COMPARTILHAR

A violenta reação do presidente Donald Trump à ascensão dos BRICS como alternativa monetária ao dólar torna-se mais compreensível quando se considera, além da geopolítica, o conceito e o peso financeiro da seignioragem — o lucro obtido pela emissão de moeda.

Nos Estados Unidos, produzir uma nota de US$ 100 custa apenas US$ 0,17. Cada cédula representa, portanto, um ganho líquido de US$ 99,83 para o governo. Entre 2012 e 2021, o Federal Reserve repassou mais de US$ 800 bilhões em lucros ao Tesouro — uma receita quase invisível, mas poderosa, sustentada pela confiança global no dólar como reserva de valor.

Essa confiança, no entanto, está em erosão. Desde que Richard Nixon rompeu, em 1971, o vínculo entre o dólar e o ouro, a moeda americana passou a se apoiar unicamente na credibilidade dos EUA. Naquela época, uma onça troy de ouro valia cerca de US$ 35. Hoje, ultrapassa os US$ 2.400. Isso representa uma perda de 98,5% do poder de compra do dólar em relação ao ouro — um processo de desvalorização contínua que escapa à percepção cotidiana por estar diluído ao longo das décadas.

Apesar disso, a dominância global do dólar resistiu graças à sua função de reserva internacional. Estima-se que cerca de US$ 12,7 trilhões estejam entesourados no mundo em moeda física, depósitos e títulos do Tesouro americano — ativos detidos por governos e particulares que sustentam o sistema de déficits gêmeos: o orçamentário e o comercial.

Nesse arranjo, os Estados Unidos compram produtos chineses, por exemplo, e pagam com papéis em dólar que o resto do mundo aceita como valor. Enquanto os países continuarem a guardar dólares e Treasuries, o sistema se mantém. Mas isso está mudando. Diversos países, liderados por China, Rússia e aliados do BRICS, vêm reduzindo gradualmente suas reservas em dólares e firmando acordos bilaterais em moedas locais.

A reação de Trump não é só retórica — é um grito de alarme. Como ele mesmo declarou, “perder o dólar como moeda de referência é perder uma guerra”. Foi exatamente isso que aconteceu com o Reino Unido após a Segunda Guerra Mundial: com a libra esterlina inflacionada e fragilizada, o mundo migrou para o dólar. E o Império Britânico desintegrou-se.

Trump pode ser instável, mas não é tolo. Ele sabe que o melhor produto de exportação dos Estados Unidos é o dólar — e está disposto a defendê-lo a qualquer custo. Ao propor tarifas sobre importações e atacar concorrentes cambiais, ele tenta preservar o sistema baseado na confiança externa e no consumo interno financiado pela emissão de moeda e dívida.

O desafio é gigantesco. Se o mundo parar de aceitar dólares em massa, os EUA terão de cortar até US$ 1 trilhão por ano em gastos ou arriscar uma espiral inflacionária perigosa. Nixon comprou tempo ao romper com o ouro. Trump tenta manter o dólar como moeda global à força de tarifas, retórica nacionalista e pressão diplomática. É a defesa desesperada de um império que já não tem o mesmo fôlego de antes — mas que ainda imprime a moeda que o mundo inteiro usa.

Ter presente o que está em jogo é fundamental para entender a guerra pelo dólar travada pelo Trump.

Nota

Texto editado pela inteligência artificial da OpenAI.