A Torre de Babel: populismo leva o Brasil a ser um fiasco econômico

04 outubro 2025 às 21h00

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Sem querer ou saber, somos escravos do passado e das nossas paixões. Nossa natureza não gosta de pensar. Buscar a verdade é menos confortável do que viver as nossas ilusões
A Torre de Babel tornou-se um símbolo da importância da boa comunicação entre os homens. Bastou deixarem de se entender para encerrar a ambiciosa aventura humana com o fim da Torre.
A maldição divina foi além de impedir a comunicação ao misturar os idiomas. Fez também com que, mesmo dentro de uma língua comum, houvesse dificuldade de entendimento. A boa comunicação, no sentido exato de “colocar em comum”, tornou-se uma arte que poucos dominam.
Os bons da retórica, para serem bem-sucedidos na conversão dos opositores às suas ideias, dependem da existência de três recursos:
— a linguagem, com suas figuras gramaticais;
— a retórica, com sua eloquência;
— e uma condição emocional sujeita aos mesmos interesses e à mesma ordem de valores.
A linguagem
A linguagem tem muitas limitações. As palavras não são instrumentos de precisão: não têm peso, cor ou dimensão. Dependem de adjetivos e advérbios para melhor definir o que se deseja. Ao mencionar, por exemplo, uma cor, se queremos nos expressar com clareza, precisamos indicar a tonalidade. Azul celeste é outra coisa que azul-marinho.
Já os números são precisos. Diz o provérbio que os números não mentem. Mas é preciso lembrar: sua interpretação pode ser manipulada. Ainda assim, eles são, por definição, exatos naquilo que expressam. Se dizemos um número qualquer, ele dispensa aditivos. Ninguém, ao ler um número, imagina mais ou menos do que está expresso. Por isso, tudo o que pode ser quantificado ou mostrado em porcentagem deve merecer preferência em nossos discursos.
Dispensa comentários a importância do bom uso da gramática, da precisão vocabular e da economia de palavras.
A retórica
A retórica, que tem origem no grego rhetoriké (arte de falar bem), é a arte de usar a linguagem de forma eficaz para persuadir e influenciar. Seu objetivo é transmitir uma mensagem de forma clara, convincente e persuasiva.
Um bom discurso é aquele que se atém a um só objetivo. Textos dispersos, prolixos, com muitos alvos e sem centro de gravidade, em geral, não são eloquentes. Um bom discurso deve ter começo, meio e fim.
Identidade de interesses
Ainda que um discurso domine a linguagem, com o uso adequado das palavras, números e boa gramática, os resultados nem sempre são os desejados. Uma enorme barreira existe.
É uma barragem erguida em nossas mentes, ao longo dos anos, com nossos acertos e desacertos, e que nos condiciona. Todos nós temos uma carga de crenças adquiridas, que defendemos sem criticá-las, e de interesses, que queremos preservar.
Todos temos um véu de preconceitos e paixões que nos impede de enxergar crenças diferentes. Esse véu, tecido por nossas vivências, cristaliza-se em nossa psique e nos torna resistentes à mudança.
Sem querer ou saber, somos escravos do passado e das nossas paixões. Nossa natureza não gosta de pensar. Buscar a verdade é menos confortável do que viver as nossas ilusões. Pensar tem o preço da angústia e nem sempre a recompensa da certeza.
Essa submissão ao passado, a pouca disposição de pensar e a resistência em mudar de perspectiva é que tornam difícil a tarefa daquele que deseja mostrar uma outra visão do mundo.
Poucos têm a flexibilidade mental do filósofo francês Blaise Pascal (1623–1662), que, ao ser criticado por ter mudado de ideia, respondeu à altura: “Mudei de ideia, sim. E vou continuar a mudar enquanto estiver pensando”.
Conclusão
Só os que pensam mudam de ideias. Como a maioria recusa-se a pensar, é provável que continuemos vivendo no Brasil com as mesmas ideias equivocadas, cujos vergonhosos resultados estão demonstrados em números que não deixam mentir, como os do quadro estatístico no rodapé, que registra um crescimento vergonhoso da nossa renda per capita, nos últimos dez anos.
O Brasil, diante do seu potencial, apresenta-se como um fiasco econômico aos olhos do mundo — olhos menos viciados que os nossos. É imperativo retirar o véu que obnubila a visão dos eleitores e os impede de perceber que nosso subdesenvolvimento decorre da persistência de um populismo estatizante já superado.