De ativistas de grupos de extrema direita, defensores de golpe militar com o presidente no poder ou parlamentares radicais, se der problema para Bolsonaro a pessoa será abandonada

Alguém se lembra do ex-ministro da Educação, o olavista Abraham Wein­traub? Zarpou para os Estados Unidos assim que o Supre­­mo Tribunal Federal (STF) começou a investigar seus atos antidemocráticos, como a defesa do fechamento da Corte e a prisão dos “vagabundos” que a compõem. Curiosamente, se aproveitou do passaporte diplomático para entrar em solo norte-americano quando brasileiros estavam proibidos de desembarcar na terra do então presidente Donald Trump.

Ex-assessor parlamentar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Fabrício Queiroz precisou se esconder no escritório do advogado Frederick Wassef na icônica e interiorana Atibaia (SP). Bastaram os relatórios do antigo Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras] revelarem as suspeitas de que Queiroz chefiava um esquema de rachadinha nos salários dos funcionários dos gabinetes de Flávio na Assembleia do Rio e de Jair na Câmara dos Deputados que a família poucas vezes tocou no nome do amigo para defendê-lo publicamente.

O mesmo ocorreu como Allan dos Santos, do site de fake news bolsonaristas Terça Livre. Assim que o cerco das investigações rondou o blogueiro governista, nada se ouviu nos pronunciamentos do presidente da República a favor do servidor do Palácio do Planalto, que partiu para os Estados Unidos. Também viveu situação parecida a extremista Sara Giromini, que foi abandonada à sua própria sorte depois de liderar um ataque com fogos de artifício ao prédio do STF, ser presa e depois monitorada por tornozeleira eletrônica.

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Quem espera de Jair Bolsonaro uma defesa, qualquer que seja, quando se coloca publicamente a extrapolar o direito à liberdade de expressão para ameaçar outros poderes do Brasil que terá no presidente da República um defensor incondicional, pode esperar sentado. O mais novo abandonado pelo chefe do Executivo foi o deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), que foi preso em flagrante enquanto atacava ministros do STF e ameaçava os membros do Supremo em uma live na noite de terça-feira, 16.

Daniel, conhecido como o “grande idiota” pelos colegas de Câmara, acreditou que estaria protegido por Bolsonaro para falar o que bem entendesse. Inclusive defender a invasão e o fechamento do Legislativo e do Judiciário por meio de um golpe militar. O que o deputado, eleito no Rio em 2018 por quebrar placas em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL), não entendeu é que Bolsonaro só se preocupa com a sua sobrevivência política e a proteção jurídica de seus filhos.

Aquilo e aqueles que passam a representar uma ameaça à sua permanência no cargo são prontamente abandonados. Sem qualquer remorso. Que o episódio Daniel Silveira sirva de lição aos parlamentares extremistas da base bolsonarista. O presidente não irá despender um segundo para tentar proteger quem causar desgastes com o STF ou o Congresso.