Em outubro deste ano, o instituto Genial/Quaest divulgou um levantamento que revelou as maiores preocupações do brasileiro atualmente. São muitas, claro. Afinal, o cidadão médio parece já nascer com uma armadura natural para toda sorte de adversidades possíveis no país, sobretudo aquelas oriundas do Poder Público e da má gestão que possa vir dele. A pesquisa verificou, porém, uma questão campeã de menções, aquela que, de forma majoritária, parece tirar o sono do brasileiro à noite: a segurança pública.

Segundo a pesquisa, a violência passou a ser a principal preocupação de 30% da população, o que representa uma alta em relação ao mês de julho deste ano, quando o tema liderava para 24% dos entrevistados. A pauta da segurança pública supera, inclusive, outras questões que estão constantemente no centro de debates, como problemas sociais (18%), economia (16%), corrupção (14%) e saúde (11%).

O levantamento do instituto, sem sombra de dúvidas, não passa despercebido aos olhares políticos e deve ser uma das, senão a, pautas maiores das eleições de 2026. Em tempos de megaoperações, como a do Rio de Janeiro, que resultou em mais de 100 mortos, o PL Antifacção e a PEC da Segurança Pública, ainda em tramitação no Congresso, ganhará destaque nos debates, e na percepção do eleitor aquele que surgir trazendo não só promessas de soluções, mas exemplos práticos de como essas propostas podem, de fato, surtir efeito.

Em Goiás, dois nomes que devem figurar nas urnas no ano que vem desfrutam da condição de poder mostrar o que efetivamente fizeram pela segurança pública. Um deles é o atual governador e pré-candidato à presidência da República, Ronaldo Caiado, que, além de se lançar na corrida ao Planalto, bancará a candidatura de seu vice, Daniel Vilela, ao Palácio das Esmeraldas, numa sinalização de continuidade de seu governo e de suas políticas.

Caiado está em seu segundo mandato como governador. No segundo, foi reeleito em primeiro turno. Logo, números e dados não faltam para mostrar sua política de segurança pública.

O outro é o ex-governador do Estado, Marconi Perillo, do PSDB. Anos depois de ser preso em uma operação de combate à corrupção, em 2018, e de sua última derrota eleitoral, em 2022, Perillo lançou sua pré-candidatura e tem trabalhado para ser o candidato do PSDB ao governo de Goiás em 2026. O tucano foi governador de Goiás por quatro vezes. Logo, também não faltarão dados para sustentar suas propostas para a segurança.

Mas segurança pública, mesmo sendo o assunto de maior atenção e preocupação da população, como nos mostram as estatísticas, será um tema do qual Marconi Perillo deve passar longe e evitar a todo custo. Isso porque os dados de seu governo, comparados com o atual, revelam que sua política para a área em Goiás… fracassou estrondosamente.

Vamos aos números. Para fins de uma comparação justa, serão usados dados da mesma fonte, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, documento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que compila, anualmente, estatísticas de diversas áreas da segurança de todo o país e por estado. Para o governo Marconi, foi escolhido o ano de 2017 (com dados de 2016), o terceiro ano do quarto mandato do então governador tucano. Para Caiado, foi selecionada a edição deste ano, 2025 (com dados de 2024), também o terceiro ano de seu segundo mandato.

Em 2016, na gestão Marconi, conforme o Anuário, Goiás registrou, em números absolutos, 2.491 crimes violentos letais intencionais. Em 2024, na gestão Caiado, esse número foi de 960, número 61,4% menor. Quanto ao crime específico de latrocínio, o Anuário de Segurança apontou a ocorrência de 186 no ano de 2016. Em 2024, a quantidade desse crime caiu para 18. Sim, uma queda de 90,3%.

Já no quesito roubo de veículos, o estado registrou 17.181 casos em 2016. Na gestão Caiado, em 2024, esse número foi de 756. Crimes com a classificação de roubo de carga ficaram em 702 em 2016. Já em 2024 esse número caiu para 22.

Quando restringimos os dados à capital, a tendência de queda é a mesma. De acordo com o Anuário de Segurança Pública, Goiânia registrou, em 2016, 439 casos de homicídio doloso e 14 de lesão corporal seguida de morte, ambos os crimes enquadrados como Crimes Violentos Letais Intencionais. Já em 2024, foram 132 casos de homicídio doloso e apenas 3 de lesão corporal seguida de morte.

Em absolutamente todos os quesitos analisados por esta coluna, latrocínio, roubo de veículo, roubo de carga, lesão corporal seguida de morte e homicídio doloso, a queda de uma gestão para outra foi vertiginosa. Não é possível, também, ignorar os famigerados rankings de violência divulgados pelo Anuário de Segurança Pública.

Em 2017, dados da 11ª edição do anuário apontaram Goiás como o 8º estado mais violento do Brasil, com uma taxa de 43,8 mortes violentas por 100 mil habitantes. Em 2025, dados da 19ª edição do anuário colocaram o estado de Goiás como o 19º mais violento, com uma taxa de mortes violentas de 15,1, uma queda de 11 posições em se tratando de violência.

Os números, por si só, escancaram um contraste difícil de ser relativizado entre duas administrações e ajudam a explicar por que a segurança pública tende a dominar o jogo eleitoral em 2026. Ambos os políticos, Caiado e Marconi, têm um histórico de gestão para apresentar. A diferença é que, enquanto um dispõe de indicadores que sustentam seu discurso sem precisar de malabarismos, o outro se vê diante de estatísticas que, quando colocadas à luz do dia, funcionam menos como trunfo e mais como lembrete incômodo e vergonhoso do que não deu certo.

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