelos companheiros de Marighella. O leitor pouco ou nada terá ouvido dessas vítimas de uma guerra que não era sua, e cujas famílias não se aproveitaram do dinheiro público distribuído pelas “Comissões da Verdade”. Acautele-se, pois, quando tentarem endeusar os Marighella que surgiram por aqui. Eram bandidos desequilibrados, que fizeram dezenas de vítimas que nada tinham a favor ou contra suas crenças. Eram terroristas e nada mais.