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Conhecedor da minha admiração por Friedrich August von Hayek (1899-1992), o meu amigo Roberto Teixeira da Costa presenteou-me com o livro “Hayek no Brasil” (Instituto Liberal, 312 páginas), que eu desconhecia. Trata-se de um compêndio de artigos, entrevistas e debates havidos nas três visitas feitas pelo economista ao país. Visitas que não teriam acontecido se não fosse a iniciativa de Henry Maksoud (1929-2014), editor da revista “Visão”, amigo pessoal e companheiro do ilustre intelectual na prestigiosa Mont Pelerin Society — da qual fui membro.

Poucos são os que conhecem a bibliografia de Hayek. Muitos leram ou ouviram menção ao livro que lhe deu o Nobel de economia, “A Caminho da Servidão” — uma leitura obrigatória a todos os que se interessam pela preservação da liberdade individual. Este livro, “Hayek no Brasil”, lançado em 2006 pelo Instituto Liberal, por iniciativa de Cândido Mendes Prunes, torna acessível um bom mostruário de pensamento seminal do autor. A redação é em tom jornalístico, portanto muito acessível — como fácil de entender é tudo desse autor. Os neófitos terão uma boa visão das propostas de Hayek e aos conhecedores da sua obra é uma oportunidade de refletir sobre elas.

Sobressai no texto, além da criatividade, a personalidade hayekiana. Talvez a sua origem austríaca explique a honestidade, franqueza e fidelidade às ideias. O seu idealismo não perdoa nem as suas discordâncias com amigos próximos como Milton Friedman, Lord Keynes e outros. Hayek é radical, isto é, não fica nas ramagens, vai a fundo.

Hayek foi intelectualmente profícuo. Produziu muito na sua longa vida. Sobretudo, foi original. Reconhece ter feito na sua vida uma descoberta e duas invenções. A descoberta é a função-guia dos preços no controle do mercado. As duas invenções, uma é a desnacionalização da moeda, e a outra, a proposta de reforma da democracia ( a demarquia).

Na formulação da função-guia dos preços demonstra ele serem os preços um sistema complexo de informações a orientar a produção e distribuição dos bens. Nenhuma inteligência é capaz de absorver todas as informações transmitidas pelos preços. Por isto os preços devem ser livres, sem interferências. Com a sua habitual capacidade retórica, diz: “Se houvesse um homem onisciente, a liberdade seria dispensável”.

Na desnacionalização da moeda, em essência, Hayek se atém a um princípio que defende: o governo não deve ter o monopólio do dinheiro. “Nunca se terá uma moeda boa, se o governo puder emitir”. É o fim dos bancos centrais e a sua burocracia. Na reforma da democracia, a demarquia divide o governo em duas assembleias: a assembleia legislativa, que se incumbiria das leis e a assembleia governante, que teria responsabilidade do governo.

Hayek foi interlocutor privilegiado dos governos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan. Era um pregador incansável dos valores da liberdade. Considerava-se um libertário. Não aceitava a definição liberal por esta confundir com a deturpação do sentido existente nos Estados Unidos. Não se furtava a debates e palestras mundo afora para difundir as suas crenças. Foi combatido e marginalizado por muitos anos, enquanto prevalecia os engodos das teses de John Maynard Keynes, de quem foi amigo pessoal. Mesmo assim nunca abriu mão do seu proselitismo.

 Afirmava Hayek: “O liberalismo é cientificamente superior ao socialismo, e sobretudo ao comunismo, que considerava uma superstição. Chamo de superstição todo sistema em que os indivíduos acreditam saber mais do que a realidade. Estes acreditam poder refazer o mundo a partir de um modelo de sociedade teórico”.

Respondendo a um jornalista para que explicasse o Estado minimalista, deu a seguinte resposta:

Hayek — há dois campos na ação do Estado: os poderes de coerção do governo e os serviços que ele presta sem coerção. Seus poderes de coerção devem ser limitados à aplicação das leis, as mesmas para todos, e à defesa contra a agressão externa. Não nego que o governo possa prestar outros serviços, até mesmo financiá-los…desde que ele nunca tenha o monopólio desses serviços”.