Pesquisadores brasileiros apresentam medicamento inédito que pode regenerar medula espinhal

10 setembro 2025 às 13h26

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Um medicamento desenvolvido no Brasil e considerado inédito no mundo foi apresentado nesta terça-feira, 9, em São Paulo. Chamado polilaminina, o fármaco é resultado de 25 anos de pesquisa da professora doutora Tatiana Coelho de Sampaio, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em parceria com uma equipe de biólogos. O composto é produzido a partir da placenta humana e mostrou potencial para regenerar a medula espinhal em pacientes com lesões que resultaram em paraplegia ou tetraplegia.
Durante os estudos experimentais, a substância foi aplicada diretamente na coluna de voluntários e apresentou resultados surpreendentes: oito pacientes tiveram recuperação parcial ou total dos movimentos. Entre eles, a atleta paralímpica de rugby Hawanna Cruz Ribeiro, que ficou tetraplégica após uma queda em 2017, relata ter recuperado até 70% do controle do tronco.
Outro caso é o de Bruno Drummont de Freitas, vítima de acidente de trânsito, que recebeu a medicação 24 horas após o trauma e afirma ter recuperado completamente os movimentos em apenas cinco meses. Veja o vídeo abaixo.
Segundo os pesquisadores, a polilaminina estimula neurônios maduros a rejuvenescerem, promovendo o crescimento de novos axônios, fibras responsáveis pela condução dos impulsos elétricos no corpo. O efeito foi comprovado em humanos e também em animais: cães com lesões espontâneas voltaram a andar e ratos apresentaram melhora em apenas 24 horas.
O projeto conta com investimento de R$ 28 milhões do laboratório Cristália, responsável pela produção do medicamento em sua planta de biotecnologia. A empresa já aguarda, há quase três anos, a autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para realizar um estudo clínico regulatório mais amplo, previsto para ocorrer no Hospital das Clínicas e na Santa Casa de São Paulo. A expectativa é que a liberação ocorra ainda este mês.
O que dizem os pesquisadores
Apesar do otimismo, a pesquisadora Tatiana Sampaio, em entrevista à Folha de São Paulo, pede cautela:
“Não vendemos ilusões, trazemos evidências. Os resultados não são iguais para todos. Quanto mais rápida a aplicação, melhores os efeitos. Ainda é preciso comprovar a segurança em humanos em larga escala.”
Inicialmente, o medicamento será testado em casos agudos, de até três meses após a lesão. Pacientes com quadros crônicos também demonstraram evolução durante os testes, mas esses casos devem integrar uma segunda etapa de pesquisa.

O neurocirurgião Hugo Sterman Neto, da Rede D’Or, lembra que as lesões medulares têm múltiplas causas, que vão de acidentes e quedas a doenças inflamatórias e tumores, e ressalta que a descoberta brasileira representa um avanço sem precedentes:
“Até hoje, não existia um método efetivo para regenerar o tecido nervoso da medula. Se comprovada em larga escala, a polilaminina pode transformar a vida de milhares de pessoas no mundo.”
O processo de patente internacional do medicamento já está em andamento, mas sua chegada ao mercado deve levar ainda alguns anos.
Para a comunidade científica, o anúncio representa uma esperança histórica: caso as etapas regulatórias sejam cumpridas, o Brasil poderá se tornar referência mundial no tratamento de lesões medulares.
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