Se Moro desistir, só faltará Ciro Gomes abrir mão para eleição ter só um turno

31 março 2022 às 11h27

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Com a saída do ex-juiz do páreo ao Planalto no mesmo dia em que João Doria também tomou a mesma decisão, a bola está com o pedetista

O ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, decidiu deixar o Podemos e se filiar ao União Brasil. A informação foi dada na manhã desta quinta-feira, 31, pela colunista Bela Megale, em seu blog no jornal O Globo.
O dia já havia começado com a notícia de que o governador João Doria (PSDB) tinha desistido de concorrer à Presidência e deverá seguir seu mandato por São Paulo até o fim.
Há duas considerações a serem feitas a partir dessas novidades – algo que, de alguma forma, estava no horizonte com o prazo final para filiações partidárias e desincompatibilizações. Uma acena para o copo meio cheio, a outra para o copo meio vazio.
A do copo meio cheio: com as desistências, a terceira via parece caminhar para o afunilamento de suas candidaturas, o que, em tese, fará com que um dos nomes ganhe musculatura em termos de intenções de voto.
A do copo meio vazio: o quadro mostra pré-candidatos caindo “na real” de que a eleição atual é plebiscitária e vai decidir apenas se Jair Bolsonaro (PL) deve ou não continuar à frente da Presidência.
Como já existe um favorito destacado entre os adversários do atual mandatário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o duelo já está estabelecido.
Falta agora apenas um nome se “convencer” de que a luta pelo sucesso na corrida ao Planalto fora da dicotomia Lula versus Bolsonaro é inglória: Ciro Gomes (PDT).
Como não há, da parte de Ciro, nenhuma preocupação urgente em se desincompatibilizar (não ocupa nenhum cargo público) nem de buscar outra filiação (parece bem acomodado no PDT), não é uma decisão que precise tomar agora, ao contrário de Moro e Doria.
É bem verdade também que o cearense “naturalizado” (Ciro nasceu na paulista Pindamonhangaba, aliás como também o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), que deve ser o vice de Lula) não integra de fato o rol dos nomes da terceira via, já que foge do espectro ideológico dos demais: suas posições em relação à forma de lidar com a economia e as reformas vai de encontro às dos demais postulantes.
Ciro, portanto, não seria um quadro possível de unificar essas forças “nem Lula nem Bolsonaro”. Uns até o veem como mais radical à esquerda que o próprio petista.
A tendência é que, com as desistências na centro-direita, os votos que ficarão “disponíveis” migrem muito mais para Bolsonaro do que para Lula, o que poderá ser verificado nas próximas pesquisas.
Dessa forma, o candidato do PDT teria seu “passe” valorizado em uma negociação com o PT, já que os votos de seus simpatizantes, de centro-esquerda, reequilibrariam esse tabuleiro a favor de Lula.
Por tudo o que tem acontecido desde 2018 entre Ciro e os petistas, será uma conversa muito complicada. Mas, na política, o impossível não existe.
Pelo menos neste momento, parece estar nas mãos de Ciro Gomes o destino de o Brasil ter ou não segundo turno.