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Nas democracias verdadeiras, os eleitores dispõem de uma pluralidade de personalidades como candidatos aos cargos públicos. Poder-se-ia esperar que, diante de ampla escolha, os mais qualificados fossem eleitos. Não é o que acontece, como regra.

Com frequência, os bem-sucedidos nas eleições não são os mais preparados para governar, mas os que têm maior exposição nos meios de comunicação: artistas, religiosos, esportistas ou militantes de causas públicas. Prevalece a notoriedade sobre a competência; o histrionismo ao comedimento. Os partidos escolhem candidatos com maior potencial de votos, e na eleição vence quem promete mais benefícios imediatos ao eleitor — ainda que com promessas inconsequentes.

As campanhas eleitorais tornaram-se verdadeiros leilões.

No Brasil, exemplos não faltam. Silvio Santos, pela imensa popularidade, foi várias vezes convidado a disputar até a Presidência da República. Soube resistir à tentação. Já Tiririca, com o slogan debochado “Vote em mim que pior não fica”, e mesmo Cacareco, o rinoceronte, foram fenômenos eleitorais de sucesso.

Esse fenômeno poderia sugerir um desprezo dos eleitores brasileiros pelas consequências do voto. Mas não se trata de exclusividade nacional. No mundo inteiro surgem candidatos cuja notoriedade suplanta qualquer experiência em gestão pública.

Os Estados Unidos, expoente da democracia popular, não se diferenciam. Elegeram e reelegeram Donald Trump, um milionário de reputação controversa, que ganhou projeção com seu programa de televisão. No governo produziu um grande desarranjo político e econômico, foi eleito por conservadores e independentes. Estes votaram mais na figura pessoal do que nas ideias.

Os conservadores e liberais esperavam um presidente fiel ao ideário da liberdade econômica. Compraram lebre e levaram gato. Trump mostrou-se mais intervencionista do que muitos democratas seriam. Em poucos meses de governo, comprometeu avanços construídos ao longo de décadas para consolidar uma ordem internacional liderada pelos Estados Unidos.

Mesmo ao enfrentar problemas reais do país, seus métodos — baseados no uso e abuso da força — desgastam relações diplomáticas e transformam parceiros comerciais em adversários. A política de tarifas às importações, apresentada como defesa da economia nacional, nada mais é do que um pesado aumento de impostos a ser pago pelos próprios consumidores americanos. Do couro sai a correia.

Em sua ignorância sobre as causas do enriquecimento dos Estados Unidos, Trump ignora a lição clássica de David Ricardo: a teoria das vantagens comparativas. O comércio internacional beneficia todas as nações quando cada uma se especializa naquilo que produz com menor custo relativo. Essa especialização gera mais eficiência, preços mais baixos e prosperidade compartilhada. Ao adotar medidas protecionistas e tentar produzir quase tudo internamente, Trump regride ao mercantilismo, já superado há séculos.

Os conservadores e liberais, que acreditaram estar elegendo um defensor da liberdade econômica, acabaram entregues ao populismo intervencionista. Votaram no gato pensando que fosse lebre — e pagarão caro por esse engano. A lição, porém, é universal: em qualquer democracia que confunda notoriedade com competência, o eleitor corre sempre o risco de comprar ilusões a preço de realidade amarga; em qualquer economia que violente a economia de mercado o preço é pago pela sociedade.