Mamíferos da Bacia do Rio Araguaia: riqueza escondida no coração do Brasil

23 agosto 2025 às 21h00

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Por Wellington Hannibal, Hermes Willyan Parreira Claro, José Silonardo Pereira, Carolina Fontoura,
Ana Claudia Bernardes Dias, Carolina Alves, Lucas Sampaio, Isabelle Carvalho Pimenta
Especial para o Jornal Opção
O Brasil abriga uma das faunas de mamíferos mais ricas do planeta, com aproximadamente 785 espécies reconhecidas, distribuídas em muitos grupos diferentes. Um passo fundamental para o avanço do conhecimento sobre essa mastofauna regional é a elaboração de listas de espécies por unidade federativa, as quais mobilizam redes de pesquisadores e instituições voltadas ao inventário da biodiversidade local, e já estão publicadas as listas de mamíferos para os estados de Goiás e Mato Grosso. Mas é preciso ampliar ainda mais essa amplitude geográfica. Nesse sentido, a Bacia do Rio Araguaia é uma das mais importantes do Brasil, atravessando os Estados de Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins. Abrangendo áreas de Cerrado e Amazônia e criando conexões entre esses biomas, essa região abriga uma rica biodiversidade — muito dela ainda pouco conhecida pelo grande público, mas já ameaçada de extinção!
Foi para desvendar parte dessa biodiversidade que pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Biogeografia de Mamíferos da Universidade Estadual de Goiás (UEG) integraram a equipe do programa “Araguaia Vivo 2030” (@araguaiavivo), financiado pela FAPEG e executado pela TWRA, e do Programa “PPBio Araguaia” (@ppbio.araguaia) financiado pelo CNPq, realizaram expedições ao longo da bacia entre 2024 e 2025. Nosso objetivo: registrar os mamíferos que vivem nessa região e ajudar a entender como protegê-los melhor.
Expedições no Alto e Médio Araguaia
Até o momento, as coletas ocorreram em duas partes distintas do rio: o Alto Araguaia (em Goiás e Mato Grosso) e Médio Araguaia (entre Goiás, Mato Grosso e Tocantins). Percorremos diferentes tipos de vegetação nativa, como matas de galeria, cerradões e áreas campestres, inseridas em meio a fazendas, plantações e cidades.

Para encontrar os animais, usamos diferentes estratégias: armadilhas específicas para a captura de pequenos mamíferos como ratos e gambás, armadilhas fotográficas para flagrar espécies maiores, redes de neblina para morcegos e até rastreamento por pegadas, fezes e sons. Todo o material coletado foi encaminhado à Coleção de Mamíferos da Universidade Estadual de Goiás [CMUEG], que ajuda a conservar e estudar a fauna brasileira.

Mais de 40 espécies já registradas
O esforço já valeu a pena. No total, identificamos 41 espécies de mamíferos, distribuídas em 17 famílias e 9 ordens biológicas. Os grupos mais numerosos foram os roedores (capivara, cutia, paca e ratos do mato), os marsupiais (gambás, cuícas e catitas), os carnívoros (onças, cachorros-do-mato, quatis e iraras) e os artiodátilos (como veados e queixadas). Os marsupiais e pequenos roedores foram registrados principalmente pela captura nas armadilhas convencionais, enquanto os mamíferos de médio e grande porte foram registrados por meio das armadilhas fotográficas, como podemos ver nas imagens a seguir.
Entre os destaques estão espécies vulneráveis à extinção, como a onça-pintada (Panthera onca), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), a anta (Tapirus terrestris), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) e o queixada (Tayassu pecari). Essas espécies indicam que, mesmo pressionada por atividades humanas, a região ainda serve como refúgio para animais de grande porte.

O que aprendemos com os mamíferos do Araguaia
Este levantamento faz parte de duas grandes iniciativas de pesquisa e conservação no Araguaia, de modo que esses esforços ajudam a preencher lacunas de conhecimento sobre a fauna do Centro-Oeste, especialmente em regiões pouco estudadas do Cerrado e Amazônia. Os dados coletados podem orientar políticas públicas, criação de áreas protegidas e ações educativas voltadas à valorização da natureza local.
A fauna da Bacia do Araguaia é rica, diversa e cheia de espécies-chave para o equilíbrio dos ecossistemas. Esse trabalho mostra que, mesmo diante da expansão agrícola e da urbanização, ainda existem áreas que funcionam como abrigo para espécies ameaçadas. Preservar essa biodiversidade é preservar o próprio futuro do Cerrado e das populações que dele dependem. Conhecer os mamíferos do Araguaia é um passo importante nesse caminho.
Autores do artigo
Wellington Hannibal – Professor na Universidade Estadual de Goiás (UEG), pesquisador voluntário no “PPBio Araguaia” e no “Araguaia Vivo”
Hermes Willyan Parreira Claro – Doutorando em Ciências Ambientais (UFG), pesquisador voluntário no “PPBio Araguaia” e no “Araguaia Vivo”
José Silonardo Pereira – Doutorando em Biodiversidade Animal (UFG), pesquisador voluntário no “PPBio Araguaia” e no “Araguaia Vivo”
Carolina Fontoura – Mestra em Biodiversidade e Conservação (IF-Goiano), pesquisadora voluntária no “PPBio Araguaia” e no “Araguaia Vivo”
Ana Claudia Bernardes Dias – Doutoranda em Ecologia e Evolução (UFG), pesquisadora voluntária no “PPBio Araguaia” e no “Araguaia Vivo”
Carolina Alves – Doutoranda em Biodiversidade Animal (UFG), pesquisadora voluntária no “PPBio Araguaia” e no “Araguaia Vivo”Araguaia”
Lucas Sampaio – Graduando em Ciências Biológicas (UEG)
Isabelle Carvalho Pimenta – Mestranda em Biodiversidade Animal (UFG)