COMPARTILHAR

O mundo está prestes a ver o início uma corrida pelo manganês, níquel e cobalto no assoalho oceânico. Estes e outros minerais são úteis para a fabricação de veículos elétricos, painéis solares e mais itens na indústria de tecnologia. Entretanto, cientistas alertam que ainda sabemos muito pouco sobre os danos que a mineração em águas profundas pode causar aos frágeis ecossistemas do oceano.

“O mar profundo não pode se tornar o Velho Oeste”, disse o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, em uma reunião da ONU sobre oceanos em junho. O Secretário-Geral faz referência à corrida do ouro, no meio do século 19, quando 300 mil pessoas do restante dos Estados Unidos foram fazer garimpo na Califórnia.

Esse cenário está mais próximo do que nunca. Em julho, delegados do órgão da ONU encarregado da administração das águas internacionais se reúnem para discutir a emissão das primeiras licenças de mineração em águas profundas. Até o momento, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos emitiu 31 licenças de exploração para empresas que exploram o fundo do mar em busca de prováveis ​​prospectos, mas nenhuma ainda para a remoção efetiva de minério.

Neste ano, pela primeira vez, um pedido de exploração em águas internacionais está realmente em pauta. Esse pedido está vinculado a ações recentes dos Estados Unidos. Em abril, o presidente americano, Donald Trump, emitiu uma ordem executiva para agilizar a concessão de licenças de mineração em águas profundas para empresas sediadas nos EUA.

No dia seguinte, a The Metals Company, sediada no Canadá e com uma subsidiária nos EUA, solicitou à NOAA a primeira licença de mineração em águas profundas do mundo. A NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) é um órgão do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Normalmente, a organização intergovernamental consultada é a ISA (‘Autoridade Internacional do Solo Oceânico’, International Seabed Authority).

Gerard Barron, CEO da Metals Company, expressou frustração em março, em uma carta aberta publicada no site da empresa, afirmando que, após anos de disputas, os estados-membros da ISA ainda não chegaram a um acordo sobre as regulamentações para a mineração no fundo do mar, necessárias para a emissão de licenças. “Estamos cada vez mais preocupados com a possibilidade de a ISA não adotar as regulamentações de mineração em tempo hábil e que as regulamentações possam ser redigidas de forma a impedir a operação de empresas comerciais”, escreveu Barron.

Se os Estados Unidos burlarem a autoridade da ISA para emitir licenças de mineração no fundo do mar, isso “violaria o direito internacional e minaria o princípio do fundo do mar como patrimônio comum da humanidade”, disse a Secretária-Geral da ISA, a oceanógrafa brasileira Letícia Reis de Carvalho. A ISA também é responsável por proteger esses ambientes de águas profundas — e ainda não existe uma estrutura regulatória para isso.

Profundo desconhecido

Chrysomallon squamiferum, primeira espécie em perigo de extinção devido à perspectiva de mineração em alto mar | Foto: Reprodução / Wikimedia Commons

Apesar de dois terços do planeta serem cobertos por águas oceânicas profundas, menos de 0,001% foi observada ao longo de décadas de exploração em alto mar. O oceano profundo já foi a tábua de salvação da Terra de inúmeras maneiras: ele sequestra dióxido de carbono da superfície, ajudando a regular o clima do planeta; a ressurgência das águas oceânicas profundas traz nutrientes para a superfície, alimentando o fitoplâncton que gera até 80% do oxigênio da Terra; os frutos do mar alimentam um quinto da população mundial a cada ano; e as descobertas de compostos químicos de esponjas marinhas e outros organismos têm sido a fonte de tratamentos de diversas doenças.

Em 2001, um curioso caracol chamado Chrysomallon squamiferum foi encontrado vivendo perto de fontes hidrotermais profundas, coletando sulfeto de ferro expelido por essas fontes para incorporá-lo à sua concha. Em 2015, o C. squamiferum foi adicionado à Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza — a primeira criatura de águas profundas a ser considerada em perigo de extinção devido à perspectiva de mineração em alto mar.
Com informações de Science News.

Leia também: Conheça Alto Horizonte, a cidade de Goiás que mais produz cobre no Brasil

Terras raras tem potencial multibilionário no Brasil e Goiás aparece como polo estratégico, diz economista