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Tenho que agradecer ao meu amigo Jorge Jacob, que me despertou para a leitura do economista, sociólogo e filósofo norte-americano Thomas Sowell. Seu pensamento límpido e accessível, seus argumentos sólidos nos permitem compreender melhor o mundo em que vivemos. Leio seu livro “A Busca da Justiça Cósmica — Como a Esquerda Usa a Justiça Social Para Assolar a Sociedade” (de 1999, traduzido no Brasil por Ana Beatriz Rodrigues e editado em 2023 pela LVM Editora, 171 páginas). Antes de alguns comentários, apresento ao leitor esse pensador, pois sua trajetória também traz ensinamentos.

Thomas Sowell, negro, nasceu em 1930, em Carolina do Sul, um dos Estados mais racistas daquele país. Cresceu no Harlem, em Nova York, tido como um gueto da raça negra na cidade. Com essa origem, era de se esperar que se tornasse um dos militantes dos movimentos de esquerda dos EUA, a clamar contra as injustiças sociais do capitalismo, mas não foi o que aconteceu.

Sowell cursou economia em Harvard, fez mestrado na Universidade Columbia e doutorado na Universidade de Chicago. Hoje, aos 93 anos, pode se orgulhar de ter escrito mais de três dezenas de livros de economia, sociologia e filosofia política e de ter lecionado em várias universidades norte-americanas. Adquiriu tal autoridade intelectual, que, mesmo sendo um liberal declarado, não é desrespeitado pela esquerda norte-americana presente no meio universitário e na mídia, mesmo quando faz pesadas críticas ao pensamento marxista e a posições reivindicatórias do movimento negro, como as cotas raciais.

O livro que percorro mostra com clareza os motivos do recorrente fracasso dos movimentos esquerdistas em sua busca incessante do que chamam de “justiça social”.

Na verdade, o que os “progressistas” buscam, é o que Sowell batiza como “justiça cósmica”, algo inalcançável, pois certas situações, que por vezes despertam em qualquer um de nós um incômodo sentimento de injustiça, são parte intrínseca da natureza. Estão além de nossa capacidade de interferência, por mais poder que esteja à nossa disposição.

O leitor, que cria com carinho sua gatinha e a alimenta bem, por certo vai se revoltar quando sua cria devorar o canarinho que frequenta seu quintal e canta pelas manhãs. Qualquer um vai se condoer de quem nasceu com um defeito físico, ou foi acometido, sem mais aquela, de uma grave e incurável enfermidade.

Esse último exemplo, aliás, é dado por Sowell em seu livro, quando cita um Prêmio Nobel de Economia, o economista austríaco Friedrich Hayek (1899-1992). Afirmava Hayek que esses acontecimentos, por mais desconforto que produzam em nós, não podem ser considerados justos ou injustos porque “as peculiaridades de uma ordem espontânea não podem ser justas ou injustas”.

A gata do leitor, quando caça o passarinho, apenas cumpre uma lei natural, por muito que isso nos desagrade. A rigor, a gata não pode ser tachada de injusta, por mais bem alimentada que esteja. E se por castigo, for privada de sua ração diária, vai caçar ainda mais passarinhos. Tal é a determinação natural das coisas, que os “progressistas” teimam em não entender, justamente eles, que por dá cá aquela palha, tratam de “negativista” ou “terraplanista” qualquer um que discorde deles. Sowell cita outro economista e Prêmio Nobel, Milton Friedman (1912-2006), que interpretava com muita propriedade e exatidão o acontecido em todos os países que provaram o comunismo: “Uma sociedade que coloca a igualdade – no sentido da igualdade de renda – acima da liberdade, acabará sem igualdade e sem liberdade. O uso da força para alcançar a igualdade destruirá a liberdade e a força, introduzida com bons propósitos, acabará nas mãos de pessoas que a utilizam para promover seus próprios interesses”.

O fracasso da fantasia do socialismo

Como diz Sowell, não podemos, como Deus no início da criação, dizer: Haja igualdade!

Vivemos num universo, com suas leis. A tentativa de mudanças nesse universo sempre terá um custo, que é preciso avaliar. Essa verdade, tão cristalina, é ignorada pelos movimentos de esquerda, que insistem na experiência, a despeito das dezenas de práticas fracassadas que fizeram, e que tiveram alto custo social pelas infelicidades causadas, pelas mortes provocadas e tantas desgraças mais.

Digo sempre que a pretensão dos socialistas é que um dia consigam lançar uma pedra para o alto e vê-la ficar suspensa no espaço, em vez de cair, pela inevitável lei da gravidade.

Todas as experiências socialistas terminaram em fracasso, com um balanço de sangue e prejuízos. As sociedades que as experimentaram e delas escaparam não querem ouvir falar delas, e vivem hoje em melhor situação, quer do ponto de vista material, quer no que respeita ao conforto moral.

Todo o Leste Europeu, que viveu o horror comunista sob Ióssif Stálin, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e libertou-se com a queda do Muro de Berlim, sequer aceita discutir a hipótese de uma volta ao regime socialista.

As poucas sociedades que ainda vivem sob esse regime só não fazem um movimento de mudança pela coerção policial que existe e é parte inseparável do sistema. Mas são sempre visíveis os movimentos de escape. Dez por cento da população cubana fugiu da ilha, principalmente para os vizinhos EUA. Havia uma permanente evasão de alemães orientais para a Alemanha Ocidental, durante a Guerra Fria, mesmo com risco de vida no cruzar a fronteira.

A inevitável comparação entre as condições econômicas e sociais dos regimes socialista e capitalista, ainda que sempre houvesse uma tentativa por parte da esquerda de escamotear seus dados, serviu como motor para os movimentos libertários dos que escaparam da armadilha e como alerta aos poucos que permanecem nela. O operário da Alemanha Ocidental ganhava duas vezes e meia o que percebia seu colega da Alemanha Oriental para fazer o mesmíssimo trabalho, durante a Guerra Fria.

Cuba é um talvez o único país do mundo com racionamento de alimentos fora do tempo de guerra. Em suma: os regimes de esquerda, para obterem sucesso, necessitam da mudança das leis da natureza, o que não é possível no universo em que vivemos. E não temos outro universo à nossa disposição.