É da natureza: todos os corpos e sistemas têm seus inimigos. O ferro é corroído pela ferrugem, os animais sofrem doenças, e o dinheiro enfrenta a inflação.

Na história recente, em vários países, o dinheiro foi desvalorizado a níveis extremos. A inflação, como uma verdadeira “doença social”, corrói toda a estrutura de uma nação: política, econômica e socialmente.

Lenin já dizia que, para enfraquecer um inimigo, bastava aviltar sua moeda. Muitos governos seguiram esse caminho, promovendo gastanças incontroláveis e orçamentos deficitários.

O combate à inflação dividiu escolas de pensamento. Duas se destacam: a ortodoxa e a heterodoxa.

— Heterodoxos: atribuíam a inflação à ganância dos agentes econômicos, aos aumentos arbitrários de preços e à inércia inflacionária — o hábito de reajustar hoje porque ontem já se reajustou.

— Ortodoxos: defendiam que a raiz do problema estava nos déficits governamentais e na emissão excessiva de moeda, embora sem ignorar choques ocasionais de oferta.

Milton Friedman, com sua clareza única, pôs o ovo em pé: “a inflação é sempre e em qualquer lugar um fenômeno monetário”. Sua metáfora era simples e precisa — corte a emissão de moeda e a inflação desaparece. É como fechar as comportas: a inundação cessa.

Essas ideias foram testadas no Brasil. Todos os experimentos heterodoxos fracassaram retumbantemente: congelamento de preços, trocas de moeda, confisco de depósitos bancários e artifícios de indexação. Tudo isso apenas desmoralizou governos e arruinou famílias e empresas.

A hiperinflação brasileira só foi vencida com o Plano Real. O êxito veio da combinação entre a URV, que quebrou a inércia inflacionária, e o ajuste fiscal, que reduziu a necessidade de emissão monetária. O aumento de impostos (ver dados no rodapé) — equivalente a cerca de 5% do PIB — foi o pilar para equilibrar as contas públicas. Não houve mágica: houve disciplina fiscal, a URV foi um coadjuvante da causa principal – a troca da emissão de moeda por aumento da arrecadação.

Na Argentina, sob o comando do presidente Javier Milei, o enfrentamento da hiperinflação seguiu um caminho distinto. Optou-se por um ajuste ortodoxo radical: busca de superávit primário com corte de gastos, disciplina monetária, redução de impostos e respeito a contratos. Em poucos meses, a inflação caiu drasticamente.

Diferentemente do Brasil de 1994, Milei evitou calotes, congelamentos ou confiscos, preservando direitos e estimulando a competitividade. Diferente do Plano Real, Milei deixou a inércia inflacionária morrer de anemia.

Ao eliminar a emissão descontrolada, a causa primária do desajuste monetário, também se destrói a causa secundária: a inércia inflacionária. Por isso, a experiência argentina pode deixar a economia estruturalmente mais competitiva do que a brasileira, que herdou do Plano Real uma carga tributária sufocante e decréscimo da renda per capita.

A lição permanece clara: Milton Friedman tinha razão. A inflação é, antes de tudo, um fenômeno monetário. As demais explicações são apenas manifestações secundárias.

O Plano Real foi eficaz, mas não genial: venceu a inflação porque cortou a emissão via ajuste fiscal pesado. Sem o fim a emissão de moeda, a URV, por si só, seria outro fracasso heterodoxo.

O Plano Milei, se consolidado, pode mostrar que a culpa da inflação é dos gastos do governo e a vítima, a sociedade.

Nota sobre a carga tributária no Brasil

Jorge Jacob gráfico 33

Este gráfico mostra a evolução da carga tributária brasileira (% do PIB) de 1990 a 1996. Dá para ver claramente o salto em 1994–1995, quando o Plano Real entrou em vigor: de cerca de 25% para quase 30% do PIB, o que corresponde a um aumento de aproximadamente 5 pontos percentuais do PIB em poucos anos.