O rato que ruge no Galeão

27 setembro 2025 às 21h00

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Roberto de Oliveira Campos costumava dizer que o Brasil tinha três saídas para o subdesenvolvimento: o Galeão, Guarulhos e o Liberalismo. Se vivo fosse, talvez acrescentasse uma quarta: declarar guerra aos Estados Unidos e, de quebra, ao sermos derrotados, pedir ao presidente Donald Trump que nos transformasse no 52º Estado da União — depois do Canadá, claro.
Com isso ganharíamos moeda forte, língua universal, segurança jurídica e até poder militar, além de um salto civilizatório.
Mas, como lembrariam logo os críticos dos americanos, essa ideia não passa de uma versão tropical de “O Rato que Ruge” (The Mouse That Roared), uma sátira política britânica publicada em 1955, escrita por Leonard Wibberley.
Uma sátira em que o minúsculo Ducado de Grande Fenwick declara guerra aos EUA para perder e, com isso, receber ajuda como a Europa e o Japão depois da Segunda Guerra Mundial.
Na ficção, o impossível acontece: o exército ridículo de Fenwick envia uma “força invasora” composta por apenas vinte e poucos soldados, armados com armaduras medievais, espadas e arcos, mas acabam, por acidente, vencendo a guerra.
E aqui surge o perigo: Trump topar a guerra com o Lula e nós, por ironia do destino, acabarmos vencendo. Aí, em vez de dólares e estabilidade, teríamos de exportar nossas manias — o jeitinho que viola direitos, a fila que desrespeita o cidadão, os compromissos que não se cumprem, o favor que nunca acontece, a corrupção que faz a máquina girar e os privilégios dos príncipes da nação . Os americanos não suportariam nem isto e nem o jeito petista de governar. Seria o caos para uma cultura acostumada à lei e à ordem.
E se Trump vencesse? O caos não seria menor: perderíamos o feijão com arroz, o samba no sangue, a gargalhada em dia de tragédia, a cordialidade constante, a paixão acima da razão e o conforto da desordem. Em suma, trocaríamos calor humano por frio de ar-condicionado.
Diante desse dilema, melhor ficar com nossas velhas mazelas. Afinal, como ironizava Campos, o Brasil nunca perde a chance de perder uma oportunidade. E esta deve ser mais uma delas.