Taxa de turismo mergulha Caldas Novas em crise e incerteza; entenda

17 setembro 2025 às 13h54

COMPARTILHAR
O turismo em Caldas Novas, uma das cidades mais visitadas do Brasil por suas águas termais, vive um ano de incertezas envolto no debate sobre a Taxa de Preservação Ambiental (TPA), também conhecida como “taxa de turismo”. Apesar de nunca ter sido efetivamente cobrada, a simples aprovação da lei e o anúncio da medida geraram repercussões negativas, provocando uma queda na movimentação de visitantes.
O prefeito reeleito, Kleber Marra (MDB), anunciou a revogação da taxa durante sua posse, no dia 1º de janeiro, mas a revogação ainda não foi votada pela Câmara Municipal, mantendo a insegurança sobre o futuro da medida.
Em entrevista ao Jornal Opção, o ex-vereador e engenheiro civil Gilmar Gonçalves reforçou que a taxa impactou diretamente o turismo local desde que foi anunciada. Segundo ele, “a partir do momento que foi anunciada essa taxa do turismo, o turismo caiu no município, a partir de janeiro para cá, ele teve uma queda. A gente vê tanto os comerciantes quanto a rede hoteleira reclamando que os turistas deixaram de vir para a cidade, de gastar aqui na cidade, então, teve esse impacto sim neste ano de 2025”.

O ex-parlamentar destacou que a lei foi votada em uma sessão extraordinária, sem audiência pública e sem debate com a sociedade. Para ele, a pressa na aprovação trouxe consequências severas. “Eu, como vereador à época, fiquei sabendo dessa taxa um dia antes da votação. Foi uma coisa feita do dia para a noite. Eu fui contra porque sabia que ia trazer um impacto negativo pro município, mas a maioria dos vereadores votaram a favor”, afirmou.
A rejeição à medida foi imediata. Turistas se manifestaram nas redes sociais e em entrevistas, declarando que não voltariam a Caldas Novas caso a cobrança fosse implementada. Segundo Gilmar, “milhares de depoimentos” circularam nas plataformas digitais, deixando clara a insatisfação do público. Essa pressão fez com que o prefeito, em sua posse, declarasse a revogação da taxa. Contudo, até o momento, a lei ainda segue em vigor formalmente, aguardando decisão da Câmara.
Para comerciantes e empresários locais, janeiro — mês considerado de alta temporada — registrou um dos piores desempenhos em anos. A rede hoteleira, corretores de imóveis e proprietários de apartamentos relataram cancelamentos de reservas após o anúncio da cobrança. “Inclusive teve muita gente, mas não foi pouca não, que realmente ligou aqui na cidade, e que já haviam fechado a vinda para cá e acabaram desfazendo. ‘Olha, eu não vou mais porque para pagar para entrar eu não vou na cidade’”, relatou o ex-vereador.
A indefinição em torno da revogação oficial da lei gera insegurança. Gilmar afirma que, apesar de o prefeito ter encaminhado um projeto de revogação, também chegou a declarar que a taxa seria “necessária para o município”, o que aumenta a desconfiança sobre os rumos da proposta. “A gente tá vendo que eles estão todos trabalhando para que essa taxa realmente permaneça”, completou.
Além do impacto imediato no turismo, a medida reacendeu questionamentos sobre a gestão pública local. Gilmar aponta que a prefeitura não apresentou estudos técnicos para justificar a cobrança ou avaliar se os prejuízos poderiam superar a arrecadação esperada. “Será que o número de turistas que vai deixar de vir não vai impactar mais no caixa do município do que o que seria arrecadado?”, questionou Gilmar.
Outro ponto levantado foi o argumento ambiental utilizado para legitimar a taxa. Para o ex-vereador, a cidade não demonstrou capacidade de cuidar de áreas como a Serra de Caldas, de gestão estadual, ou do Lago Corumbá, que é cercado por propriedades privadas. “Agora eu não entendo o que é esse meio ambiente que o município quer defender, quando a gente vê esgoto correndo a céu aberto na cidade”, criticou.
Caldas Novas, que tem cerca de 104 mil habitantes, depende fortemente do turismo como motor econômico. Setores como a construção civil, comércio, hotelaria e serviços vivem diretamente do fluxo de visitantes. Contudo, Gilmar Gonçalves, morador da cidade há mais de 30 anos, ressalta que, em 2025, o movimento caiu de forma significativa, impactando obras, negócios e empregos. “A construção civil realmente diminuiu muito. Esse ano não vemos mais grandes construções, e a cidade depende disso”, avaliou.
O ex-vereador também chamou atenção para fragilidades da cidade em infraestrutura básica, especialmente na saúde, que podem afastar parte dos turistas, sobretudo os mais idosos. “A cidade não tem uma UTI própria, não tem centro cirúrgico. Uma cidade turística com mais de 100 mil habitantes não ter isso é muito grave”, afirmou.
Apesar da crise, os grandes empreendimentos hoteleiros ainda mantêm melhor desempenho em relação ao pequeno comércio, já que possuem estrutura própria de divulgação e atração de clientes. Contudo, até mesmo resorts passaram a reclamar do movimento fraco neste ano, segundo Gilmar.
A desigualdade de acesso também foi mencionada. Para ele, a maioria da população local, que recebe de um a três salários mínimos, não consegue frequentar os grandes resorts, que permanecem voltados ao público de fora da cidade. “Os moradores normalmente não têm acesso. O turista de outros estados é quem ocupa a maioria dos leitos”, explicou.
Segundo Gilmar, enquanto a taxa de turismo segue sem desfecho definitivo, outras cidades próximas aproveitam a situação para atrair visitantes, divulgando que não cobram taxa de turismo.
A expectativa é que a Câmara Municipal vote até o fim deste mês o projeto de revogação da TPA. Até lá, a incerteza continua rondando comerciantes, hoteleiros e trabalhadores que dependem do setor para sobreviver.
Leia também:
Goiás tem aumento de reclamações trabalhistas e pode chegar a mais de 80 mil ações em 2025
Goiás registra aumento de 1,2 mil% em apreensão de cabos furtados em 2025