A revolução cultural silenciosa, a questão identitária e a hegemonia da esquerda

15 fevereiro 2025 às 21h21

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Não são poucos os livros que tratam da atual revolução cultural. Outras épocas na história da humanidade, que provocaram mudanças radicais sociopolítica-econômicas, também foram registradas em livros.
“O Capital”, do alemão Karl Marx (1818-1883), provocou uma revolução cultural ao questionar (e explicar) o capitalismo, baseado na propriedade privada, na liberdade individual e na economia de mercado. A proposta comunista de economia centralizada — propriedade só estatizada e da supremacia do social sobre as vontades individuais — provocou muitas revoluções com mortes (cerca de 30 milhões na União Soviética e 70 milhões na China).
Os “Cadernos do Cárcere”, de Antonio Gramsci, filósofo comunista italiano, revolucionou a cultura vigente com uma estratégia (marxista, na sua variante gramsciana) de tomada pelo poder não pela força, mas por uma ação cultural.
A revolução cultural gramsciana concentrou-se (e concentra-se) em converter aos ideais comunistas os formadores de opinião. Os intelectuais dos partidos de esquerda operam para cooptar os universitários, intelectuais dos meios de comunicação e os políticos para o ideal socialista.

As massas seriam convertidas pelos comunicadores com uma retórica acessível ao nível do seu despreparo académico. Os resultados foram os melhores. Os partidos socialistas tornaram-se uma forte força nas eleições mundo à fora .
Um evento prático fez um estrago no proselitismo socialista. A queda do muro de Berlim (1989), com a falência da URSS, que abriu ao mundo os horrores do comunismo. E, também, seu fracasso como sistema econômico.
O capitalismo — propriedade privada, liberdade individual e a economia de mercado — tinha aniquilado o comunismo.
Francis Fukuyama, o filósofo americano, precipitou-se cantando vitória no seu famoso livro “O Fim da História”, que previa só existir um modelo vigente — a democracia liberal.
Ledo engano. Os socialistas reagiram reorganizando-se. O Fórum de São Paulo, iniciativa do cubano Fidel Castro e do brasileiro Lula da Silva, tornou-se uma referência de união e de difusão de ideias para os partidos políticos de todo o mundo.
Sem dúvida, os socialistas estavam sendo bem-sucedidos na revolução cultural no mundo subdesenvolvido. Pouco era divulgado ao trabalho de catequese desenvolvido pelos comunistas nos Estados Unidos.

A catequese comunista nos EUA foi desvendada no livro “Revolução Cultural Silenciosa” (Avis Rara, 352 páginas, tradução de Carlos Szlak), de Christopher F. Rufo. Neste texto de leitura fácil, uma de história social muito bem contada, aprende-se o quanto e como a nação americana, tida como líder mundial do capitalismo, tem a sua cultura sendo minada por uma revolução cultural socialista.
Surpreende na leitura saber a eficácia da ação dos adeptos do comunismo nos EUA. Surge como influenciador o filósofo alemão Herbert Marcuse (1898-1979), que foi seguido por diversos ativistas inclusive pelo comunista brasileiro Paulo Freire (1921-1997), que influenciou a educação com a sua Pedagogia dos Oprimidos.
É sabido que às massas não são acessíveis às teorias abstratas. Elas reagem ao prático e aos resultados de curto prazo. A fim de atender a estas características os estrategistas desenvolveram conceitos que, agora arraigados na sociedade, emergiram de uma fusão astuta entre marxismo e ideologia identitária, vulgarmente identificada como Agenda Woke¹, que estimula a inveja, a revolta e o sentimento de vingança das minorias — sentimento latente nos “oprimidos”.
Segundo Christopher Rufo, “essas ideias subverteram o conceito de igualdade de oportunidades, trocando-o pela busca por igualdade de resultados; enfraqueceram os direitos individuais em favor das identidades de grupos”.
As grandes lideranças dessa revolução foram Herbert Marcuse, Angela Davis, Paulo Freire e Derrick Bell, que merecem cada um deles um capítulo do livro. É surpreendente na leitura constatar a influência das ideias e as suas consequências no país líder do mundo.
Questão identitária: objetivo é alcançar as minorias
Em linguagem prática, a estratégia da ideologia identitária foi alcançar as minorias, que se sentiam inferiorizados na sociedade: os negros, os pobres, as mulheres… Ou os sensíveis às ameaças: catástrofe ecológica, densidade demográfica, identidade de gênero.
Explorando ideias eleiçoreiras com base na desigualdade. Pois tudo era consequência, não do mérito, mas de uma injustiça social, que seria corrigida no comunismo. Neste todos são iguais…em teoria, pois não foi a sua prática nos países comunistas.
O presidente da Argentina, Javier Milei, líder mundial da liberdade, consciente da importância da batalha cultural, com exemplo inquestionável, levanta o caso do Chile. Diz ele: “A reforma do Estado feita no Chile, ainda que tenha elevado o país à melhor renda per capita da região e tirado milhões da miséria, passada a fase revolucionária, retornou ao socialismo que a tinha empobrecido”.
Reafirma Javier Milei a sua convicção de que não basta reestruturar o governo, sanear as finanças, se não se vencer a batalha cultural.
Uma contrarrevolução está em curso. Os adeptos da democracia liberal, na atual contrarrevolução, devem convencer as pessoas de que não há substituto para os valores da democracia casada com o capitalismo.
O socialismo só produziu no mundo até agora mortes, miséria e injustiça. Foi a revolução capitalista que tirou o mundo da miséria e da opressão.
Leiam a obra “Revolução Cultural Silenciosa — Como a Esquerda Radical Assumiu o Controle de Todas as Instituições” para vacinar-se contra o canto da sereia dos movimentos identitários, Agenda Woke, com a proposta de inclusão, diversidade e equidade, construídas para atrair os que se sentem oprimidos, não para libertá-los, mas para tomar o poder.
Nota
¹ O uso do termo “woke” surgiu na comunidade afro-americana. Originalmente, queria dizer “estar alerta para a injustiça racial”. Um movimento da esquerda com objetivo político.