Os Estados Unidos não irão produzir café ou laranja, e os preços desses produtos subirão

20 setembro 2025 às 21h00

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“Nunca interrompa seu inimigo enquanto ele estiver errando.” — Napoleão Bonaparte
No meu texto recentemente publicado nesta seção, sob o título Comprando gato por lebre, recordei ao leitor que David Ricardo, um dos fundadores da economia moderna, revolucionou o pensamento ao formular a teoria das vantagens comparativas — segundo a qual cada país deve se especializar naquilo em que tem menor custo relativo —, ignoradas por Trump.
Alguns leitores escreveram questionando a validade dessa ideia. Para eles, a proteção à produção nacional traria vantagens à economia: mais empregos, autossuficiência, aumento da arrecadação…
Em outras palavras, tudo o que Trump promete entregar aos Estados Unidos com seu retorno ao mercantilismo — prática ultrapassada que vigorou entre os séculos XV e XVIII com o objetivo de acumular riqueza e poder para a nação.
Tentando ser didático e sem complicar com todas as variáveis possíveis, proponho um exercício de raciocínio simplificado. Vejamos.
Imagine que a França decida taxar as importações de whisky da Escócia. As consequências, do lado francês, seriam: aumento de preços, redução do volume importado e melhora na arrecadação de impostos. Do lado escocês: queda da produção com perda de eficiência (o que encarece os custos), redução do nível de emprego e menor ingresso de divisas. Além disso, sem tradição nem competitividade suficiente para produzir whisky, a França teria custos altíssimos para suprir o mercado internamente.
A prática mostra que, a cada ação protecionista, costuma seguir-se uma reação equivalente. Assim, a Escócia provavelmente retaliaria, tarifando os vinhos franceses — com resultados semelhantes.
Em resumo, a tarifação não resulta em nada além de um aumento de impostos sobre o consumo, acompanhado da perda de produtividade e da redução de vantagens na indústria e nos serviços. Todos saem perdendo, como já demonstrara Ricardo.
E se a Escócia não retaliar? Neste caso, haverá um desequilíbrio na balança comercial. A França continuará exportando vinhos e receberá mais moeda do que pagará. Já a Escócia terá o contrário. Com menos euros em circulação, a moeda europeia se valorizará. Pela lei da oferta e da procura, a libra se desvalorizará até reequilibrar o balanço de pagamentos. O whisky ficará mais barato e a tarifação perderá o efeito. Assim, o suposto benefício desapareceria.
Voltemos ao projeto de Trump. Os Estados Unidos não irão produzir café ou laranja, e os preços desses produtos subirão. Os bens antes importados, agora fabricados internamente, também custarão mais caro. Além disso, os americanos dificilmente aceitarão os trabalhos de menor qualificação antes desempenhados por imigrantes latinos deportados, o que pressionará os salários para cima. Resultado: os consumidores pagarão mais caro pelo importado, pelo produto local e ainda enfrentarão escassez de mão de obra — tornando a indústria americana menos competitiva.
O mercado sempre se antecipa aos fatos. A desvalorização do dólar, após Trump, foi uma reação natural à ameaça de inflação causada pelo desprezo às vantagens comparativas proporcionadas pelo livre-comércio.
Ricardo já havia mostrado que todos perdem com o protecionismo; Napoleão lembrava que não se deve interromper o inimigo em seu erro. Trump, ao insistir no mercantilismo, confirma os dois.
Nota
Texto editado pela inteligência artificial da OpenAI.